Poucas horas depois que comprou algumas roupas para o filho que teve um estirão de crescimento nos últimos meses, Nicole decidiu fazer uma surpresa para Alexander no trabalho.
Mesmo que o filho estivesse acostumado com o prédio do hospital, Alex nunca havia entrado na Administração. Nicole conversava com uma das recepcionistas, quando o filho largou a mão e correu.
― Dinda, saudades!
― Agora você só quer saber do seu pai. ― Jenny reclamou.
― Não dinda, eu sinto a sua falta.
― Eu também! ― Abraçou-a forte. ― A minha mãe está esperando nenê. ― Alex falou perto do ouvido de Jenny.
― Meus parabéns, Nicky!
A obstetra se aproximou de Nicole que apertou o botão do elevador e colocou o afilhado no chão.
― Precisamos marcar a primeira consulta.
― Quem te contou?
― Fui eu, mãe!
― Fofoqueiro da dinda.
Jenny esfregou a mão no cabelo do afilhado.
― Você ficou sabendo da festa surpresa do Alexander? Eu recebi o convite na última semana.
A porta do elevador abriu e elas entraram com a criança. Jenny apertou o botão para o quarto andar.
― Não! Acredito que Alexander também não saiba, nós planejamos uma viagem no aniversário dele. ― Nicole tocou o botão. ― Ele odeia festas surpresas.
― Não avise a ele! Vai ser feliz, amiga! ― Jenny saiu do elevador e acenou para o afilhado antes da porta se fechar.
Nicole cumprimentou os funcionários que encontrou pelo caminho até chegar à sala do diretor-executivo. Pediu para que a secretária anunciasse a sua presença. Logo que Annie tirou o telefone do gancho, Alexander abriu a porta e pegou o filho no colo.
― Surpresa, papai! Viemos te buscar para almoçar.
― Chegaram na hora certa! Eu já estava saindo pra comer alguma coisa.
Nicole deu o braço a Alexander que carregava o filho no colo e o acompanhou até o elevador.
― Doutor Bittencourt. ― Annie ajeitou o casaquinho branco sobre vestido de manga preto na altura do joelho, quando os alcançou. ― Eu preciso falar com o senhor.
― Podemos falar mais tarde, Annie! Se for alguém que chegou de surpresa, então diga que eu fui almoçar.
― O chefe da segurança ligou, tem uma mulher que insiste em falar com o doutor, ela disse ser da família. ― A secretária sorriu de boca fechada ao olhar para Nicole. ― Eles só vão deixar subir se o doutor permitir.
― Mande o chefe da segurança resolver. ― Entrou com a família no elevador. ― Agora eu vou almoçar! ― Ajeitou os óculos antes de a porta fechar;
Ele beijou a testa de Nicole, assim que chegaram no andar térreo. De longe, ouviam o sotaque francês na voz apreensiva.
― Essa mulher está nervosa! ― O olhar amendoado era indulgente. ― Eu vou ver se ela precisa de alguma coisa.
― Nicky, não! ― A segurou pelo braço. ― Deixa pra lá! O segurança resolve.
Tentou desviar da confusão, mas não conseguiu, o rosto empalideceu. Os olhos claros fitavam em Marcelly, ficou sem reação.
― Papa! ― A menina de cachos dourados abraçou uma das pernas de Alexander.
― Você está perdida? ― Nicole se abaixou.
― Não! ― Marcelly negou com a cabeça.
― Isso só pode ser culpa da Isabella. ― O tom era feroz.
Sem saída, Alexander colocou Alex no chão ao lado da mãe e coçou de leve a parte de trás da cabeça, o couro cabeludo pinicava, não tinha para onde fugir. A mulher alta e franzina avistou Alexander mexendo nos óculos.
― Nicky, volte para minha sala e me espere lá! Vou resolver isso.
― Temos que encontrar a mãe da cachinhos dourados.
Abaixada na altura da menina, Nicole usou um lenço para enxugar as lágrimas da menina. Aqueles olhos tão expressivos lembravam alguém que conhecia.
― Você encontrou seu papa? ― Josephiné olhou para Alexander. ― Olá, ma chéri!
― O que você faz aqui, Josephiné?
― Nossa filha estava sentindo sua falta e queria te ver.
― O que está acontecendo aqui? ― Nicole levantou e segurou o filho pela mão.
― Pardón, Nicole, esqueci de me apresentar. ― Voltou a atenção para a mulher morena, com um vestido verde florido, e a encarou. ― Je m'appelle Josephiné.
A jovem francesa parecia desfilar com seus 1,70 m de altura e tinha um grande senso de proporção que ia do sapato até os detalhes do cabelo e da maquiagem.
― Prazer, Josephiné! Como você sabe meu nome?
― O Alexander sempre falava de você.
― Já chega, Josephiné! ― A voz firme interveio.
― Quando você vai voltar para casa? ― Marcelly puxou a calça de Alexander.
As lágrimas ardiam nos olhos de Nicole quando esquadrinhou o olhar de Alexander para Josephiné. Embora seu coração estivesse em pedaços, não fez escândalo, avaliou a situação em silêncio.
― Nicky, por favor! ― pediu em tom baixo. ― Confie em mim! Daqui a pouco nós conversamos. Me espera na minha sala.
Sem palavras, Nicole mexeu a cabeça e se afastou com o filho. Ver Alexander pegar Marcelly no colo e se afastar ao lado daquela mulher que caminhava com brio fez o paraíso desabar embaixo dos seus pés.
Alexander seguiu até a porta principal do prédio. Josephiné o acompanhou e reclamou do sumiço dele, mas de forma contida para não perder a classe em público. Logo que o táxi se aproximou, Alexander abriu a porta.
― Vai para o hotel com sua mãe! ― Ajeitou o laço azul no cabelo da menina. ― Amanhã eu mando o motorista te buscar. Vou levar você para conhecer o seu vovô e a sua vovó.
Após abraçar Marcelly, ele voltou a passos largos para o hospital sem olhar Josephiné. A visita surpresa atrapalhou todos os planos. Saiu do elevador e se apressou até a sala. A porta ainda estava trancada do jeito que ele deixou.
― Annie, onde está a minha esposa?
― Eu não a vi desde que vocês saíram para almoçar.
― Que merda! Eu falei pra ela me esperar aqui.
Ao destrancar a porta, pegou o telefone e ligou pra Nicole, o celular estava desligado. O desespero crescia no peito de Alexander, bateu a porta e saiu sem falar com a secretária. Seguiu apressado para o estacionamento e correu para o carro. Ligou para casa e pediu à governanta que olhasse os quartos, todavia não gostou da resposta negativa. Segundo a empregada, Nicole saiu de casa pela manhã e não retornou.
― Que droga!
Deu um tapa na buzina do carro para apressar o motorista do automóvel preto que andava a 65 km/h à frente, a pressa para encontrá-la deturpou a emoção.
Saiu do carro, quando o motorista à frente encostou. Entrou em uma discussão calorosa, no entanto, a briga foi interrompida por um guarda de trânsito que acalmou os ânimos.
Dirigiu pela Avenida Radial Oeste até a Avenida Presidente Vargas. Em cada sinal fechado, ele insistia em ligar, todas as chamadas iam direto para a caixa de mensagens. O último lugar em que foi procurá-la foi na antiga casa do subúrbio. Alexander estava disposto a encarar as consequências da omissão.
Logo que entrou no quarto vazio, Alexander arremessou todos os objetos que viu sobre as cômodas contra a parede. Parou diante do espelho, observou a imagem refletida e socou.
A luz do lustre iluminava uma estranha expressão na cara fechada de Alexander. Era a vigésima vez que ele ligava para Nicole em vão. Estava deitado segurando a mão direita com o pedaço da camisa que rasgou para conter o sangramento.
― Doutor Alexander! ― As batidas insistiam.
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