Só Minha! Volume 1 da Trilogia Doce Desejo romance Capítulo 22

Rio de Janeiro, Brasil.

Setembro de 2010.

Cinco anos antes, Sophie Bittencourt saiu do elevador e caminhou de forma impecável em seu salto scarpin em um monograma dourado. Era o quinto dia consecutivo que ela foi à ala da UTI para visitar Nicole e se informar sobre o quadro da paciente.

As paredes cinzas traziam um tom tedioso ao ambiente frio dos corredores. Ela ajeitou o terninho preto e acenou com a cabeça para a recepcionista que a cumprimentou como de costume. Seguiu pelo intocável piso vinílico branco.

As mãos engelhadas tocaram na maçaneta do quarto 7B, fechou a porta assim que viu o jovem de cabelos dourados aproximar dos circuitos do aparelho que mantinham Nicole viva.

― O que você faz aqui?

Uma senhora de cabelos grisalhos na altura do pescoço, ajeitou o blazer do terninho preto ao atravessar a porta.

― Responda! ― Sophie se impôs com uma seriedade hostil.

― Eu só queria saber se ela estava bem. Aproveitei para verificar o misturador e as válvulas reguladoras de pressão. ― Ele se afastou do display do ventilador pulmonar.

― Ricardo está otimista quanto à recuperação da Nicky, logo ele vai suspender a sedação.

― Ainda há pouco falei com Alexander pelo telefone, juro que vi uma lágrima no rosto dela e logo em seguida a mão dela se moveu.

― Não conte nada sobre o acidente para o meu neto, entendeu? ― Abriu a janela. ― Você não pode vir aqui de novo. É muito arriscado! A Louise viu você correndo pela escada. O delegado conversou com ela, mas eu a convenci que você estava assustado e correu.

― Eu não fiz isso com a Nicky! ― Ele apontou para o corpo inerte sobre a cama hospitalar. ― Fiz apenas o que a senhora pediu. Eu estava disposto a fazer tudo por ela, mas não adiantou. Ela realmente ama o seu neto. ― Marcello olhou o rosto imóvel de Nicole iluminado pela luz halógena.

― Fala baixo! ― cochichou.

Sophie se sentou na poltrona de couro perto de uma pequena mesa com um jarro de tulipas.

― Você é o único suspeito até o momento, uma das empregadas escutou quando você alterou a voz e segurou forte o braço da Nicky, mas eu já cuidei de tudo. Joanna, a tia dela ― fez um gesto com a mão na direção da cama ―, não se pronunciou sobre o acidente.

― Eu me exaltei um pouco, mas eu nunca a machucaria. Não dessa forma! ― Marcello contraiu os lábios. ― Eu queria que ela fosse minha, mas ela não entende o que eu sinto. ― Ajeitou o colarinho da camisa branca. ― Nicky foi para seu quarto depois que eu me excedi e eu não a vi mais.

― Chega, Marcello! Não quero mais tocar nesse assunto. Você já fez o que eu mandei.

― Fiz! Eu contei ao Alexander que vi a Nicky com outro homem. ― Deu meio sorriso. ― Ele ficou um pouco chateado, talvez ele encontre consolo nos braços da Isabella.

― Ótimo! Tomara que essa tal de Isabella preste para algo. Eu gastei muito dinheiro para manter aquela mulher perto do Alexander. ― Sophie avaliou as unhas com esmalte vermelho rubi. ― Aconselhe meu neto a não se apaixonar e a não casar com o primeiro rabo de saia que aparecer na frente dele. Alexander não tem muita experiência com as mulheres, Nicky foi a única que ele namorou durante anos.

― Veja no que deu, pobre coitada! ― Marcello levantou os braços mostrando o quarto arejado e bem iluminado. ― Sinto muito pela Nicky e pelo bebê que faleceu hoje! Espero que o outro bebê sobreviva. As pobres crianças não tinham nada a ver com isso.

― Isso não é da sua conta! ― Sophie ficou de pé. ― Agora vá! Você já se arriscou demais.

― Au revoir, Madame Bittencourt!

Fazia dois anos desde que Marcello retornou à metrópole da França e evitava contato com Alexander, não suportava mais as incessantes perguntas que o amigo fazia sobre Nicole.

Poucos meses depois da péssima avaliação no hospital em que residia, o doutor Bordeaux solicitou a transferência para outro hospital. Decidiu morar com a noiva que tinha se estabilizado no escritório de advocacia em Paris.

Logo que chegou no apartamento de Josephiné, viu uma caixa embrulhada com fita vermelha sobre a cama que mais parecia um presente de boas-vindas. Colocou as malas no quarto, tirou os sapatos e abriu a caixa com o palitinho, resultado positivo. No fundo, havia um pequeno bilhete com o desenho de uma mamadeira: ''Você vai ser papai!'' Cerrou os olhos ao ler a notícia, não estava preparado. Perdido e sem saber o que fazer, caminhou até a sala. Pegou o celular.

― Marcello, são quase 5 da manhã.

Do outro lado da linha, Alexander acendeu a luz do abajur próximo a cama de ferro e esfregou o olho com a palma da mão

― Desculpa! É que recebi uma notícia e não sabia mais pra quem ligar.

― É grave?

― É claro! A minha noiva está grávida.

― E qual é o problema? Essa é uma ótima notícia!

― Você sabe como o meu pai pega no meu pé.

Alexander sentou sobre a cama. Ele esticou o braço até a cabeceira e pegou os óculos.

― Você não parece feliz. O que houve?

― Estou surpreso! ― Colocou a mão sobre o rosto pálido.

― O bebê não tem culpa. Eu seria o homem mais feliz do mundo se recebesse uma notícia como essa.

Marcello levou a mão à testa, naquele mesmo ano o filho de Alexander completou dois anos.

― Valeu pela força! Vou tentar descansar, daqui a pouco eu tenho que me apresentar no hospital. ― Até breve!

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