Embora estivesse ansioso para ver o filho, Alexander acompanhou o delegado até a outra sala onde Joanna os aguardava. O homem de cavanhaque, ajeitou a blusa preta que cobria a barriga saliente e arrumou o distintivo bolachão pendurado no pescoço.
Joanna estava com uma aparência debilitada. Encarou os dedos entrelaçados quando os dois homens passaram pela porta.
― Aí está a meliante ― disse o delegado. ― Encontramos ela com o seu filho em um abrigo.
― Eu não sequestrei o Rodolpho. ― Os olhos castanhos fixaram em Alexander. ― Acredito que você saiba de toda a verdade.
Alexander se sentou na cadeira de frente para Joanna e cruzou os braços. Os olhos claros a fuzilavam através das lentes multifocais.
― Por que você não me contou quando esteve na minha casa? ― Aumentou a voz.
― Eu queria ver a minha sobrinha e conversar com ela sobre isso, mas você não deixou.
O delegado afundou na cadeira atrás da mesa de madeira de demolição. Esfregou o cavanhaque enquanto assistia o confronto.
― Segundo o depoimento, Joanna Moraes disse que a doutora Sophie Bittencourt entregou a criança e a ameaçou de morte. ― Pegou duas folhas brancas de papel ofício grampeadas e entregou a Alexander. ― Logo após ser deixada em um hotel, fez a assepsia e, em seguida, foi levada para um aeroporto onde seguiu para uma cidade de Santa Catarina, no Sul do Brasil.
Alexander levantou com uma expressão sisuda e deu as costas para Joanna. A testa estava franzida quando notou o reflexo no vidro que dava para o corredor do outro lado da sala.
― Ela disse a verdade! ― Girou os calcanhares na direção do delegado Peçanha. ― Tem uma testemunha que pode confirmar.
A mão pesada se chocou contra a mesa, a cadeira rangeu quando o homem atarracado se remexeu. Os grandes olhos pretos estavam fixos em Joanna.
― Doutor Bittencourt conversou comigo e decidiu retirar a queixa ― falou Peçanha. ― Você terá que explicar por que não procurou a polícia.
― Foi a avó dele que me ameaçou!
― Não importa! ― O punho de Peçanha bateu na mesa. ― Se você tivesse feito o que era certo, esse homem não acreditaria que o filho estava morto.
Joanna abaixou os olhos e tocou as costas das mãos, o medo a impediu de tomar a decisão correta.
― A senhora terá de deixar um endereço fixo e comparecer às audiências.
― A minha esposa quer ver a tia.
Alexander olhou a mulher cabisbaixa.
― Ela vai ficar na nossa casa por alguns dias.
O silêncio se estendeu após algumas batidas na porta. Uma senhora comprida pediu licença e entrou. Cumprimentou os presentes e limpou a garganta.
― Posso conversar com o senhor? ― A assistente social focou em Alexander. ― Preciso falar algumas coisas para ajudar na reintegração do Rodolpho à família.
― Onde está o meu filho? ― Joanna interrompeu.
― Rodolpho não é seu filho! ― Alexander olhou-a com um ar feral.
Ele colocou a mão esquerda no bolso da calça preta e jogou os papéis sobre a mesa.
― O menino pensa que Joanna Moraes é a mãe dele. ― falou a voz mansa da assistente. ― A criança precisará de acompanhamento psicológico para lidar com essas mudanças repentinas.
― Eu preciso ver o meu filho. ― Desviou o olhar para o delegado. ― Estou liberado?
O homem carrancudo puxou os pelos do cavanhaque e, em seguida, assentiu com a cabeça.
Alexander saiu da sala e fechou a porta atrás de si. Os sapatos de couro sintético marrom-escuros se chocavam contra o chão. A assistente social tentou acompanhá-lo.
― Espere, doutor! ― Tocou-lhe o braço. ― Mantenha a calma!
Ele parou de frente para o vidro que dava para a sala onde Rodolpho desenhava sob a supervisão de uma senhora de meia-idade.
― Ele está conversando com a psicóloga. ― A assistente parou ao lado dele.
O peito se contraiu ao pensar em como contaria a Nicole que a tia dela criou Rodolpho como se fosse filho. Fechou os olhos e esfregou a testa com os dedos longos enquanto a mulher ao seu lado insistia que ele devia ter paciência.
Em certo momento, o garoto pediu um copo de água para a psicóloga e vislumbrou a imagem do homem do outro lado do vidro. Exibiu um sorriso faltando um dentinho e acenou.
Naquele momento, Alexander teve a certeza de que era a hora certa, já não escutava mais nada do que a assistente social falava. Seguiu até a porta e abriu. Aproximou-se em passos lentos da pequena mesa vermelha onde Rodolpho desenhava.
― Você gosta do Super-Homem?
Agachou ao lado do menino e arrumou os óculos.
― Gosto!
― E do Batman?
― Eu também gosto, mas o Super-Homem é mais forte.
Exibiu o boneco com a capa vermelha e agitou o brinquedo pelo ar como se estivesse voando.
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