Te Amo com Minha Alma romance Capítulo 3

Sinto o sangue correr para minha cabeça a ponto de me deixar com enxaqueca e com as palmas das mãos suadas. Sinto a adrenalina enquanto sigo o caminho até o topo do penhasco, com as pernas tremendo feito gelatina. Estou andando atrás dos outros que, como eu, passarão pela cerimônia no momento em que a lua cheia estiver no ponto mais alto. Sem fôlego, luto contra a náusea e a tremedeira, mantendo os olhos fixos no chão para não pisar em falso. Acabo me concentrando demais e quase trombo com a garota na minha frente. Cambaleio para o lado e chuto as pedras que estão no meu caminho, sem querer, para evitá-la.

“Olha por onde anda, rejeitada!” Ouço o rosnado de um dos mentores que nos acompanham; ele se inclina para perto e me empurra com força de volta para a fila. Ele é tão bruto que me joga na direção da parede de rochas, contra a qual esbarro, o que quase me faz cair de cara no chão. Gemo de dor, mas logo me endireito, ignorando os arranhões que queimam, e dou pulinhos para voltar ao meu lugar na fila enquanto esfrego meu braço e meu ombro doloridos. Tento não olhar para ele, pois sei que, se eu fizer isso, vou acabar levando um tapa na cara por desrespeitar um superior.

Ele se chama Raymond, tem cerca de vinte e quatro anos e faz parte do bando dos Santo. É um dos principais líderes das sub-alcateias e odeia tudo que tem a ver com a gente. É outro lobo superior de linhagem pura que nos vê como estorvos, indignos de respirar o mesmo ar que ele.

Essa é a realidade da minha vida, e o pouco valor que tenho nessa hierarquia. "Rejeitado" é o nome de todos nós, como se não tivéssemos mais identidades próprias, e é por isso que mal posso esperar para me livrar dessas pessoas e desse lugar.

“Parem!”, interrompeu-nos uma voz grave e alta à nossa frente, quando chegamos ao topo nivelado do penhasco conhecido como "Rochedo Sombrio". O lugar é mais um grande platô do que um rochedo, mas o sol parece nunca iluminar e aquecer essa parte da montanha; entretanto, daqui, é possível ver a lua todas as noites, a noite inteira. Esse é o local onde ocorre a cerimônia há centenas de anos, e finalmente estamos aqui.

Passo pela garota à minha frente e fico ao lado dela, onde contemplo a paisagem familiar diante de nós. Meu estômago revira quando penso no que está para acontecer. Os sinalizadores e as fogueiras, que são os arranjos da cerimônia, estão acesos e brilhando intensamente próximos à borda, ao longo de toda a curva da grande plataforma. Eles emitem um brilho vermelho e âmbar, que ilumina o espaço que em breve estará um breu nesta noite tranquila. No centro do arranjo, há um símbolo desenhado com giz, com vários conjunto de círculos em volta, um para cada um dos que deve despertar. Estremeço quando me dou conta de que aquilo vai mesmo acontecer e não tenho onde me esconder. Não posso fugir nem impedir que a cerimônia aconteça.

“Tirem as roupas aqui e coloquem essas.” Um Santo alto e musculoso empurra cobertores cinza ásperos para nossos braços e olha para nós com os olhos quase pretos, rosnando com desprezo. Ele provavelmente está irritado por permitirem que minha espécie passe por isso como os lobos normais. Ele passa por nós enquanto distribui os cobertores, e estou ciente de que muitos se reuniram em torno da borda do penhasco e acima de nós, no alto das paredes, para assistir à cerimônia.

Todos os bandos já estão aqui, e bem no meio deles está Juan Santo e aqueles que lhe são de confiança: o braço direito, o terceiro em comando e o filho, Colton. O xamã da cerimônia está usando seus trajes, apoiado em um cajado enquanto aguarda para iniciar o trabalho. Isso é algo que ele poderia fazer com os olhos fechados, imagino eu, já que está aqui há tantos anos.

Eu não espero e questiono a ordem. De olhos baixos e completamente nervosa, apenas obedeço. Eu sei o que fazer. Jogo o cobertor sobre os ombros para esconder meu corpo da melhor forma que posso, assim como os outros, e tiramos com pressa as roupas por baixo dele. Descartamos nossas roupas em pilhas específicas, às quais retornaremos mais tarde.

A transformação rasga suas roupas em pedaços, então a melhor maneira de lidar com isso é ficar nu. Depois, poderemos nos vestir de novo, mas, por enquanto, esse velho cobertor áspero é tudo que tenho para cobrir minhas partes. Não que alguém se importe. A nudez entre os lobos é tão comum que ninguém fica prestando atenção ou acha anormal. Tantos se transformam em um piscar de olhos e voltam caminhando em forma humana sem nada cobrindo o corpo. Ser tímido e esconder o corpo é outro sinal de fraqueza se tiver que voltar para casa sem roupas.

Como é de se imaginar, os Alfas andam nus sem nenhuma preocupação, pois são fisicamente perfeitos. A única vez que isso é um problema é quando a companheira de alguém está sendo cobiçada por outro macho. Os machos são territoriais, ciumentos, agressivos e imprevisíveis quando têm parceiras, por isso é comum que, graças à testosterona, eles briguem entre si por olharem para a mulher um do outro.

É meio instintivo e primitivo, e é outra razão pela qual não vou sentir falta de fazer parte de um bando. Somos animais por natureza, e os humanos ficariam incomodados com o que é normal entre nós. Com isso, quero dizer que agressão, hostilidade física e até mesmo violência não é algo que humanos casados veriam da mesma forma que nós. Companheiros brigam entre si, às vezes na forma de lobo, e mordidas e arranhões costumam ser a melhor maneira de resolver uma disputa.

Enfim, deixo minhas roupas e sapatos em uma pilha organizada entre meus tornozelos, levanto-me e enrolo o cobertor em volta de mim de forma confortável para aguardar as próximas ordens e me proteger do frio. Qualquer um conseguiria ver que estou tremendo de nervosismo. Olho ao meu redor e deparo-me com o mesmo medo, palidez e expressões solenes nos rostos dos outros. Eu não sou a única que está apavorada. Todos nós já vimos o quão ruim a situação fica e, antes que a noite acabe, vamos sentir uma dor impossível de comparar a qualquer outra que já sentimos em nossas vidas.

"Vão!" Raymond empurra o macho à minha esquerda para que ele inicie uma fila, e nós o seguimos com obediência. Calados, continuamos em fila e vamos em direção aos círculos de giz que nos aguardam. Fecho meus olhos por um segundo e tento engolir o medo gelado que se espalha por minhas veias; minha garganta fica seca e áspera com o esforço. Tentando manter a calma, logo entro no primeiro círculo que vejo enquanto a fila diante de mim se desfaz. Centenas de olhos nos observam pacientemente. O silêncio nesta noite que está por vir é perturbador, e eu olho para o céu para ver se me acalmo. Em breve, estará tudo escuro, e as estrelas cintilantes vão aparecer. Mas, por enquanto, ainda está claro, e precisamos começar. A Lua aparecerá em breve.

Depois que todos vão para os seus lugares e se acomodam, o silêncio é quebrado pela voz estrondosa do xamã, que gesticula para que todos nos sentemos enquanto ele levanta o cajado. Obedeço a ordem dele, abaixo-me e me sento de pernas cruzadas, dentro de meu cobertor, no chão frio, duro e arenoso. Tento ficar em cima do cobertor para tornar a sitação menos desconfortável. Estou ciente dos olhares penetrantes de todos, mas tento ignorá-los.

"Bebe." Sinto algo duro cutucar minhas costelas e dou um ganido, endireitando minha postura de repente e olhando para o cálice de madeira diante de mim. Um Santo empurra-o em minha mão enquanto eu tento tirá-la de baixo do cobertor para pegá-lo.

"O que é isso?", pergunto com inocência, pois sempre foi algo que me deixou curiosa quando assisti à cerimônia antes. Porém, estava sendo boba e ingênua em pensar que conseguiria uma resposta.

“Bebe e descobre.” Ele deu um sorriso maldoso e foi embora sem me responder de verdade. Suspiro, irritada com a atitude dele, antes de olhar para o líquido âmbar escuro contido dentro do cálice. O forte cheiro de ervas perfumadas sobe ao meu nariz. Vejo os outros bebendo rápido, sem hesitar, e faço o mesmo.

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