Eu havia saído da sala de Lorenzo completamente aérea. Tão aérea que eu queria fazer algumas planilhas de fornecedores que estava fazendo. Tive que refazer tudo umas duas a três vezes. Na verdade, foram quatro vezes. Aquela conversa me deixou nervosa, e que diabos foi aquilo de dizer que eu não estava totalmente livre? Eu não sei o que me deu. Por um momento eu quase pensei em falar sobre Gio, tamanho era o efeito que aquele homem mantinha sobre mim. Ele me fazia testar a minha própria sanidade e os limites do meu corpo.
Quando eu estava perto dele, partes de mim se acendiam sem que eu tivesse o mínimo controle sobre aquilo. Parecia até que eu era uma marionete, pronta para cometer as loucuras que faziam anos atrás. Santo Deus! Eu precisava ir a uma igreja, aquilo não era normal. O que o deus italiano fazia comigo era além dos limites que eu poderia suportar. Ainda tinha aquela bendita ideia de sairmos… Eu poderia fazer aquilo sim, mas também tinha Quim. Eu não queria de maneira alguma ser injusto com Quim, ele havia me chamado para sair bem antes. A maldita indecisão estava me corroendo por dentro.
— Gabriela, você está com algum problema? — Helen perguntou na hora que eu cheguei para pegar o meu filho. Eu tinha ele apertado ao meu peito naquele momento. Enquanto Gio tentava escapar do meu aperto a todo custo, inalei o seu cheiro de bebê e soltei um suspiro logo depois. — Venha. Eu acho que uma xícara de chá irá te ajudar, minha querida. — Ela falou, me puxando para dentro quando eu não respondi a sua pergunta. — Tem a ver com toda a mudança. Digo, a de Diogo e Júlia? — Tornou a perguntar enquanto eu me sentava.
— Helena. Você já se sentiu muito confuso? — Perguntei, ignorando a sua pergunta quando ela me entregou a xícara contendo chá. Gio levou a mão para tentar pegar de mim. Eu apenas o afastei, e ele balbuciou bravo. Em compensação, beijei os seus dedinhos roliços, e ele voltou a rir. — Eu quero dizer assim… confuso entre o passado e o presente? — Tornei a perguntar enquanto Helen ainda mantinha o olhar em mim, acho que tentando decifrar o eixo da minha pergunta.
— É, realmente tem alguma coisa muito estranha. — Ela falou baixinho, e eu levantei a sobrancelha em sua direção. — Querida, você acabou me deixando bastante confusa com essa sua pergunta. — Seguro o riso, mas Gio não. Ele mostrou o seu risinho babado, nos fazendo rir também. — Olha só, o que eu posso te dizer é que se sentir confuso é normal, mas procurar resolver a nossa indecisão sem magoar os outros é o melhor remédio. — Helen disse, e eu engoli um seco. Nem precisou que eu lhe falasse muita coisa para que parecesse que ela havia lido a minha mente.
Eu confesso que saí da casa de Helen com a minha cabeça um pouco mais leve. Não significava que eu não estava mais confuso, mas eu já tinha uma vaga ideia do que era preciso fazer. Eu não queria magoar ninguém e, principalmente, eu não queria me magoar. Eu confesso que foram as palavras de Lorena que me construí ficar com o pé atrás com Lorenzo. Era uma coisa para se refletir: Se Serena agia daquele jeito era porque alguma liberdade ele havia dado a ela, e eu não dizia uma liberdade apenas no trabalho. Mas balancei a minha cabeça para expulsar aqueles pensamentos ou iria por caminhos tortuosos.
— A mamãe está se sentindo tão confusa. — Falei para o meu bebê quando nos encontramos a sós em casa. Eu ainda não tinha tempo de arrumar tudo depois que Diogo saiu. Iria aproveitar o fim de semana para fazer aquilo com a ajuda dele e de Julia. — Tudo poderia ser resolvido tão facilmente, mas na minha vida nada é fácil. — Reclamei, enquanto ele me olhava com os olhos exatamente iguais aos do seu pai. A semelhança entre eles era muito gritante, e assim que qualquer um do escritório o visse… Eu não queria nem pensar. Ninguém poderia vê-lo antes de Lorenzo, antes de eu decidir a minha vida.
— Ma.. Ma.. Ma — Meu filho balbuciou sem parar, me fazendo olhá-lo de boca aberta. As palavras... Bem, não eram exatamente palavras, mas eu esperei muito tempo para ouvir aquilo. Quase não me conteve quando ele voltou a entoar, como se fosse uma música que ele ouviu o dia todo. Segurando as lágrimas, eu peguei o celular da minha bolsa. Eu tinha que registrar aquele momento, assim como eu fiz com todos os outros. Se Julia visse aquilo ela já iria falar da minha caixa, com certeza. Aquela caixa estava bem mais próxima de ir para as mãos do pai de Gio. No fim, Julia tinha razão.
— Fala mais um pouco, meu amor. — Pedi. Quando viu a luz do celular, Gio se sentiu intimidado. Nós tínhamos aquilo em comum, não nos sentíamos à vontade de primeiro em frente a uma câmera, mas depois de um tempo parecia que havíamos nascido para aquilo. Demorou um pouco para ele voltar a balbuciar de novo. Quando o fez, não queria mais parar, o que era totalmente normal, já que eu o estava incentivando.
Depois de um tempo eu o coloquei na cama, acho que ele já não tinha mais energia para brincar e nem para balbuciar mais nada. Ele estava tão cansadinho que nem sentiu falta da Júlia ou do Diogo. O fato é que eu também estava cansado, então só foi eu colocá-lo na cama para, logo em seguida, eu também desliguei. Nem sequer pude ir ver a cobertura de Diogo com mais calma. Eu teria o fim de semana para aquilo. Bem, era com o que eu estava contando. Era o momento que eu teria livre para curtir o meu filho sem ficar na indecisão entre Quim e Lorenzo. Como eu disse a Helen, era uma indecisão entre passado e presente.
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