Nada naquele momento podia consolar o coração de Amelie, enquanto ouvia a explicação da mãe sobre tudo o que aconteceu no passado. Cada nova revelação fazia com que ela sentisse mais tristeza e pesar.
Já se passava da meia-noite quando Marina acompanhou a filha até o quarto, onde ela se deita na cama sem ter nem mais forças para chorar.
— Por que isso foi acontecer comigo, mamãe? — pergunta Amelie, segurando o braço da mãe, que está sentada ao seu lado.
— Às vezes a vida nos prega algumas peças que não conseguimos entender, filha — comenta Marina, passando a mão levemente pelos longos cabelos pretos da filha. — Sei que nesse momento tudo parece sem sentido, mas sei que com o tempo você voltará a ser feliz. Logo se apaixonará novamente.
— De tantos homens no mundo, eu fui me apaixonar logo por ele — comenta sem acreditar no que havia acontecido.
Logo, uma grande interrogação surge na cabeça de Marina, algo que a incomoda como um punhal em seu peito, a ponto de perturbá-la. Estava sem jeito de perguntar aquilo para a filha, mas se não tirasse aquela dúvida de sua mente, não conseguiria descansar.
— Filha… — começa, sem saber como perguntar aquilo. — Até onde a relação entre você e o Daniel chegou?
Não era preciso uma pergunta direta para Amelie saber o que a mãe estava perguntando, rapidamente, ela se senta na cama, apoiando as costas na cabeceira.
— Não se preocupe com isso, mãe, nunca passamos dos beijos — diz, sentindo o alívio da mãe.
Mas Amelie também estava aliviada, se houvesse dado um passo a mais naquela relação, não saberia como lidar com a culpa, mesmo sabendo que erraria inconscientemente.
— Filha, tente dormir um pouco — sugere Marina. — Amanhã é um novo dia.
— Tudo bem, mãe, boa noite.
Beijando a testa da filha, Marina se despede. Quando fecha a porta, ainda pode ouvir o choro abafado de Amelie. O som lhe aperta o coração, mas ela sabe que, naquele momento, não há mais nada a ser feito. O sofrimento vai persistir por alguns dias, mas Marina acredita que tomou a decisão certa.
A caminho da cama, ela decide passar pela cozinha para beber um pouco de água. Ao se aproximar da sala, percebe Arthur sentado num canto, com a cabeça baixa e a expressão carregada de preocupação. Ele está sozinho, perdido em pensamentos.
— Achei que já estivesse dormindo — comenta Marina, aproximando-se e sentando ao lado dele. Com um gesto afetuoso, passa o braço pelo ombro do filho.
— Como conseguirei dormir depois do que aconteceu? — Arthur pergunta, ainda com o olhar perdido.
— Eu sei, filho, isso é muito difícil de aceitar para todos nós. Mas está claro que quem mais está sofrendo com tudo isso é a Amelie — Marina responde suavemente.
— Eu sei, mãe. É nela que estou pensando agora. Ela não deveria passar por isso.
Marina concorda, balançando a cabeça.
— Você tem razão, ela não deveria — diz, cheia de compreensão. Então, após um breve momento de reflexão, sorri e continua:
— Mas sabe o que consegui enxergar no meio de tudo isso? — pergunta, com um brilho de ternura nos olhos.
Victor fecha os olhos por um instante, como se buscasse na escuridão alguma resposta. Então, de repente, golpeia o colchão com o punho, deixando escapar um suspiro pesado.
— Como não percebi antes? — pergunta, num lamento. — Como não notei que aquele rapaz era tão parecido com o Xavier? Havia algo nele, algo familiar… eu sabia que já o tinha visto, mas não sabia onde. Agora entendo. Ele se parece com aquele homem.
Sentada ao seu lado, Marina coloca uma mão gentil sobre o ombro dele.
— Amor, não se culpe por isso. O que aconteceu não estava sob nosso controle. O que podemos fazer agora é estar ao lado da Amelie, apoiar as decisões dela. Felizmente, ela entendeu a gravidade da situação e escolheu se afastar.
Victor balança a cabeça, mas a preocupação não deixa seu rosto.
— Amelie é muito sensata, mas enquanto essa dor não passar, eu sei que ela não ficará bem.
E Victor tinha razão. Amelie havia conversado com Daniel, e os dois, conscientes da realidade dolorosa que os envolvia, decidiram que o melhor era não se verem mais — nem mesmo como amigos. Ambos sabiam que manter contato apenas prolongaria a dor, podendo até confundir seus sentimentos.
Os dias começaram a se arrastar. Amelie voltou às aulas, retomou sua rotina de estudos, mas havia uma mudança inegável nela. Embora tentasse seguir em frente, os sorrisos não eram mais os mesmos, e sua presença na casa tinha um peso melancólico que ninguém sabia como aliviar.
Quanto a Daniel, ele também decidiu dar um passo além para cortar qualquer ligação. Primeiro, deixou o estágio no curso de inglês, uma decisão que claramente o afetou. Em seguida, tomou a decisão mais drástica: transferir-se para uma universidade nos Estados Unidos. Talvez, com a distância física, fosse mais fácil apagar os vestígios do que havia acontecido. Ao menos, era nisso que ele queria acreditar.
A mudança de Daniel trouxe um alívio silencioso à rotina, mas também carregou consigo um vazio. Marina e Victor viam Amelie tentando se reerguer, mas sabiam que cada passo adiante vinha com um custo emocional. O amor que eles sentiam por sua filha era o que os fazia persistir. No fundo, ambos carregavam a esperança de que o tempo fosse o remédio de que ela precisava, ainda que esse tempo fosse marcado pela lentidão.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...