Uma garçonete se aproxima com o pedido, interrompendo a conversa. Joana, visivelmente surpresa, tenta disfarçar a expressão de espanto enquanto a moça arruma a mesa. Assim que a garçonete se afasta, ela se inclina para frente e pergunta com uma voz cheia de incredulidade:
— Um filho?
— Sim — responde Victor, com um tom mais sério. — O rapaz é alguns anos mais velho que os meus filhos. A Andressa escondeu isso de todos nós.
— E como você descobriu isso? — Joana continua, visivelmente abalada.
Victor solta um longo suspiro antes de responder:
— Há um ano. Amelie chegou em casa dizendo estar apaixonada e contou que queria nos apresentar o namorado.
O silêncio que se segue é denso. Joana percebe pela hesitação de Victor que o que ele está prestes a dizer será difícil de ouvir.
— Fiquei receoso com a situação. Para mim, Amelie sempre será a minha menininha, mas reconheço que o tempo não para. Decidido a evitar que minha filha entrasse num relacionamento às escondidas, concordei que ela trouxesse o namorado para conhecê-lo. Foi então que conheci Daniel. Um rapaz educado, sério, respeitoso — diz Victor, enquanto um brilho de inquietação cruza seu olhar. — No entanto, desde o início, havia algo nele que não me parecia certo.
Atenta a cada palavra, Joana não desvia os olhos do filho, esperando o desfecho que pressente ser devastador.
— Como percebi que Amelie o amava muito, pedi para conhecer os pais dele. Foi então que veio a dolorosa revelação: Daniel era filho da Andressa e, o mais chocante, também era filho do Xavier.
Joana leva uma mão ao peito, incrédula.
— Victor… — sussurra, com os lábios tremendo levemente, como se não acreditasse no que acabava de ouvir.
— Foi um choque, claro — continua Victor, num tom mais contido. — Mas ninguém foi mais atingido do que Daniel e Amelie. Naquele instante, eles descobriram ser tio e sobrinha. Ficamos todos sem chão, mas fizemos o que precisava ser feito. Conversamos com Amelie, e ela terminou aquele relacionamento que, por Deus, jamais deveria ter existido.
Suspirando profundamente, Victor toma um gole de café, como se o líquido quente pudesse amenizar o nervosismo que ressurge sempre que ele revive aquele episódio.
— Apesar de tudo, mesmo após o fim do relacionamento e a decisão de não se verem mais, o dano já havia sido feito. Amelie nunca voltou a ser quem era. Ela tenta, eu vejo o esforço dela em seguir em frente, mas seu olhar a trai. Está tudo lá: a dor, a culpa, a confusão… Ela carrega um peso que ninguém deveria carregar, e isso me consome.
Desviando o olhar, Joana procura um ponto físico para encarar, só para não olhar o filho nos olhos. Entretanto, seus olhos marejados, mostram que ela segura o choro por tudo aquilo que acaba de ouvir.
Notando a mudança de humor da mãe, Victor a questiona.
— O que houve?
Ainda olhando para o nada, Joana comenta:


— Tudo bem… — Victor responde, respirando fundo na tentativa de manter o controle. — Acho que a senhora mencionou em uma de suas cartas que tinha algo importante para me dizer. Aproveite agora e fale sobre isso também.
Joana inclina-se levemente, com o olhar cheio de emoção, enquanto estica a mão em direção ao filho, na intenção de tocá-lo.
— Victor, meu filho, você sabe o quanto eu te amo, não sabe?
Recuando a mão, Victor disfarça o gesto ao pegar mais uma vez a xícara de café.
— Mãe, o seu amor sempre me pareceu… estranho. Você sabe que, por mais que o tempo passe, eu nunca vou esquecer o que tentou fazer com a Marina.
Joana baixa os olhos, como se cada palavra dele fosse um peso em sua alma.

— O que você quer dizer com isso? — Victor pergunta, com certo nervosismo evidente em sua expressão.
— Está na hora de você conhecer a verdade sobre como você foi concebido — Joana declara, respirando fundo enquanto reúne coragem para continuar.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...