Um Sheikh no Brasil romance Capítulo 52

Há coisas que acontecem na nossa vida que são um mistério de Deus. Podemos até tentar entender, mas seremos incapazes de mensurar com perfeição em que momento o destino foi traçado ou até onde algo foi milimetricamente planejado. Eu só sabia que todas as vezes que fechava os olhos e pensava em mim e Seth me via vivendo um sonho, mas todas as vezes que eu abria meus olhos e encontrava com os olhos de Seth, eu tinha certeza de que esse era de longe o melhor sonho da minha vida.

Senti algumas lágrimas quererem escorrer dos meus olhos enquanto uma moça de nome Tahine terminava de desenhar com rena perfeitamente a pele da minha mão. O motivo era de longe a tristeza. Eu estava tão feliz que queria que aquele sonho perdurasse para sempre.

Ali em Omã a forma de dar um casamento era bem diferente do Brasil e eu sentia meu coração retumbar sob o peito, porque sabia que mesmo casada com Seth precisaria ficar ainda 3 dias sem o tocar. Era deveras angustiante, mas Zilena me disse que tentara encurtar o máximo possível. A tradição era de que quanto mais ricos, mais dias de festas para demonstrar a felicidade pelo casal de noivos que se juntavam, mas que ela sabia que nem eu e nem Seth aguentaríamos se fossemos obrigados a ficar um na presença do outro por uma semana sem poder nos tocar. Então o tempo fora diminuído.

Antes do primeiro dia, eu e Seth passávamos por uma espécie de preparo para o casamento, como estava acontecendo comigo naquele momento. O primeiro dia era a reunião familiar onde havia troca de felicitações pelos noivos, alguns presentes e a benção dos pais. No segundo dia, teríamos a festa que todos esperávamos e onde de frente ao pai de Seth nos juraríamos em nome de Alá para a vida futura juntos. A festa duraria o dia todo, até altas horas da madrugada, mas nós não poderíamos ficar juntos, mesmo assim. Ainda precisaríamos passar pelo terceiro dia, onde conheceríamos o lugar onde moraríamos, abriríamos os presentes e dormiríamos separados na casa dos pais dele como forma de dizer que tínhamos a benção e também todo o apoio dos meus futuros sogros. E então, para o desfecho final e completo término de martírio, a gente almoçaria no dia seguinte com toda a família reunida e só ao entardecer poderíamos finalmente estar um no braço do outro. Um martírio que parecia nunca ter fim. Ainda assim, eu estava tão feliz de estar cada vez mais próxima de me unir por completo a Seth!

― Terminei. ― Disse Tahine sorrindo e eu aproveitei para visualizar os desenhos intrincados na minha pele. Eram tão lindos que eu não conseguia deixar de suspirar diante da beleza.

Aquela era outra tradição que costumavam seguir. Somente meninas virgens poderiam estar ali cuidando de mim e era decepcionante, porque Fernanda teve que ficar com minha mãe e minha sogra do lado de fora. Ao menos Sophia pode ficar ali dentro.

― Você está tão lida, Ag. ― Ela me disse num sorriso gentil e eu senti que mais lágrimas queriam se avolumar nos meus olhos.

― Se continuar assim, eu vou chorar na frente de todas vocês! ― Disse, o que fez com que as meninas rissem com meu comentário. Elas eram muito gentis.

Esperava que encontrasse outras Desiree e Nadirah por ali, mas não podia reclamar. Zilena tinha escolhido muito bem quem ficaria comigo naquela redoma particular e eu não tinha mais como agradecer por todo o carinho que ela me dava como se fosse uma mãe. Zilena e mamãe se deram muito bem por sinal. Ficaram entusiasmadas em falar sobre louca de cozinha, o que me deixou pasma porque eu nunca imaginei que Zilena gostasse tanto de porcelana, nem que minha mãe encantasse tanto Zilena com o conhecimento que ela tinha sobre isso também. Mas as coisas boas não acabaram por ali. Zilena também se deu muito bem com Vovó que se comportava bem quando falava de tecidos. Nisso, as duas viviam discutindo, mas era uma discussão boa, porque elas queriam o melhor enxoval possível para mim. E eu deixei que elas tomassem conta de tudo quanto era possível, ainda que muitas coisas eu que tivera que fazer por conta própria. E ainda havia meu pai. Ele estava muito bem e tanto ele quanto minha madrasta tinham conversas muito boas com o pai de Seth. Os dois conheciam bastante sobre a Bíblia e papai se interessara por conhecer um pouco mais da religião do meu futuro marido. Mesmo Sophia, que estava ali do meu lado, estava feliz porque o antigo professor que tentará me ensinar árabe e que ajudava Seth com inglês, agora se dedicava em ensinar ambas as línguas para Sophia. Que obviamente tinha muito mais facilidade que o bode falante, vulgo eu, tentando falar árabe.

A lembrança da briga que tivemos naquela época me fez rir. Eram memórias que eu nunca mais esqueceria e que amava tê-las cada dia mais.

― Vamos então. Já está amanhecendo e logo você precisa está linda para a benção. ― Continuou Tahine e eu concordei sorridente. Ainda havia muito trabalho pela frente.

Mais algumas horas se passaram até que eu estivesse num lindo tecido esvoaçante. Tínhamos combinado que o vestido da reunião da benção seria escolhido pela minha família enquanto o da reunião para que todos vissem seria escolhido por Zilena. Eu não me importava mais. Ambas tinham bom gosto e minha maior vontade naquele momento era que eu e Seth estivéssemos casados logo, porque aquilo estava demorando demais. Depois de um banho com essência de sândalo e jasmim e a maquiagem impecável com olhos bem delineados, ali estava eu com um vestido também lindo. Usava um vestido branco que tinha um tule esvoaçante em baixo e renda por cima do busto emoldurando o formato coração do decote. Meus cachos estavam presos e uma mecha estava solta ao lado do olho direito completando o visual maravilhoso. Quase não acreditei que era eu mesma ao me olhar no espelho, mas ali estava eu. Ali estava eu me casando. Parecia novamente um sonho.

Quando adentrei o salão no qual receberia benção dos meus pais e também dos meus futuros pais, quase tropecei no meu salto ao olhar para Seth que sorriu de lado ao perceber que eu não mudara, continuava a tonta de sempre. Mas dessa vez tinha motivo. Seth estava maravilhoso. Ele usava um terno branco que eu achei que não ficaria bem em ninguém uma cor daquelas, mas estava enganada. Ele estava com um terno branco, o cabelo penteado, os olhos brilhando ao me ver. A barba estava aparada e um genuíno sorriso emoldurava seu rosto, o que me fazia quase perder a fala e também quase amaldiçoar aqueles casamentos árabes demorados demais para meu gosto. Calma, Ag. São só mais três dias.

Seth estendeu me a mão e eu a peguei estremecendo enquanto me posicionava ao seu lado. Era óbvio que Seth estaria quente. O seu olhar parecia pegar fogo enquanto ele analisava cada detalhe do meu corpo, cada pequeno desenho que Tahine tinha feito e que ela tentara me explicar os significados, mas eu meio que ignorei.

― Está linda. ― Ele sussurrou enquanto nos viramos para receber as bênçãos.

― Você também. ― Respondi.

O primeiro dia passou como uma tortura, mas passou. Ainda faltava mais um e eu diria que o segundo dia seria o pior de todos. Fui acordada de madrugada, para minha raiva eminente porque nenhuma noiva deveria ser obrigada a se arrumar de madrugada para seu casamento! Novamente recebi um banho com óleo e essências, um tratamento de Vip para minha pele e um vestido que era mais adequado para a quantidade de gente muçulmana que estaria no meu casamento. Ainda assim, o vestido não deixava de ser fabuloso. Zilena tinha um bom gosto.

Também de cor branca para fazer jus à cor clássica ocidental, o vestido era de manga comprida, mas com várias madrepérolas e brilhos emoldurando os braços, terminando com uma renda tão delicada e linda nos pulsos que eu tinha medo de que meu eu tonto pudesse o desfazer antes da festa começar. O vestido seguia com o mesmo aspecto rendado e com brilhos, justo, até a cintura, onde se abria volumoso por varias camadas de tecido até esconder o meu pé por completo. Meus cachos estavam soltos e uma pequena coroa minúscula emoldurava os mesmos nela presa um lindo véu transparente e rendado que descia por todo o comprimento até alcançar o chão. Zilena não queria que eu usasse um hijab só por usar e dizia que achava meu cabelo muito lindo para que não fosse mostrado. Eu não tinha como negar. Tudo naquele complemento era lindo.

Quando adentrei o salão e me mantive ao lado de Seth, mais uma alegria tomou conta dos meus olhos. Seth estava num impecável roupa com brilhos de cor dourada e intrínsecos desenhos no tecido dourado que pareciam arabescos. Usava uma calça branca que terminava o look que parecia formal o bastante para agradar alguns homens velhos ao redor de nós. A pele bronze parecia se destacar ainda mais. Quase perdi o compasso, o coração, a fala, tudo, e acho que só consegui chegar até ele porque minhas pernas não tinham dado pane. Ainda. Mesmo assim, era demais para meu coração. A festa foi mais cansativa que a benção. Como esperado de um dos clãs mais respeitados e ricos de Omã, havia muita gente na festa, muitos fotógrafos e havia a cada segundo um flash no meu rosto. Muitas pessoas vieram nos cumprimentar e desejar o melhor, mas a verdade é que eu não conhecia praticamente ninguém. E olha que Seth sempre me dizia o nome da pessoa antes dela se aproximar! Mas minha mente só buscava um nome. O dele. E só parecia se importar com ele. Ali do meu lado. O cheiro de terra árida e Pimenta que parecia ocupar cada parte dos meus sentidos.

― Se você continuar me olhando assim, amira, eu não vou aguentar ficar nesse lugar mais nenhum segundo e vou te arrastar até o banheiro mais próximo e toma lá como minha. ― Sussurrou Seth no meu ouvido enquanto eu sentia imediatamente minhas bochechas ficarem escalarte enquanto eu perdia a fala completamente e só conseguia empurrar Seth com a mão sem saber como reagir a algo que eu já queria. Os olhos de Seth lampejaram como se ele lesse meus sentimentos.

― Amira... ― Ele me avisou e eu sorri balançando a cabeça em negativa. Mas Seth aproveitou que até então nenhuma outra pessoa quis se aproximar de nós, para começar com um movimento lento e angustiante com o polegar sobre a minha mão enquanto seus olhos cravavam em mim e ele dizia:

― Será que eles sentiriam a nossa falta se eu te levasse para dentro por cinco minutinhos? ― Arregalei os olhos completamente sem ação pela cara de pau de Seth.

― Seth! ― Disse e ele riu estendendo as mãos como se se rendesse.

― Ora, mas só estou compartilhando um inocente pensamento que me ocorreu, minha Ag. ― E eu balancei a cabeça em negativa tentando afugentar a cor do meu rosto afogueado enquanto dois homens se aproximavam de nós.

― Ora, ora, se eu não estivesse vendo com meus próprios olhos, teria certeza de que era mentira o que contam por aí. ― Disse o homem que parecia mais jovem. Seus cabelos tinham uma linda cor de dourado que combinavam com a pele morena. Ele, diferente do outro, não tinha barba longa.

― E o que andam contando por aí, hein Kalim? ― Disse Seth sorridente cumprimentando o moço. Aquele nome não me era estranho, mas eu não conseguia lembrar de onde que eu tinha o visto.

― Que você se tornou um maricas apaixonado. Mas vejo que é verdade. Você me largou igual meu irmão. ― Ele disse brincalhão apontando para o outro moço que olhando agora para ele tinha a mesma cor de dourado dos cabelos, ainda que o mais velho tivesse o olho mais escuro e usasse uma longa barba.

― Eu não te larguei, Kalim. Você que ainda não abandonou a vida de solteiro. ― Respondeu o irmão e ele revirou os olhos como se aquela fosse uma péssima desculpa.

― Para que? Vai lá, a Aisha não está te chamando não? ― Perguntou e o outro deu de ombros.

― Ela está dando os parabéns para Zilena, logo deve se juntar a nós. ― Respondeu. Eu ainda estava desconfiada. Sabia que conhecia aqueles dois de algum lugar. Finalmente, Seth fez questão de nos apresentar:

― Vossa majestade, príncipe Abao e o príncipe Kalim. ― Disse Seth me apresentando e eu arregalei os olhos sem saber como reagir.

― Como que fazem aqui? A gente faz uma mesura para vocês? No Brasil a gente não lembra do nosso tempo de monarquia. ― Disse num ímpeto o que fez os dois rapazes rirem e Kalim comentar:

― Aprovado, Seth. Estava sentindo falta das moças que eram sinceras na nossa sociedade. ― Disse o príncipe e Seth concordou, seu braço abraçando minha cintura enquanto Abao respondia:

― Não há necessidade disso. O clã de Seth é um dos mais fortes daqui de Omã. Se não fosse pelo apoio dele a nossa família, já teríamos sido dispostos também. ― Esclareceu Abao. ― Portanto, amigos não precisam nos saudar. Já são de casa. ― Brincou o homem e Eu e Seth sorrimos ao passo que uma moça se aproximou. Ela era linda. Estava vestindo um vestido vinho sangue muito bonito emplastado de rubis no colo. Estava com uma hijab também vinho adornada de pedras preciosas e brilho, além de uma linda tiara que adornava o hijab demonstrando tudo o que ela representava. Realeza.

― Minha noiva e futura esposa, Aisha. ― Ele disse nos apresentando e a mulher sorriu enquanto se aproximava e beijava meu rosto, o que foi uma surpresa para mim.

― Você está magnífica. ― Ela disse e eu corei imediatamente. Não esperava receber um elogio da futura rainha.

― Obrigada. ― Respondi quase sem voz.

― Venham nos visitar mais vezes. ― Disse Abao terminando o discurso e como se fosse num passe de mágica, todos eles saíram deixando eu e Seth e a sós.

Quando a noite adentrou e a festa começou a ficar mais animada, os convidados alegres e mais soltos por conta do tempo acordados, Seth puxou minha cintura e começamos a caminhar tranquilamente pela parte do terreno que era cheia de ornamentos de jardinagem, com muitas árvores, trepadeiras e outras plantas que se embrenhavam num mini oásis verde.

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