Na manhã seguinte, acordei antes do meu horário normal, mas fiquei no meu quarto. Depois do que aconteceu na noite passada, quando meu pai fez de mim um show impossível de se ignorar, eu não queria vê-lo, nem ele queria me ver.
O relógio pequeno na minha mesa de cabeceira mostrava que eu ia me atrasar para o trabalho, mas isso era algo com que eu poderia lidar. Mike era um chefe incrível que, embora não gostasse de faltas e atrasos, entenderia minha preocupação. Por outro lado, as pessoas na minha casa nunca.
Assim que ouvi o carro sair da garagem, corri para fora do meu quarto. Fiquei sentada no meu quarto desde madrugada, pois o que aconteceu na noite anterior reproduziu-se na minha cabeça na forma de um pesadelo terrível e acabou me acordando, fazendo com que eu perdesse meu apetite. Agora, por algum motivo, quando o carro virou à esquerda, senti fome.
Indo para a cozinha, onde nossa empregada, Jane, estava guardando o resto do café da manhã na geladeira, peguei um sanduíche e o enfiei na boca. Jane sorriu ao me ver fazendo aquilo e me serviu outro, junto de uma fatia de bolo.
"Você tá atrasada para o café da manhã", disse ela, servindo um copo de suco de laranja para mim.
"Acordei tarde", eu menti. "Isso tá muito gostoso, aliás", apontei para o sanduíche que já estava acabando.
Percebi que ela estava servindo outro copo de suco de laranja e colocando-o em uma travessa, então perguntei: "Pra quem é esse?"
A pergunta foi respondida no momento seguinte, quando ouvi a Lahaina entrar na cozinha, franzindo as sobrancelhas perfeitamente aparadas dela. "Por que você tá demorando tanto?", ela repreendeu a Jane. A empregada ficou tensa com a presença dela e rapidamente foi até ela com o suco.
"Meu vestido chegou?", ela perguntou, pegando o copo e tomando um gole.
"Ainda não, Sra. Lahaina", Jane a informou.
"Então vá buscá-la, sua burra! Preciso dele antes de hoje à noite!", ela gritou. Gritar e berrar com as pessoas sem motivo aparente era uma regra nessa casa.
Jane assentiu timidamente com a cabeça e saiu da cozinha. Vendo que eu estava tomando café da manhã, Lahaina veio na minha direção. Ela colocou o copo agora vazio em cima da mesa e cruzou os braços sobre o peito. Sem intenção de iniciar uma conversa, fiquei em silêncio e esperei que ela falasse.
Nos primeiros segundos, ela não disse nada. Dei a última mordida no meu bolo e a contornei para colocar a louça na pia. Com o canto dos olhos, eu a vi se virar e se apoiar no balcão da cozinha. "Nós temos que ir pra uma festa hoje à noite, então volte mais cedo daquela sua cafeteriazinha", disse Lahaina, revirando os olhos.
"Vocês vão a uma festa?"
"Você é surda, por acaso? Você não me ouviu falar 'nós'?", ela disse, irritada.
"Seu 'nós' geralmente não me inclui", eu disse, guardei os pratos, lavei minha mão, e me virei para encará-la.
Lahaina era alguns centímetros mais alta que eu. Com seu lindo cabelo loiro, olhos azuis e corpo de dar inveja até para modelos, ela era o sonho de todo homem. Acrescentando confiança e excelentes habilidades sociais, não era de se surpreender que os homens sempre estivessem atrás dela. Por outro lado, eu mal conseguia não julgar meu reflexo na frente de um espelho.
"Eu não queria te incluir, mas um velho amigo do nosso pai, que pode virar um novo parceiro de negócios, quer conhecer as duas filhas dele", ela torceu a boca de desgosto quando disse a palavra 'duas'.
"Tá bom", eu disse. Por causa de seus negócios e negociações com outros empresários, meu pai estava sempre participando de festas e reuniões formais. Lahaina e Julia sempre iam com ele, ajudando-o a fazer mais conexões e conhecer novas pessoas. Ele nunca me levava junto. Nunca sentiu necessidade, já que eu era a filha de quem ele se envergonhava.
Depois de todos esses anos, ainda não consigo entender por que ele me odeia tanto. Lahaina, embora não seja sua filha biológica, é a sua queridinha. Não sei o que fiz para merecer a aversão dele.
"Não se esqueça das joias hoje", ela instruiu, seguindo-me para fora da cozinha, "tenho que impressionar uma pessoa."
Olhei para ela e vi o sorriso mais brilhante já exibido em seus lábios. "Namorado novo?", perguntei.
"Não. Alguém muito importante vai nessa festa. Papai quer que eu o atraia, porque, assim que eu conseguir, ele vai poder ajudar nossa empresa a alcançar novos patamares", ela disse toda animada.


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