Perigoso (Letal - Vol.2) romance Capítulo 16

Eu tomei banho, estava com um pouco mais de disposição, a enfermeira noturna não estava lá, mas a mocinha de hoje era tão gentil quanto. Troquei fraldas, amamentei, mas ainda sentia as fraquezas constantes, a barriga ainda flácida, fraqueza pela perda de sangue e uma dieta rígida com muito ferro. Eu estava sendo mimada e sabia que Iron estava por trás disso, ela citava o senhor Pryme constantemente e eu só conseguia pensar o quanto eu estava feliz. Tenho certeza que, apesar de tudo, Dom também está. Iron era pra ele como um irmão, eles eram uma família e…

— Olha só… — levantei os olhos, sorri e vi Dom entrar com uma rosa nas mãos, a barba feita, um perfume gostoso e a franja ruiva bem penteada. Ele tinha um hematoma leve na beirada dos olhos e um curativo muito próximo da sobrancelha.

Ele se dirigiu diretamente para a pelota careca, limpinha e vestida, na paz do sossego, já que chorou o bastante durante a troca e só parou quando a barriga estava cheia. Sorriu, pegou no pé rechonchudo e fez um carinho silencioso. Quando me olhou, estava com os olhos brilhantes e um sorriso besta na cara.

— Você não vai chorar, vai? — brinquei.

— Não, meu coração ruivo é durão. — me deu uma piscada — Mas eu tenho que socar meu orgulho no rego e dizer que o negócio foi bom eim, saiu bonitinho…

Eu consegui rir, ele aproveitou o momento, enfiou a mão na minha nuca e me puxou, beijando-me de surpresa e quando abri bem os olhos, a porta foi escancarada e uma Sore nada convencional apareceu.

— Olha, que família linda! — ela sorria, enquanto a massa dura e grande de um Iron sério se mostrava atrás e Dom olhava pra ela com cara de poucos amigos. Eu com certeza enrubesci, desviei o olhar meio sem graça e tentei não me sentir desconfortável.

— O que é que vocês estão fazendo aqui? — Dom estava meio hostil, olhando pro Iron, que parecia cagar pra cara feia dele.

— Ué, eu sou a tia e ele é o pai. — Sore abriu o sorriso grande, mostrando todos os dentes e se divertindo com a merda da situação — O pai oficial, né?

— Sore… — tentei evitar uma merda grande, uma vez que Dom não estava levando aquilo na brincadeira.

— Deixa eu ver essa gracinha aqui… — ela me ignorou, foi até a bebê e brincou estalando a língua, vestida com seu típico vermelho justo, pérolas no pescoço e o chanel platinado em um corte perfeito — Olha o que a titia tem pra você…

Ela levantou uma corrente prateada no ar, apontou para a boneca careca e ficou com as feições sérias.

— Isso é meio grande pra ela. — Dom resmungou.

— O pai deixou, se não se importa. — ela alfinetou sorrindo e eu olhei para Iron tentando entender, até que ela balançou a corrente e voltou a ter feições sérias, mirando para a bebê — Sua tia não vai ter filhos, sabe… Um dia um bruxo ganancioso e ciumento quis tanto uma borboleta que tirou dela o dom de dar seguimento a vida. — Eu sabia que ela estava falando de Ron, o mafioso que pegou ela numa promessa de proteger Iron — Mas um dia, o irmão da borboleta, o lagarto feio, prometeu que livraria ela do bruxo malvado. — Eu acho, só acho, que o olho dela se encheu de água por um breve momento — Muitos anos se passaram e o lagarto feio conheceu o amor, e foi por amor que ele cumpriu todas as suas promessas. Ele fez uma mágica, tirou aqueles que podiam governar ele do seu caminho, arrancou a irmã borboleta das mãos do bruxo malvado e se viu livre para poder amar sua família, do jeito certo. — ela abaixou o braço, enquanto Dom estava bicudo, eu tinha os olhos cheio de água e Iron na mesma expressão de sempre — Eu guardei a ignição prateada do soldado exemplar. Sua primeira inscrição militar. Pra você saber que, mesmo que ainda não saiba, ele sempre esteve lá. Ele foi o primeiro a te amar, antes mesmo da sua mãe desconfiar que você existia. Não foi pela sua mãe que ele subiu aquele prédio, foi por você.

Dom bufou, um tanto impaciente. O silêncio reinou depois que ela se levantou e para arrebentar o clima, ela sorriu. Mas, como sempre, não deixou de pesar na consciência de ninguém.

— Que é? Achou que o único herói da história tinha cabelo ruivo? — alfinetou Sore.

— Você estava mais legal ontem. — resmungou Dom, afinando os olhos — Saiu da máfia?

— Pois é… Família. Promessa, irmandade… Essas coisas. — ela abriu o sorriso de novo, mas desviou o assunto — Vem cá, e os nomes? Vocês pensaram em alguma coisa durante a noite?

Por Deus, minhas bochechas queimaram, desviei meus olhos do grandão silencioso e senti o olhar acusador de Dom em cima de mim.

— A noite? Vocês se viram a noite?

— Ué, ele é o pai. Quem precisa de horário é a gente… — Sore atiçava o fogo, jogando toras grossas de lenha na merda.

— O que é que vocês fizeram de noite? E porquê ele teve que vir de noite? — Dom tinha um olhar desconfiado e me olhava enquanto eu mexia no cabelo sem graça.

A bebê começou a resmungar, eu me atentei para chegar mais perto e ela abriu o choro resmungão, enquanto eu a pegava no colo.

— Pare, os dois. Está irritando ela. — pedi, enquanto via Iron se aproveitar da distração dos dois, pegar um embrulho do bolso e o colocar sobre o balcão de trocas, discretamente — Nós não pensamos nos nomes, por mais que tenha sido feito milhões de sugestões, nada me agradou. Você tem alguma? — perguntei, levantando os olhos e o silêncio predominando enquanto suas feições duras não se moviam.

— Pray. — soltou de voz grave e direta, fazendo Dom levantar a sobrancelha.

— Você nem vai à igreja… — resmungou o ruivo, num comportamento turrão totalmente diferente do seu dia a dia.

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