Eu respirei fundo, como se precisasse reunir todo o ar possível para me manter firme até o fim daquela conversa. Era a primeira vez, em muito tempo, que eu olhava para os meus pais e estava disposta a abrir cada gaveta da minha vida recente, até aquelas mais empoeiradas e cheias de lembranças difíceis.
Comecei do início.
Contei sobre a visita ao Rodrigo na cadeia, cada detalhe, cada sensação incômoda, cada silêncio pesado. Não escondi nada, nem mesmo as partes que me deixavam vulnerável. Falei sobre como aquilo tinha mexido comigo e, aos poucos, levei o relato até o momento em que o Diego entrou na minha vida.
A minha mãe manteve aquela expressão de esfinge, um rosto quase impossível de decifrar. Se ela fosse jogadora de pôquer, teria ganho todas as partidas da vida. Já o meu pai… ah, ele começou a conversa com o semblante rígido, os braços cruzados e aquele ar de “não sei se vou aprovar isso”. Mas conforme eu falava sobre tudo o que o Diego fez por mim, sobre como ele não apenas me tirou da tristeza, mas reconstruiu um pedaço de mim que eu achava perdido, vi o olhar dele amolecer. Era como se a raiva inicial estivesse dando lugar a uma curiosidade mais aberta.
O Diego permaneceu em silêncio o tempo todo. E não foi por falta de coragem, mas porque eu sabia que para a minha mãe, o que mais importava era como eu me sentia. Qualquer intervenção dele poderia soar como manipulação, e eu não queria dar brechas para julgamentos precipitados.
— E foi isso...
Conclui, com a voz firme.
— Cheguei a um ponto da minha vida em que não me vejo com mais ninguém. Essa certeza está muito bem fixada no meu coração. Por isso decidimos nos casar.
Meu pai e minha mãe trocaram um olhar. E eu conhecia aquele olhar, era o sinal de que a fase das perguntas começaria.
Mãe: E a faculdade?
Minha mãe disparou, sem rodeios.
— Vou continuar. Vou terminá-la. Não vou desistir de nada. Não vou me acomodar. Eu não deixei de sonhar com a medicina só porque decidi ajustar alguns planos.

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