RODRIGO
.
.
Depois do acidente da Yanka, eu decidi que não ia mais perder tempo. A vida tinha me dado um susto grande demais para eu continuar vivendo no modo automático. Passei a me dedicar inteiramente a ela. Não era sobre fazer coisas grandiosas o tempo todo, era sobre estar presente, sobre mostrar todos os dias que ela era amada. Gestos simples, mas constantes. O café na cama, as flores sem motivo, o abraço que chegava antes das lágrimas, a mão estendida antes da queda. Eu queria que ela soubesse, sem sombra de dúvida, que eu estava ali para tudo, de corpo e alma.
Um mês depois do acidente, numa manhã qualquer, meu telefone tocou. Era o Demétrio. Atendi no viva-voz enquanto dirigia. Ele foi direto...
Demétrio: Cara, a Melissa vai se casar daqui a um mês. E... eu vou ser padrinho.
Houve um silêncio rápido. Esperei para sentir algo, qualquer coisa. Mas não veio tristeza, nem raiva, nem aquele aperto que antes me sufocava. Apenas um sorriso sincero, leve, como quem escuta uma boa notícia.
— Que bom pra ela.
Respondi. E eu quis dizer exatamente aquilo.
Eu já não olhava para o passado como um lugar onde eu queria morar. A Melissa foi uma parte importante da minha história, mas a minha história não terminava nela. Eu estava feliz por ela estar feliz.
No dia do casamento, mandei um buquê de rosas e escrevi uma carta. Cada palavra era uma despedida, não dela, mas do que nós fomos. Enquanto escrevia, senti uma paz estranha, como se estivesse fechando um livro que eu gostava muito, mas que não precisava mais reler.
Depois daquele dia, nunca mais nos vimos. Morávamos na mesma cidade, mas era como se as nossas ruas nunca se cruzassem. E eu estava bem com isso.
Um ano depois, a minha vida tomou outro rumo. Eu sabia que era hora de dar um passo maior com a Yanka. Planejei o pedido de casamento nos mínimos detalhes. Escolhi uma praia deserta e privada, no fim da tarde, quando o sol se despede e pinta o céu de laranja e rosa. Montamos uma pequena fogueira, assamos marshmallows, rimos das nossas próprias piadas ruins.
Quando ela se levantou para pegar uma bebida, eu a segurei pela mão. Tirei do bolso uma caixinha, me ajoelhei na areia e fiz o pedido...
— Yanka, desde que você entrou na minha vida, eu descobri que amor não é sobre encontrar alguém perfeito, mas sobre encontrar alguém que te inspira a ser a sua melhor versão. Eu quero continuar me tornando um homem melhor todos os dias, só para você. Casa comigo?
Ela levou as mãos ao rosto, com os olhos marejados, e antes mesmo de dizer “sim”, já estava me abraçando. Quando finalmente respondeu, foi com aquele sorriso que eu nunca vou esquecer:
Rodrigo: Claro que sim, mil vezes sim.
Transamos ali mesmo, devorei cada parte dela, enquanto repetia que ela era minha, toda minha.
Cinco meses depois, nos casamos. Não foi um casamento gigante como o da Melissa, mas foi do nosso jeito, íntimo, cheio de gente que importava, com música, comida boa e abraços demorados.
Decidi vender a casa antiga e comprar outra, não fazia sentido manter uma casa que eu tinha comprado pra morar com a Melissa.


Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A filha do meu padrasto