Leonel acordou com uma grande ressaca depois de toda aquela bebedeira do dia anterior, se sentou para tomar café com a esposa e a filha com a pouca vergonha que ainda lhe sobrava.
– Depois de velho, passou a nos envergonhar caindo de bêbado pelas tabernas. – Grita Ester.
– Fique calma mulher, não é para tanto. Estou aqui inteiro não estou?
– Como não é para tanto Leonel? Foi preciso que aquele homem te trouxesse de carro para casa por que você não se aguentava de pé.
– Aquele talzinho da cidade, ainda devo essa droga de favor a ele.
– Ele trouxe o senhor aqui? Atílio? – Perguntou Guadalupe interessada no teor da conversa de seus pais.
– E ele parecia preocupado pela idade e falta de juízo do seu pai...
O coração de Lupe se encheu de esperança e ela sequer sabia por que saber disso a fez sorrir.
– Então ele não é um homem ruim como eu pensava. – Diz ela deixando escapar um suspiro de fé.
– Talvez não seja, sabemos pouco ainda sobre ele paga fazer julgamentos. – Relembrou Ester, serviu um bolo para a filha e o marido enquanto via Lupe sorrir sem qualquer motivo.
Atílio passou a frequentar a missa regularmente para ver Guadalupe, Gabriel sempre estava por perto e não gostava nada dos olhares do rival para quela garota que ele tanto amava desde criança e ele acreditava ser sua noiva.
O padre havia marcado a cerimônia de crisma em que Guadalupe, Luíza e outra jovem da vila iriam receber o sacramento
– Sua benção padre. – Pediu Atílio beijando a mão do sacerdote.
– Que Deus te abençoe filho.
– Se o senhor permitir, quero oferecer um jantar em minha casa para a família das jovens. Quem sabe assim acreditem nas minhas boas intenções e deixem de fazer tantos julgamentos sobre mim? – Diz ele esboçando um sorriso cordial.
– Posso falar com eles esta tarde, seria uma boa oportunidade para que você consiga se relacionar melhor com os moradores daqui.
– Vou preparar tudo e no domingo à noite depois da cerimônia vou esperar todos em minha casa. – Diz Atílio firmando o compromisso com o padre.
No fim do dia, depois de organizar os eventos da igreja o padre foi até a casa de Gabriel e Luíza para fazer o convite.
Saulo teve que ser firme para convencer o filho a aceitar esse jantar, depois de muita conversa, ele aceitou afinal era parte importante na vida de sua irmã e de Guadalupe.
Se ele não fosse deixaria o caminho livre para Atílio se aproximar e isso ele não iria permitir jamais.
– Papai eu posso ir com o padre até a casa de Guadalupe? É que faz dias que não conversamos e ela tinha me pedido para ir. – Solicita Luíza ao recordar o pedido da amiga.
– Se o padre não se importar em te levar com ele na charrete. – Diz Saulo.
– Claro que ela pode vir e assim falamos mais sobre a crisma.
Eles seguiram para lá, assim que chegaram foram recebidos por Ester com um sorriso.
– Sentem-se por favor, vou chamar Guadalupe e meu marido. – Convida Ester guiando-os até a sala
– Vim fazer um convite para um jantar que irão oferecer para as jovens crismandas. – Diz o padre ao se sentar.
– Sim padre e onde seria esse jantar? – Pergunta Leonel chegando na sala e os cumprimentando.
– Na casa de Atílio, ele me pediu que convidasse as famílias. Por que uma vez recusaram o convite dele sem qualquer motivo.
– Meu pai recusou da primeira vez sem nem mesmo dar a chance de conhecer esse homem. – Guadalupe chegou e tratou de se envolver naquela conversa.
– E logo ele que foi tão gentil em trazer seu pai em casa a uns dias atrás.
– Então não vejo motivo para uma recusa. Esse homem tem feito muito pelas causas sociais da igreja e sem qualquer interesse nisso. – O padre estava firme em sua missão de desfazer a má impressão que tinham de Atílio.
Guadalupe começava a ter um sentimento de carinho por esse homem que parecia tão caridoso e cheio de boas intenções com todos.
– Tia, posso dar uma volta com Guadalupe um instante lá fora? – Pergunta Luíza querendo muito ficar a sós com a amiga.
– Claro que sim filha, mas fiquem por perto. – Diz Ester vendo as duas correrem para fora.
– Não demore Luíza, teremos que voltar daqui a pouco.
– Não antes do senhor comer o bolo que acabei de fazer padre.
As duas saíram de braço dado e foram conversar perto da cerca.
– A tantos dias não conversamos, desde que minha mãe adoeceu eu fiquei o tempo todo com ela e só temos falado brevemente na missa. – Luíza lamentava não poder estar mais presente na vida de Guadalupe como antes.
– Isso é verdade.
– Eu ouvi uns rumores sobre esse tal Atílio que nos fez esse convite...
– Que tipo de rumores? – Perguntou Guadalupe e por mais que negasse a si mesma, queria saber mais sobre ele.
– Que na cidade ele era muito galanteador e costumava desonrar todas as moças que queria.
– Rumores também podem ser falsos. – Guadalupe não queria que aquilo fosse verdade, as duas seguiram caminhando enquanto falavam.
– Você não acha esquisito ele querer dar esse jantar para nós três? Não fica parecendo meio estranho Guadalupe?
– Ele pode ter mudado...não sei o que pensar ainda, depois das duas vezes em que nos encontramos. – Ela engole seco ao recordar.
– Você se encontrou com ele? Anda me conta tudo. – Luíza guiou a amiga e se sentaram em um grande tronco.
– Eu não tive como te dizer antes, mas ele me encontrou enquanto eu seguia a cavalo levando a comida para o meu pai. Ele assustou Raio de sol e se não fosse seu irmão nos encontrar e me levar de lá eu não sei bem o que ele queria me dizer... – Guadalupe alisa as próprias mãos demonstrando nervosismo.
– Mas ele chegou a te falar alguma coisa? Tentou algo com você?
– Não deu tempo, Gabriel me levou bem rápido de lá.
– Gabriel não me falou nada disso, talvez tenha ficado tão irritado que nem quis tocar no assunto.
– E na igreja domingo, fiquei esperando minha mãe na sacristia. Ele entrou, eu me assustei e ao invés de sair de lá, corri para os braços dele.
– Ele te tocou? – Luíza arregalou os olhos.
– Sim, me abraçou forte contra o corpo dele e ainda me lembro do calor da respiração dele no meu rosto. – Ela não sabia como descrever aquela sensação, medo ou prazer?
– Deus...seu pai soube desse atrevimento?
– Não, e minha mãe pediu para mantermos segredo, não fica bem que alguém saiba que ele colocou as mãos em mim mesmo que tenha sido dentro da igreja.
– Meu irmão mataria ele! Pense bem amiga, case com meu irmão Gabriel. Ele te ama desde sempre e fica esperando por você a tanto tempo feito um bocó.
– Ele sabe da minha decisão, seu irmão precisa ter uma família e se não se casar vai passar da idade. – Diz Guadalupe se levantando.
– E esse tal Atílio?
– O que tem ele? – Ela parou e pensou.
– Sentiu alguma coisa quando ele te tocou? Algum sentimento de amor... – Luíza tinha curiosidade em relação aos sentimentos de Guadalupe e sabia que a felicidade do irmão dependia deles.
– Acho que uma mistura de medo e receio.
– Ele é um homem bonito, mas perigoso demais e principalmente para alguém como você.
Guadalupe se sentiu mal com o conselho de Luíza, não gostava de ser julgada por sua deficiência.
Não muito longe dali
Atílio preparou tudo com bastante esmero, a mansão estava bela e ele havia contratado outros empregados para ajudarem Amélia durante aquele jantar.
Por mais que fossem apenas três famílias e o padre, ele queria surpreender a todos e provar que era um homem abastado.
Logo viu chegar o motivo daquela reunião, estava linda em um vestido de cor vinho, seus olhos verdes pareciam ainda mais reluzentes naquela noite.
– Boa noite. Fiquem à vontade por favor! – Diz Atílio tentando controlar os olhares sobre Guadalupe.
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