Amanheceu e Ester ajudava a filha a escolher um belo vestido, como sempre e fazer um penteado em seus longos cabelos negros.
– Filha precisamos falar sobre um assunto muito importante agora.
– Pode falar mãe.
– Sabe que seu pai e eu nos preocupamos muito e sempre quisemos o seu bem acima de qualquer outra coisa nesse mundo.
– Eu sei, mas devem pensar mais em vocês. Por que, apesar de tudo eu posso cuidar de mim mesma sozinha.
– Você pensa que pode filha, mas não tem noção das maldades desse mundo.
Ester se sentou na frente da filha e segurou uma de suas mãos que estavam ficando cada vez mais frias conforme avançavam naquele assunto.
– Nossa decisão pode parecer severa e dura a princípio minha linda, mas um dia você vai entender (respirou profundamente) quando tiver os seus próprios filhos.
– Não vou ter filhos! – Respondeu Guadalupe corrigindo a mãe.
– Hoje à noite você ficará oficialmente noiva do Gabriel.
– De jeito nenhum mamãe, (se levantou irritada) eu nunca desobedeci a senhora e meu pai, mas não admito que os dois interfiram assim no meu destino. Não quero me casar, nem com ele e com nenhum outro. Pense em como seríamos infelizes sem nos amarmos, nossa convivência seria um martírio todos os dias.
– Já está decidido e aceite que esse anel que ele te deu em seu aniversário, é de compromisso.
Guadalupe arrancou o anel do dedo e saiu correndo para fora de casa, sabia andar por aquelas terras desde pequena.
Foi ao estábulo, montou em seu cavalo e partiu sem nem mesmo guiá-lo pelo olfato antes...saiu sem rumo e chorando.
Naquela mesma manhã Atílio e o advogado conversavam sobre as terras de Leonel e os dois passeavam a cavalo.
– Sua fazenda é uma verdadeira obra de arte, um lugar perfeito para constituir morada e uma família. – Diz Josué encantado com a beleza daqueles campos.
– Fico lisonjeado com vosso elogio, mas o assunto que lhe pedi pelo telegrama, conseguiu verificar?
– Por certo que sim Atílio, esse tal Leonel não tem qualquer escritura de propriedade em seu nome. Mas se vive nesse humilde rancho a anos poderia apelar pela posse em usucapião.
– Sei do que se trata essa lei, então apesar de não ter sequer uma prova de que as terras são dele ainda pode pedir a posse pelo tempo em que vive naquele lugar. – Atílio respondeu pensativo.
– Exatamente isso.
– Eu quero aquela propriedade e estou disposto a tudo por ela Josué.
– Só se ele regularizar a posse e ao lhe vender entregar a escritura do rancho.
– Quero que o defenda e que ele fique com as terras... – Atílio sorri.
– E depois disso? – Questiona o advogado bem curioso.
– Depois eu posso tentar tirar dele em uma mesa de jogo!
Ao olhar par ao lado Atílio viu Guadalupe cavalgando sozinha, dessa vez não estava indo em direção a cidade.
– Só pode ser o meu dia de sorte! – Atílio suspirou e sorriu, era tão incrível como seu corpo reagia a presença dela involuntariamente.
– O que disse? – Perguntou Josué.
– Se importa em voltar para a mansão sozinho?
O advogado percebeu que ele queria seguir aquela bela amazona.
– Claro que não, vá tranquilo atrás de sua prenda Atílio.
Ele sorriu e fez seu cavalo galopar com maior velocidade, até alcançar Guadalupe.
– O que faz assim tão sozinha em minhas terras? – Pergunta ele olhando de cima abaixo, montada em seu cavalo e ainda com lágrimas nos olhos.
– Senhor Atílio, me desculpe por ter invadido sua propriedade. Calculei errado a distância e achei que ainda estava perto de casa.
– Reconheceu tão facilmente a minha voz, seu cavalo é um corcel muito alinhado. – Diz ele e no fundo estava a se referir a ela.
– Sua voz é grossa e imponente e eu ganhei Raio de sol do meu padrinho quando fiz dez anos de idade.
– Sem dúvida foi um lindo presente, mas apesar de bela como sempre, você não parece feliz. Está com os olhos vermelhos e quem teve a audácia de te fazer chorar?
– Me desculpe senhor, mas não nos conhecemos para tratarmos de certos assuntos...não quero ser descortês.
– O padre me conhece bem...sabe que sou confiável e você também pode e deve confiar em mim, as vezes desabafar ajuda com a dor. – Ele solta as rédeas e entra na frente do cavalo dela com o seu.
– É que meus pais.... – Ela não consegue segurar a dor e chora.
– Há algo de errado com eles? Diga e eu juro que farei tudo o que puder para ajudar.
– Eles vão me casar com Gabriel.
– Com aquele rapaz que foi tão agressivo comigo no jantar? Eu não diria que ele é um bom candidato a seu marido pelas impressões que tive. – Atílio irritou-se e mudou o tom de voz.
– Gabriel não é agressivo...é um homem bom e trabalhador. – Respondeu Guadalupe, apesar de não o amar a ponto de se casar, sempre o estimou.
– Falando assim, me parece que vai aceitar muito fácil esse destino que lhe impuseram.
– Está enganado, não vou me casar com ele e nem com ninguém mais.
– E por que essa recusa tão grande em se unir a alguém? Tem medo? – Ele segurou o riso, adorava jogar com o medo das donzelas.
Ele olhava para os seios dela enquanto o galope do cavalo, os faziam mover. Já podia imaginar a maciez de ambos e sua boca se enchia de ganas
– Eu decidi que quero me entregar a Deus, ser freira e estou criando forças para dizer isso a ele e ao meu pai.
– Você ainda é jovem e por que não pensa melhor antes de tomar uma decisão assim? Seria uma vida de eterna clausura! – Atílio nesse momento entendeu o motivo de tanto medo do sexo oposto, mas não iria permitir que ela escolhesse um destino como esse.
– Eu já decidi isso e eles terão apenas que aceitar.
Seria um grande desperdício, uma beleza tão grande como a dela se acabar na clausura de um convento. Eu a olhava me perdendo em seus lábios naturalmente rosados e seus olhares que apesar de parecerem perdidos, iam de encontro aos meus deixando-me sem palavras.
– Entendo sua decisão como a confirmação de minhas suspeitas. – Diz ele se aproximando do cavalo dela.
– Que tipo de suspeitas?
– Que você não ama esse rapaz.
– Sim eu amo, mas apenas como a um amigo ou irmão. É um tipo de sentimento diferente daquele que se deve ter para que um casal compartilhe a vida, ou mesmo uma cama.
Eu sorri, Guadalupe não poderia ver e mesmo que pudesse, acho que seria difícil segurar tal reação espontânea.
– Por que não vamos até a cachoeira e você me conta mais sobre sua decisão de entregar a vida ao senhor? – Propõe ele, olhando para os lados se certificando que ninguém os observava.
– Não sei, não saio assim com estranhos. Me perdoe, mas não nos conhecemos bem ainda. – Ela recuou com o cavalo.
– Achei que confiasse em mim? É apenas um passeio, prometo que te levo de volta depois.
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