NARRADORA
Zeraphina inalou pela última vez aquele cheiro tão viciante que o príncipe lobo tinha para ela.
Se doía, doía fundo ter lutado tanto e não ter sequer uma chance, mas já era hora de abrir o coração para alguém que valorizasse seus sentimentos.
— Zera, desejo que você seja muito feliz. Você merece um macho poderoso que cuide desse seu coração lindo. Sempre vai poder contar comigo, não importa o que aconteça.
Aidan sussurrou do alto e Zera fechou os olhos segurando as lágrimas.
— Na real, tenho até um pouco de pena da sua companheira. Ainda não sei se vai existir alguém capaz de derreter esse seu coração congelado... e já me solta, tá bagunçando minha juba linda!
Ela o empurrou de forma brincalhona, tentando espantar o gosto amargo da despedida.
Também não era como se nunca mais fossem se ver.
No dia seguinte, quando Aidan saiu do abrigo de escamas negras formado pelo corpo enorme de Ignacio, olhou ao lado da caverna de Zeraphina.
Ela já não estava, havia partido.
— Ignacio, parece que ficamos só nós dois pra explorar o mundo – ele deu um tapinha na lateral do seu Drakmor.
Sabia que essa vida nômade estava chegando ao fim. Até mesmo Ignacio um dia teria seu filhote e não poderia segui-lo.
Para os Drakmor, como todas as espécies, quanto mais poderoso é o Alfa, mais difícil é gerar descendência.
Os Drakmor às vezes tinham um ou dois filhotes em toda a vida, além de serem extremamente dominantes por natureza — por sorte, eram poucos.
Ignacio também ainda não tinha encontrado sua fêmea favorita, mas quando encontrasse, com certeza ia sossegar.
— Enquanto o fim não chega, Theo, você e eu vamos continuar desvendando os mistérios do mundo. Posso contar com você?
Ignacio sibilou baixo e assentiu. Nem sequer entendia do que fim ele falava. Sempre estaria ao lado do príncipe.
Aidan era o verdadeiro lar dele.
Eles se levantaram para continuar subindo a cadeia remota e perigosa de montanhas que também conectava os Continentes.
Tesouros e segredos se escondiam nesses locais inóspitos.
O destino se encontrava nos lugares mais inesperados, e Aidan Walker estava prestes a ser alcançado pelo dele.
******
Um homem forte de cabelos negros carregava uma besta nos braços musculosos tatuados, com luvas de couro sempre nas mãos, atento a seu redor.
Os ouvidos do seu lobo estavam alertas aos sons da floresta selvagem, até que um cervo saltou bem na frente de seus olhos escuros e depois se perdeu de novo entre os arbustos e as árvores.
Vincent começou a correr atrás dele, disparando suas flechas sempre que via uma oportunidade.
A perseguição se estendeu floresta adentro. Ele lançou uma flecha no escuro onde viu movimento e, logo depois, o cheiro de sangue chegou até ele.
Caminhou afastando os galhos baixos até uma clareira, esperando encontrar o cervo. No entanto, o que viu fez seu cenho franzir de preocupação.
“Artemis, é da nossa espécie?”
“Não. Tentei falar com ela e não parece ter espiritualidade. Acho que é uma loba selvagem.”
Vincent se aproximou devagar da bela loba de pelagem que alternava entre castanho-avermelhado e branco.
Os olhos dela, também meio avermelhados como o pelo, o observavam com medo e cautela.
— Não vou te machucar, calma, linda.
Vincent se agachou perto dela com lentidão. Conseguia sentir o nervosismo dela, o coração batendo rápido e descompassado.
Colocou as mãos enluvadas à frente, num gesto de "não vou te machucar".
Sua personalidade reclusa e fechada fazia com que ele se desse melhor com animais selvagens.
— Me desculpa, pequena, achei que fosse um cervo – o Beta olhou com o cenho apertado e expressão culpada para a flecha cravada na pata traseira da loba.

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