ISABELLA
Desde que me lembro, tocar outra pessoa sempre significou muita dor pra mim.
Se eu tivesse sorte, absorvia boas memórias, mas minha sorte nunca foi muito boa… e a maldade tem uma predileção pela minha alma.
Qualquer um pensaria que ser a herdeira do trono dos Feiticeiros, poderosa desde o berço, portadora de uma magia incrível, seria algo maravilhoso. Mas pra mim… sempre foi uma maldição.
Tive que viver sofrimentos alheios, todo tipo de sentimento negativo e atos cruéis que não me pertenciam.
Já faz mais de 20 anos que estou longe da minha casa, das pessoas que amo — os únicos que posso tocar sem absorver suas memórias mais intensas, graças ao fato de meu pai ser mais poderoso do que eu, e ter lançado um feitiço nele, na minha mãe e na minha irmã mais velha.
Vaguei por muitos lugares buscando o local ideal para meditar, experimentar e evoluir.
Lutei como uma louca pra subir de nível, me rasgando por dentro, reinventando cada uma das minhas células.
O trovão interior me destruía… e depois eu renascia, tudo pra conseguir expulsar as sombras escuras dentro de mim, todas as impurezas e maldades dos outros que acumulei ao longo da vida.
Eu estava pronta, energia suficiente nos cristais mágicos pra me purificar assim que conseguisse expulsá-las — e eu consegui.
Consegui a parte mais difícil, mas uma vez fora de mim… fui incapaz de destruí-las, de controlá-las. Subestimei essas criaturas… e paguei com a vida.
Devo estar morta… acho. Porque a dor avassaladora que destroçava minha alma, os gritos sombrios que ecoavam na minha mente fragmentada… cessaram.
Eu me afundava num poço escuro e sem fim, mas então, o toque mais incrível, mais reconfortante, acariciou minha alma em chamas de desespero, esfriando todos os medos e afastando os fantasmas.
Agora não sei onde estou. Minhas mãos se agarram a algo macio, que também cobre meu corpo, tão quente e fofo que me faz gemer de prazer.
Eu, a princesa Isabella Darkbane, filha do Rei Feiticeiro, que sempre odiei ser tocada na vida inteira, me agarro com força ao que quer que esteja me protegendo e me aconchego naquela sensação sedosa.
Fiquei assim por um tempo indefinido. Mãos gentis e rudes me acariciavam às vezes, e um abraço gelado me envolvia.
Eu amo o frio. Por isso treino nessas montanhas nevadas.
Além disso, algo escorria pela minha garganta… um líquido doce e poderoso. Era estranho, eu deveria rejeitar aquilo, mas o poder que carregava me fazia desejar mais. Ele reparava cada célula danificada do meu corpo.
Agora estava claro que eu não morri, mas… onde estou? E com quem?
Abro os olhos, deitada de lado, abraçada a um peito forte. E na minha frente, só vejo uma pelagem branca.
Será que é uma manta?
Não… que tolice. O coração forte e poderoso b**e perto do meu rosto — chego ainda mais perto e encosto o ouvido.
É uma fera?
Sinto um leve farejar no meu cabelo e, quando levanto o rosto, dois lindos e intimidantes olhos vermelhos como rubis me encaram fixamente.
Todo meu corpo se arrepia e fico paralisada. Ele abaixa o focinho suavemente e, por instinto, tento acessar meu poder do trovão pra me defender — mas lembro.
Eu o selei pra sobreviver, pra que me desse energia. Além disso, quase o esgotei na batalha e agora ele está se regenerando devagar.
Estou indefesa, e apenas fecho os olhos quando suas presas ferozes se aproximam do meu rosto. Mas de repente… uma lambida suave na minha bochecha me faz abrir um olho e encará-lo de perto.
Me distraio e ele lambe meus lábios — nem consigo me mover. E o pior… por que estou deixando um lobo selvagem fazer isso comigo?
— Espera, espera...
Minha prudência vai embora quando ele me faz virar e praticamente se deita sobre mim. Minhas mãos se agarram à pelagem do seu pescoço.
Ele é pesado, mas não coloca todo o peso em cima.
A pelagem macia me cobre, seu focinho se perde no vão do meu pescoço e ele começa a me cheirar como se estivesse me reconhecendo. Rosna contra minha pele e meu coração dispara.
Não entendo o que está acontecendo, mas sinto a magia rugindo dentro desse enorme lobo branco. Foi ele quem me salvou?

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