Estaciono em frente ao prédio localizado na rua principal do vilarejo, olho para a construção grande e imponente, com estrutura colonial, e que ocupa todo o quarteirão. A última vez que pisei meus pés neste lugar estava completamente confuso, com vários problemas, tanto pessoais como profissionais, mas o baque de ter perdido meu orientador e amigo numa das piores fases da minha vida foi algo que me marcou muito. Porém, apesar do choque de ter perdido umas das pessoas mais importantes naquele fatídico dia, nada se compara ao fato de ter sido obrigado a deixar a pequena Melanie neste lugar, que se tornou o seu calvário. Ter descoberto esse fato me deixou mais miserável do que estava por me martirizar e culpar dia após dia, primeiro por tê-la deixado aqui, neste convento e, em segundo lugar, por não ter sido forte o suficiente para resistir à atração que sinto por Melanie e por não ter tido coragem de lhe confessar o que fiz a ela.
─ Vamos lá, Ethan, seja forte e comece a fazer a coisa certa por sua menina, seu anjo caído que mesmo você não merecendo tem sido sua luz, seu raio de sol. ─ Encorajo-me antes de abrir a porta do carro e me dirigir à porta principal.
Toco a campainha e aguardo ser atendido, o que não demora muito. Depois de explicar à freira que atendeu a porta que precisava falar com a Madre Superiora, ela me encaminha até uma sala de espera enquanto foi comunicar sobre a minha presença para madre Yolanda. Alguns minutos depois, a própria madre vem me receber com sua familiar bajulação. Quando olho para a cara odiosa da mulher, me pergunto como fui capaz de largar aquela garotinha neste lugar sombrio e, principalmente, com essa mulher, que só de olhar percebo ser mau caráter. Levanto-me ficando cara a cara com ela.
─ A que devo a honra da visita ilustre do médico e diretor do Centro Médico da cidade?
─ Preciso falar sobre a Melanie Evans, madre. ─ Digo sucinto.
Ela pareceu notar minha hostilidade e imediatamente se adianta.
─ Então vamos para minha sala, doutor. Lá poderemos conversar mais sossegados. ─ Sugere um tanto sem graça, indicando o caminho até o seu escritório.
Quando ela fecha a porta, trancando nós dois dentro da sala, dou tudo de mim para não despejar tudo de uma vez, mas contenho-me por entender que tenho que agir com a razão e não ser impulsivo, pois tenho que enredá-la para que consiga o que quero.
Aguardo que ela se sente em sua cadeira para sentar-me em seguida.
─ Pronto, Doutor Collins, agora podemos conversar mais tranquilamente. Em que posso ajudá-lo? ─ Apesar de seu tom calmo, percebo certo nervosismo em sua voz, que ela tenta disfarçar.
─ Madre, vou ser direto com a senhora. Gostaria que a senhora me fornecesse uma planilha com todos os gastos da Melanie aqui no convento, pois dei-me conta que, ao lhe passar os cheques para cobrir as despesas dela, jamais exigi que me fosse comprovado que o dinheiro realmente estava sendo utilizado para cobrir as despesas dela. Além disso, gostaria de falar com ela, se possível. ─ Digo e, assim que as palavras saem da minha boca, a mulher fica completamente pálida e sem fala, mas recompõe-se rapidamente e rebate.
─ Meu filho, peço que entenda, pois não teria como lhe fornecer tal planilha, tendo em vista que não fiz nenhuma anotação dos gastos que tive com a noviça Melanie esses anos todos. Compreenda filho, somos um convento, uma entidade sem fins lucrativos e tudo que entra aqui é recebido com alegria e utilizado imediatamente já que as despesas são tantas e o dinheiro tão pouco. ─ A velha ladainha de sempre...
─ Compreendo, madre... Porém, preciso que a senhora entenda o meu lado também, pois todas as vezes em que a senhora me ligava informando que a Melanie precisava de algo, eu, urgentemente, atendia seu pedido sem questionar nada até mesmo quando insinuava que queria vê-la a senhora me informava que ela estava bem enclausurada e que não queria ver ninguém do mundo exterior e mais uma vez acatei seu pedido, no entanto, agora não aceito mais esse tipo de argumento e quero... não, exijo que chame Melanie para que eu fale com ela, para saber se está bem de verdade. Creio que a senhora não irá negar meu pedido dessa vez, tendo em vista que fui bastante benevolente quando a senhora acaba de se recusar a prestar contas do dinheiro que lhe foi entregue. ─ Vejo seu rosto ficar completamente pálido com minha ordem.
Como fui idiota por acreditar nessa mulher por tanto tempo!
─ E... Eu não estou me recusando a nada, filho, apenas não pude lhe prestar contas por simplesmente não poder e quanto ao fato do senhor não conseguir ver a noviça, jamais impedi que isso acontecesse, pois não poderia obrigar a noviça a algo que ela não queria, doutor Collins.
─ Se é assim, então a chame agora, madre. ─ Ordeno.
─ E... Eu ... Ela está doente e não pode sair do quarto... Na verdade iria até ligar para o senhor para lhe informar desse fato, já que estamos precisando comprar remédios para ela. ─ Maldita mentirosa e interesseira! Se ela pensa que vou continuar sendo idiota, ela está muito enganada!
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