Olho para meu reflexo no espelho do enorme closet do quarto em que Ethan e eu fomos alojados. Desde que fomos acomodados neste quarto não vi mais Ethan, pois o pai dele o chamou para conversar no escritório da casa e até agora ele não voltou. É quase hora do jantar e confesso que estou um pouco apreensiva, pois sei que o jantar será em homenagem ao regresso de Ethan e que a casa terá vários convidados.
Quando Hanna, a irmã de Ethan, veio ver se eu estava bem, ela me disse que vários amigos de Ethan estariam presentes e que o jantar seria um pouco formal. Na mesma hora entrei em pânico, porque nunca fui a nenhum evento formal em toda minha vida, mas também, como poderia, não é? Trancada vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana naquele convento, não poderia mesmo participar de nenhum evento desse porte. Quando Hanna se ofereceu para me ajudar a escolher uma roupa e maquiagem para o evento, juro que respirei aliviada, pois não quero cometer nenhuma gafe. Ela e eu fuçamos minhas roupas atrás de algo adequado para o evento, mas como só trouxe roupas casuais, Hanna me emprestou um vestido seu que, a princípio recusei, óbvio, mas ela me convenceu ao usar o argumento de que a roupa havia me caído bem e que ela ainda não havia usado o vestido, portanto, agora estou eu de frente para o espelho olhando para mim mesma através do meu reflexo e sem acreditar que a imagem que me olha de volta sou eu mesma.
─ Você está linda, cunhadinha! ─ Olho para Hanna querendo concordar com sua afirmação, mas estou embasbacada demais comigo mesma para lhe dar qualquer resposta. ─ Meu irmão quando te ver vai cair para trás, certeza.
─ Obrigada, Hanna! ─ Digo, girando e ficando de frente para ela já com os olhos marejados de emoção. ─ Ninguém nunca fez algo assim por mim, obrigada.
─ Não precisa me agradecer, Mel. Nós agora somos família e família cuida um do outro. Agora seque essas lágrimas para não estragar minha obra de arte. ─ Diz piscando para mim com um sorriso nos lábios. ─ Vou me arrumar e daqui a pouco nos encontramos lá embaixo, tá ok?
─ Está bem. ─ Concordo antes dela me dar um beijo na bochecha e sair porta a fora.
Alguns segundos depois a porta se abre novamente.
─ Você esqueceu alguma coisa, Hanna? ─ Questiono ao ouvir a porta bater.
─ Uau! ─ Ouço a exclamação seguida de um palavrão e meu coração dá um solavanco dentro do peito ao perceber que se trata de Ethan.
Viro em direção ao som da voz e tenho certeza de que meu rosto deve estar super vermelho pela forma como ele está me olhando: com desejo, fome e admiração.
─ Você está linda, Anjo! ─ Anuncia, aproximando-se lentamente de mim.
Confesso que estou me sentindo realmente linda agora, pois a roupa caiu muito bem em meu corpo, o vestido vermelho é de um tecido todo rendado, com uma saia rodada e que vai até o joelho, com um decote discreto, mas que valoriza meu colo e desenha toda a minha silhueta. Além disso, a maquiagem simples, mas bem feita, e com o detalhe do batom vermelho em meus lábios dá um ar de sofisticação e sensualidade. Meus cabelos foram escovados e deixados com leves cachos nas pontas para dar mais volume e, para completar o quadro, Hanna me emprestou um de seus sapatos. Se bem que o sapato que ela me sugeriu, um de salto bem alto, tive que rejeitar, pois não conseguiria andar naquele troço sem me esborrachar de cara no chão, então escolhemos um sapato de salto menor, mas não menos elegante e bonito.
─ Obrigada. ─ Agradeço timidamente.
─ Você está realmente muito bonita, Anjo. E se eu já estivesse totalmente ap... louco por você, com toda certeza estaria de quatro agora mesmo. ─ Sorrio para ele. ─ Agora preciso me arrumar e ficar bonito também para estar à altura da minha bela namorada que, com toda certeza, será a mulher mais linda de todo o jantar. ─ Ele sussurra e me dá um beijo nos lábios antes de entrar no banheiro.
Toda vez que ele diz as palavras “minha namorada” meu coração se aquece dentro do peito querendo saltar de tanta alegria.
Meia hora depois estamos descendo a grande escada que dá acesso ao andar de baixo da casa. Lado a lado e de mãos dadas, Ethan e eu somos saudados por seus pais assim que chegamos à sala de estar, depois somos cercados por amigos, parentes e conhecidos da família Collins. Sou apresentada a todos eles como sendo a namorada de Ethan, porém percebo que algumas pessoas estranham o fato de eu ser namorada do Ethan ao me cumprimentarem, mas não dou muita importância ao assunto.
─ Ora, ora se não é Ethan Collins de volta à Inglaterra.
Ao ouvir a voz do homem, Ethan trava o maxilar com uma fúria visível que nubla seus olhos castanhos. Fico me perguntando quem é esse homem e o porquê da hostilidade palpável entre os dois.
─ O que faz aqui, Charles?
─ Ora, vim dar as boas-vindas ao meu primo querido. ─ O sujeito responde com ar de deboche e ironia.
─ Não me venha com suas ironias, seu escroto de merda, pois tenho certeza de que ninguém da minha família o convidou para esse jantar. Portanto, saia pela mesma porta em que entrou e eu prometo não lhe acertar a cara como da outra vez. ─ Ethan é frio e cru em sua ameaça velada, o que parece não intimidar o tal sujeitinho.
─ Mas que maneira mais bruta de cumprimentar um parente, primo. Achei que as mágoas já tinham ficado no passado, mas vejo que me equivoquei. ─ Quando ia dando meia volta, o homem loiro de olhos azuis me encara, olhando-me de cima a baixo e, como se tivesse gostado do que viu, sorri todo galante estendendo-me a mão em cumprimento.
─ Desculpe os modos do meu querido primo, senhorita, mas educação não é muito o forte do Ethan, portanto, permita-me apresentar-me, sou Charles Collins, primo de Ethan.
Fico em dúvida se aceito ou não a mão estendida, mas para evitar chamar a atenção para nós, aperto sua mão em cumprimento.
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