Sete dias haviam se passado desde o acidente, e, a cada amanhecer, Ethan sentia a vida retornando pouco a pouco. O corpo ainda reclamava com dores persistentes. A perna seguia engessada, o movimento limitado, os músculos fracos… mas o coração, esse parecia mais forte do que nunca.
Helen permanecera com ele todos os dias.
Estava lá nos exames, nas fisioterapias, nas madrugadas mal dormidas. Não importava se chovia, se o dia era longo, ou se ela própria estava exausta. Helen aparecia com flores frescas, com um novo livro, com sopa quente, com aquele olhar que dizia “estou aqui”, mesmo sem palavras.
Ethan fazia tudo que ela mandava. De bom grado.
Nem mesmo quando ela o proibiu de comer bolachas recheadas escondidas na gaveta de cabeceira, ele ousou desobedecer. Porque cada gesto dela carregava mais que zelo. Carregava amor. E ele sabia: reconquistar a confiança dela era o maior projeto de sua vida.
Naquela tarde, o sol entrava preguiçoso pela janela do quarto. Helen trocava as flores da mesinha lateral, um hábito que criou para “dar vida” ao ambiente. Ela estava com um coque improvisado, blusa leve e expressão cansada, mas aos olhos dele… nunca fora mais linda.
— Helen… — murmurou ele, com a voz baixa.
Ela se virou imediatamente.
— Sim?
Ethan a observou por longos segundos. Gravou cada detalhe do rosto dela.
— Obrigado.
Helen se aproximou, sentando ao lado dele.
— Pelo quê?
— Por me dar essa chance. — Ele sorriu. — Por acreditar… mesmo depois de tudo.
Helen pegou a mão dele e a apertou com suavidade.
— Eu acredito. Mas… ainda estou aprendendo a confiar outra vez.
— Eu sei. — ele respondeu. — E vou reconquistar isso. Um passo de cada vez. Pelo tempo que for preciso.
As lágrimas brotaram nos olhos dela. Mas eram lágrimas de esperança, de renascimento.
Helen se inclinou e beijou a testa dele com ternura e Ethan fechou os olhos sorrindo. Era um homem sendo reconstruído pelo amor da mulher que quase perdeu.
A porta do quarto se abriu com certo estrondo. Zoe entrou como um furacão, trazendo energia e duas sacolas de comida.
— Notícia boa! Trouxe salgadinhos escondidos da Helen e…
— NÃO! — a voz de Helen veio antes mesmo de ela entrar no quarto. — Salgadinhos? Ethan Carter, você prometeu!
Zoe fez cara de santa.
— É pro Liam. Eu juro.
Como se fosse invocado pelo próprio nome, Liam entrou logo atrás com uma cara sonolenta e uma garrafa térmica na mão.
— Olha quem apareceu. — disse Ethan, meio rindo. — Atrasado, como sempre.
— Eu vim, não foi? — respondeu Liam. — E trouxe café, isso me torna o cunhado favorito.
Zoe fungou.
— Só porque é o único cunhado.
Ethan se ajeitou na cama, puxando o lençol até a cintura.
— Aproveitando que você está aqui, posso te pedir um favor?
Liam levantou uma sobrancelha.
— Se for dinheiro, só depois que você sair do hospital. Tô com bloqueio emocional com boletos.
— Não. — disse Ethan, rindo. — Eu preciso de ajuda para tomar um banho decente.
Helen, que ajeitava as flores, virou o rosto lentamente.
Helen travou no mesmo instante. O sorriso sumiu. Ela olhou para a enfermeira como quem analisa uma ameaça biológica. Cruzou os braços, ergueu o queixo e disse, em um tom direto e polido demais:
— Muito obrigada pela oferta, mas ele não precisa. Ele está muito bem assistido.
A tensão pairou no ar por um segundo.
Zoe mordeu o lábio para não explodir de rir de novo.
Helen encarou o marido com um olhar de poucas palavras, mas muito conteúdo.
Ethan, já com a mão no rosto, resmungou:
— Você vai me pagar por isso, Owes…
— O quê? — disse Liam, confuso. — Eu nem encostei em você!
— Mas começou tudo. Você é o culpado por esse circo.
— Helen podia ajudar você no banho, afinal ela é sua esposa e já está acostumada com o “monstro” que você tem no meio das pernas. — disse Liam com um sorriso zombeteiro.
Tanto Helen quanto Ethan coraram e Zoe gargalhou alto.
— Ah, tenho que concordar com meu namorado! — falou Zoe.
Ethan corou e puxou o lençol e Helen desviou o olhar corada, mas depois os dois se olharam e acabaram sorrindo juntos.
Por mais bizarro que tivesse sido, aquele momento foi como uma lufada de ar fresco. Uma prova de que a vida podia, sim, ser reconstruída com amor e humor.
E naquele quarto, com flores novas, risos verdadeiros e corações mais próximos, o amor estava sendo tecido outra vez, entre esponjas, ciúmes, piadas e promessas.
Porque amar também era isso.
Rir juntos, até do que não se pode dizer em voz alta.

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