Helen sempre foi uma mulher de palavra.
Determinação era sua marca registrada. Quando dizia que ia devagar, era porque ia. Que ia dar espaço, respeitar o tempo, priorizar a reconstrução do relacionamento com Ethan. Que agora era diferente. Mais maduro. Mais sólido.
Mas ninguém avisou o corpo dela sobre isso.
Porque, por mais que sua mente fosse firme, o resto inteiro gritava por ele.
Era o olhar intenso dele ao acordar. A forma como sua voz ficava rouca ao sussurrar “bom dia”. Era a maneira como ele se arrastava pela casa apoiado na muleta, com o short de algodão baixo demais e a camiseta grudada no tórax. Era o cheiro, o sorriso, o toque suave no meio de uma conversa banal.
Ethan Carter era, atualmente, um atentado à estabilidade emocional e hormonal de Helen.
E o pior? Ele sabia.
Enquanto Helen enfrentava sua batalha silenciosa contra o desejo, Ethan passava sua manhã em casa, ou pelo menos tentava.
Sentado no sofá da sala, com a perna engessada apoiada sobre uma almofada decorativa (com pandas, cortesia de Zoe), ele bebia seu segundo café quando Liam apareceu carregando duas sacolas e o caos.
— Bom dia, inválido favorito da semana! — gritou, largando as sacolas sobre a mesa. — Vim salvar você da solidão.
— Não estou sozinho. — disse Ethan, sem tirar os olhos do jornal. — Sua namorada está aqui. O que significa que minha paz morreu às 7h43.
— E eu sou o quê? — Liam perguntou, já abrindo um pacote de pão de queijo.
— Um incômodo mais suportável. Porque pelo menos traz comida.
— Que romântico. — retrucou Liam, rindo. — E a Helen? Sobreviveu à noite?
Ethan olhou por cima do jornal com um sorriso sugestivo.
— Helen… quase perdeu a batalha.
Liam arregalou os olhos.
— Você tá me dizendo que, mesmo com a perna engessada, você tentou?
— Eu não tentei nada. — interrompeu Ethan. — Mas eu respiro, falo e sorrio. Isso já é suficiente pra ela querer pular em cima de mim.
Liam soltou um assobio.
— Isso é autoestima ou presunção?
— É a verdade. — disse Ethan, apoiando a cabeça na almofada. — Ela diz que quer ir devagar. Mas toda vez que me vê de short, ela gagueja. Ontem, ela ficou vermelha só em ver minha ereção matinal.
— EU NÃO PRECISAVA DESSA IMAGEM! — berrou Liam, cobrindo os olhos com as mãos.
— Você perguntou.
— Uma coisa é perguntar, outra é ouvir detalhes sobre o “monstro acordando”.
Ethan gargalhou, satisfeito.
— Monstro acordando. Essa é nova. Vou usar com ela.
— Ethan! — protestou o cunhado e amigo. — Deixa a pobre da Helen respirar. Ela está grávida. Deve estar com os hormônios à flor da pele!
— E o que eu faço se só de olhar pra ela com aquele pijama curto eu quase viro lenda urbana?
Liam jogou uma almofada nele.
— Vira monge, ué! Autoajuda, respiração profunda… j**a água fria!
— A única coisa fria aqui é a minha paciência. — resmungou Ethan, afundando no sofá. — Mas tudo bem. Se ela quiser ir devagar… eu espero. Nem que isso me mate aos poucos.
— E como anda as coisa na empresa? Meu pai toda vez muda de assunto quando pergunto.
— Está tudo indo bem. Seu pai tem ajudado bastante e o acionistas estão otimistas quanto aos acordos que você fez antes do acidente. Seu sogro também tem ajudado, até o Michael apareceu na empresa recentemente.
Ethan sentiu um frio percorrer a espinha ao ouvir o nome do primo de Helen.
— Agora falando sério, aquela surra que ele deu em você foi digna de cinema.
— Eu deixei ele me bater que isso fique registrado.
— Ah, tá certo, vou fingir que acredito.
— Não vejo a hora de tirar esse gesso e voltar a trabalhar. Ficar em casa sem fazer nada e sozinho é um tédio!
— Ora vai fazer palavras cruzadas.
— Vai você fazer palavras cruzadas! Agora me dá mais um pai de queijo desse que com Helen não posso comer bobagem.
— E o pior Tânia, ele fica excitado e faz questão de me deixar perceber.
— Como anda a ereção matinal?
— Gigante. Ontem por muito pouco em não mandei meu autocontrole pras cucuias e montei sobre ele.
Tânia colocou a mão sobre o coração.
— Helen. Amor. Escuta a sua amiga. Você precisa de um plano.
— Um plano?
— Se entrega e depois culpa os hormônios.
Helen arregalou os olhos.
— O quê?
— Hormônios da gravidez! Eles servem pra isso! Você chega nele, beija, morde, sobe, domina, e depois diz: “Desculpa, amor, culpa dos hormônios. Eu nem estava pensando direito.”
Helen começou a rir, escandalizada.
— Tânia! Você é um gênio do mal!
— Eu sou uma mulher prática. E, sinceramente, já passou da hora de você parar de sofrer. O Ethan está a um centímetro de te devorar com os olhos. E você… bom, seu corpo tá em erupção desde terça.
Helen respirou fundo, passando as mãos no rosto.
— Eu vou pensar no seu conselho.
— Não pense demais. Desejo não é inimigo do amor, Helen. Desejo também é cuidado. Também é entrega.
Helen olhou para a amiga com carinho. Sabia que ela estava certa.
E talvez, só talvez… naquela noite… o “devagar” ganhasse um novo ritmo.
Com a desculpa perfeita pronta na ponta da língua:
“Desculpa, amor… são os hormônios.”

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