O céu alaranjado da tarde dava lugar ao azul profundo da noite enquanto Helen caminhava para o estacionamento da empresa, as mãos segurando a bolsa com força, os saltos marcando presença pelo corredor polido. Ela havia sobrevivido a mais um dia no escritório. Sobrevivido… com muito custo.
Cada vez que fechava os olhos, a lembrança do corpo de Ethan surgia diante dela. Aqueles ombros largos, o olhar rouco de manhã, a voz ainda embriagada de sono chamando por ela com aquele maldito apelido carinhoso que agora causava arrepios de baixo para cima: “Chatinha.”
Mas não era só o corpo que a desestabilizava. Era a forma como ele a tocava com os olhos, a delicadeza com que a respeitava, mesmo com o desejo pulsando nos músculos. E, claro, o conselho de Tânia ainda ecoava na cabeça dela como uma trilha sonora indecente:
“Se entrega e depois diz que foi culpa dos hormônios. Usa o bebê como álibi. É libertador, é terapêutico e, no seu caso, é urgente.”
Helen riu sozinha, entrando no carro. Sim, os hormônios estavam em festa. O desejo era real, mas não era só isso. Era o amor que explodia dentro dela. A forma como o coração dela batia diferente toda vez que via Ethan sorrindo. E agora… agora havia três corações envolvidos nessa história.
Ela ligou o carro e seguiu o caminho de sempre, mas com um pensamento diferente. Havia uma decisão amadurecendo ali, entre o batom e os batimentos acelerados. E não era racional. Era visceral.
Quando chegou ao apartamento de Ethan, o silêncio foi a primeira coisa que a fez estranhar. A luz da sala estava acesa, mas nenhum som, nenhum riso, nenhuma reclamação, nem mesmo a televisão ligada com um documentário chato sobre tubarões, o novo vício de Ethan.
Ela entrou devagar, colocando as chaves sobre a mesa lateral, e caminhou até o corredor.
O quarto dele estava entreaberto.
Helen empurrou a porta com delicadeza e não conteve o sorriso que nasceu quando viu a cena.
Ethan dormia.
O rosto calmo, a respiração profunda, os cabelos desalinhados. A perna engessada esticada sobre o edredom e uma das mãos descansando sobre o peito. A televisão estava ligada num volume baixo, passando um filme antigo qualquer.
Ela sentiu o coração acelerar com aquela imagem. Suspirou fundo e sua mente fez uma retrospectiva de tudo o que eles viveram nos últimos meses. A entrega dos dois, a farsa de Miranda, o acidente… levou a mão ao coração sentindo o peito acelerar só de imaginar se ele não tivesse sobrevivido. Olhar Ethan ali, vivo e bem era o que ela mais desejou nesses últimos quinze dias. Levou a mão até o ventre e fez um pequeno carinho sussurrando:
— Não se preocupe bebê, tudo agora vai ficar bem, mamãe é papai prometem.
Helen cada dia mais tinha a certeza de uma coisa, valia a pena reconstruir tudo, mesmo depois da dor.
Se aproximou com passos suaves, desligou a televisão e já ia sair do quarto quando ouviu, rouco e arrastado:
— Chatinha?
Ela virou, sorrindo.
— Oi.
Ethan piscou devagar e então sorriu ao vê-la ali, tão linda e iluminada pela luz suave do quarto.
— Demorou.
— Exagerado… — Ethan fez um bico fofo e Helen sorriu. — Ainda é cedo. — respondeu ela, largando a bolsa no chão. — Fui buscar umas coisas na casa da sua mãe… Ela fez comida pra nós três.
O sorriso dele aumentou.
Três. Ela, ele e o bebê.
— Soa bonito quando você fala assim. — disse ele, com ternura. — Nós três.
Helen apenas sorriu e se aproximou, acariciando os cabelos dele com os dedos.
— Vou tomar um banho. Depois podemos jantar e ver um filme. Quer ver aqui?
Ethan esticou o corpo com cuidado, espreguiçando os ombros.
— Não. Prefiro a sala. Passei o dia inteiro aqui trancado.
— Então tudo bem.
Ela se curvou e depositou um beijo rápido na testa dele antes de sair do quarto. Caminhou até o dela e fechou a porta, sentia o coração batendo mais rápido do que gostaria de admitir.
— O quê?
— Isso. Essa camiseta que não esconde nada… Essa cara de santa que vai me levar direto pro inferno.
Helen riu e caminhou até o sofá.
— Não tenho culpa se os hormônios escolheram esse look.
— Os hormônios querem me matar.
Ela se sentou ao lado dele, dobrando uma perna sobre o sofá e ficando de frente para ele. O tecido da camiseta subiu, revelando mais da coxa.
— Como foi seu dia?
— Uma tortura. — respondeu ele, com os olhos presos nos lábios dela. — Pensei em você o tempo todo. E em como eu não posso te tocar do jeito que quero ainda.
Helen se aproximou mais, apoiando o cotovelo no encosto do sofá.
— Talvez você possa. Um pouco.
— Helen…
— Você quer?
Ele passou a mão pelos cabelos, a tensão vibrando em cada músculo.
— Você não tem ideia.
— Então me mostra.

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