O galpão cheirava a ferrugem, mofo e desespero. As paredes descascadas absorviam o silêncio como esponjas envelhecidas. Nada ali vibrava com vida, exceto ela. Miranda.
Sentada à frente de uma mesa metálica, iluminada apenas pela luz fria de uma lâmpada pendurada por fios tortos, ela cortava uma peça de roupa branca com uma lâmina pequena e afiada. Suas mãos se moviam com precisão cirúrgica. A respiração estava calma, quase serena.
Sobre a mesa, havia uma nova roupinha de bebê, dobrada com meticulosidade. Ao lado, frascos de vidro contendo líquidos translúcidos. Etiquetas manuscritas com códigos enigmáticos. Uma seringa. E um plano.
— Nada vai me impedir. — ela murmurou, como se repetisse um mantra.
Na parede, coladas com fita adesiva, havia fotos. Muitas fotos.
Ethan, Helen, Zoe, Liam… James.
Algumas marcadas com tinta vermelha. Círculos. Anotações. Riscos que cruzavam olhos, bocas, gargantas.
Miranda se levantou e caminhou até o painel. Tocou a imagem de Helen com a ponta dos dedos, como se pudesse sentir sua pele através do papel.
— Você roubou tudo de mim. — sussurrou. — O amor, a atenção, a chance… tudo.
A voz dela tremia, mas não de fragilidade — de excitação.
Ela voltou à mesa e ligou o pequeno notebook. Na tela, abriu uma janela com câmeras de segurança da Carter Enterprises. O sinal era instável, mas suficiente para ver a movimentação dos corredores. Ela havia encontrado um modo de invadir o sistema com a ajuda de um “fantasma”, um hacker contratado por um valor alto e com garantias de anonimato.
— Hoje não é só o começo. — murmurou. — Hoje é o ensaio do fim.
Digitou rapidamente no teclado. Enviou instruções para dois contatos com perfis falsos: “Entregar pacote. Mesma hora. Entrada dos fundos.”
Minutos depois, o celular antigo sobre a mesa vibrou.
ENTREGA CONFIRMADA – 08H15.
Miranda sorriu. Mas não com os lábios, com os olhos.
Na manhã seguinte, uma funcionária da limpeza entrou pela porta dos fundos da empresa com um carrinho coberto por lençóis. Trajava uniforme comum, crachá genérico e um capuz preso discretamente sob o coque.
Ninguém desconfiou. A maioria dos funcionários da torre mal notava o rosto dos profissionais de manutenção. Era o disfarce perfeito.
No fundo do carrinho, sob um falso compartimento, estava uma pequena caixa branca com o mesmo laço vermelho, idêntica à anterior.
A mulher empurrou o carrinho até o andar da presidência, fingiu limpar o chão de um dos corredores e deixou a caixa discretamente em frente à sala de reuniões onde, segundo a programação, haveria um encontro com investidores naquela manhã.
Mas ali dentro, Helen não estaria.
Era apenas o ensaio.
O teste.

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