O quarto estava silencioso, mas repleto de lembranças. O abajur emitia uma luz suave, e o aroma do chá de camomila ainda pairava no ar. Helen sentou-se na poltrona de amamentação, com uma manta leve sobre as pernas. Ethan estava de pé, encostado na moldura da porta, observando cada detalhe daquele espaço sagrado: o berço montado com carinho, os bichinhos alinhados nas prateleiras, a plaquinha com o nome “David” em madeira clara.
O silêncio entre eles era denso, mas não desconfortável. Era o tipo de silêncio que vem depois da tempestade. Depois da guerra.
— Eu ainda não consigo acreditar que conseguimos chegar até aqui — disse Helen, quebrando o silêncio, com a voz serena.
Ethan se aproximou devagar e se ajoelhou à frente dela, apoiando os cotovelos em suas coxas, como fazia quando precisava dizer algo do fundo da alma.
— Helen… — começou, com os olhos fixos nos dela. — Eu fico lembrando de tudo o que passamos. E me pergunto como o amor sobreviveu a tudo aquilo.
Ela sorriu, mas o olhar se nublou por instantes. O passado ainda doía, mesmo agora, mesmo ali, no quarto do filho deles.
— Porque ele era verdadeiro — respondeu.
Ethan engoliu em seco. Sentia o peito apertar só de lembrar.
— Aquela noite… — murmurou ele, a voz mais baixa que um sussurro — aquela maldita noite em que Miranda me drogou, armou tudo… e você entrou no quarto… e me viu… com ela nua na minha cama…
Helen fechou os olhos. A imagem ainda vinha como um soco.
— Eu vi o que ela queria que eu visse — disse ela, firme. — Mas doeu como se fosse verdade.
— Eu juro que não lembro de nada. Eu acordei atordoado, com gosto de veneno na boca e o corpo pesado. Ela fingiu que… que tínhamos dormido juntos. Aquela mulher… — ele abaixou a cabeça — ela destruiu tudo com um estalar de dedos.
— E eu fui embora sem ouvir, sem perguntar. Vocês dois tiveram uma historia, você sempre dizia que a amava e eu…
— Eu não te culpo meu amor. Eu… eu errei muito, quando lembro de nossa lua de mel, do nosso casamento, das coisas que eu te disse… — Ethan suspirou fundo e fechou os olhos. — Eu… não mereço o seu amor.
Helen levou as mãos até o rosto do esposo e olhando em seus olhos disse:
— Nunca mais diga isso. Meu amor sempre foi seu, e jamais pertenceu a outro homem.
— Eu fiquei louco, Helen. — Os olhos dele ardiam. — Quando você partiu, eu pensei que jamais iria me perdoar. E quando vi você e o James no jardim… aquilo me destruiu.
— Foi apenas um beijo, nunca significou nada. E James depois, percebeu que na verdade seus sentimentos eram fraternais.
— Mas doeu… imaginei como não doeu para você todas as vezes que me via com ela…
Helen sentiu o peso daquelas palavras.
— Naquela noite que sai do nosso apartamento, eu estava com o coração despedaçado. Queria te odiar. Queria apagar você. Mas cada vez que eu tentava… o amor gritava dentro de mim.
— E então veio a gravidez. — completou Ethan, com os olhos fixos na barriga dela. — E eu nem estava lá.
— Eu descobri que estava grávida uma semana depois de te deixar. — disse Helen, com lágrimas contidas. — Eu achei que fosse criar nosso filho sozinha. Que você não merecia saber. Porque eu acreditava… naquela mentira. Até que…
— Até que o acidente aconteceu. — disse ele, com um nó na garganta.
Helen fechou os olhos por um instante. A lembrança daquele dia era uma faca girando em seu peito.
— Me ligaram dizendo que você tinha sido internado em estado grave. Que o carro tinha capotado. Que você quase não resistiu…
— Eu estava destruído. Bêbado. Sem rumo. Eu dirigia sem saber pra onde ia. Só queria fugir de mim mesmo. Quando o carro bateu… eu só pensei em você.


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