Helen estava escondida no quarto havia meia hora. Tinha tomado um banho rápido, vestia um vestido leve e solto, mas andava de um lado para o outro como se estivesse sendo caçada por um exército.
Ethan, por outro lado, estava esparramado na cama, sorrindo satisfeito como quem tinha vencido uma guerra.
— Vai sair do quarto em algum momento ou vai passar o resto da gravidez se alimentando por frestas na porta? — ele provocou.
— Eu não posso encarar a Maria, Ethan. Nunca mais. Nunca. Mais.
— Ela já viu coisa pior na TV.
— Ver em série turca é uma coisa. Ver a patroa agarrada ao marido na bancada da cozinha é outra completamente diferente!
— Pelo menos ela vai saber que você tá bem alimentada.
Helen jogou uma almofada nele.
— Você é um idiota.
— Sexy e muito bem casado. — respondeu ele, piscando.
Ela sentou-se na beira da cama, suspirando profundamente.
— E se ela pedir demissão?
— A gente dobra o salário.
— E se ela contar pra Zoe?
— Zoe vai transformar isso numa série em três temporadas.
Helen gemeu e escondeu o rosto nas mãos.
— Isso vai me assombrar pelo resto da vida.
— Ou pelo menos até o David nascer.
Ela levantou, respirou fundo e se dirigiu até a porta com expressão dramática.
— Se eu não voltar, diga ao nosso filho que o último desejo da mãe dele foi uma batata frita com milk-shake.
Ethan riu alto.
Helen saiu do quarto.
Na cozinha, Maria arrumava a louça no escorredor com uma precisão cirúrgica. Estava extremamente compenetrada, os fones de ouvido pareciam colados à alma. Helen pigarreou.
Nada.
— Maria…?
Maria se virou com um sorriso sem graça.
— Dona Helen! Bom dia. Tudo… tranquilo?
— Mais ou menos.
As duas se encararam. O silêncio era ensurdecedor. O clima era o de uma guerra fria de olhares e constrangimento.
Helen tentou soar casual.
— Café?
— Já deixei passado, com leite morno e pão na chapa. Como a senhora gosta.
— Perfeita. Obrigada. — respondeu Helen, tentando se sentar na banqueta da ilha sem parecer um animal traumatizado.
Maria fingia lavar uma colher. Por cinco minutos.
— Maria… — Helen começou.
— Dona Helen… eu juro… eu não vi nada! Nem sei do que a senhora tá falando!
— Maria, você entrou na cozinha enquanto eu… bom… enquanto estávamos…
— Eu vi apenas sombras e sons. Eu estava com fone. Fone alto. Escutando… música gospel. — respondeu, com um aceno santo.
Helen arregalou os olhos.
— Música… gospel?
— Muito alta. Muito, muito. Nem sabia que vocês estavam ali.
Helen deixou a testa cair sobre o balcão.
— Isso é um pesadelo.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Após o Divorcio Meu Marido Se Arrependeu