Ao entrar na casa, Ethan foi engolido por um silêncio pesado, denso, quase opressor. Não era o tipo de silêncio calmo, confortável, era o tipo que grita em cada canto, que ecoa aquilo que a alma tenta sufocar.
Ele fechou a porta devagar, como se temesse o som que pudesse fazer. O suspiro que escapou de seus lábios foi longo, cansado, arrastado como quem carrega mais do que os ombros podem suportar.
Sim, ele estava exausto.
Mas não era o corpo que doía, era algo mais profundo. Uma dor que lhe consumia em silêncio, algo que ele recusava dar nome.
Caminhou lentamente pela sala e então parou quando viu Helen encolhida no sofá. O corpo pequeno, quase frágil, como se tentasse se proteger do mundo inteiro. O rosto relaxado pelo sono ainda guardava os traços de uma tensão invisível, um cansaço emocional que se infiltrava até em seus sonhos.
Ethan ficou parado por um instante, apenas observando. O coração bateu mais lento. Mais pesado.
Ele sabia que deveria simplesmente virar as costas e deixá-la ali. Deixá-la descansar. Mas… não conseguiu.
— Que droga… — murmurou, baixinho, passando a mão pelo rosto frustrado. Em seguida, largou a pasta sobre a mesa com um baque surdo e afrouxou o nó da gravata. O tecido o sufocava, como se fosse uma lembrança apertada demais do que ele era obrigado a viver.
O que diabos estava fazendo ali?
Helen não merecia isso.
Não merecia viver numa corda bamba entre esperança e desilusão. Não merecia o olhar ausente, o toque contido, o coração partido que ele tentava esconder todos os dias.
Com passos lentos, quase silenciosos, ele se aproximou. Sem pensar, apenas agindo no impulso, abaixou-se e deslizou os braços por baixo do corpo dela. Helen se remexeu, soltou um suspiro suave, mas não despertou. Ela encostou a cabeça no seu peito, seu corpo relaxou contra o dele com uma naturalidade que o fez engolir em seco.
Carregá-la foi um castigo e um alívio ao mesmo tempo.
Aquele toque íntimo, mesmo que puro, parecia mais do que merecia. Mais do que podia suportar.
Caminhou até o quarto com ela nos braços, empurrou a porta com o ombro e a deitou com o máximo de cuidado na cama. Ajoelhou-se ao lado, retirando os sapatos dela com delicadeza, como se o simples toque pudesse acordá-la.
Depois, puxou o lençol até seus ombros e a cobriu.
E então, ficou ali. Em silêncio, apenas a observando. Pela primeira vez, permitiu-se encará-la de verdade.
Helen era linda. Mesmo dormindo, mesmo vulnerável, mesmo cheia de tristeza. Havia uma luz silenciosa nela, algo que ele ignorava todos os dias para não se afogar na culpa.
Ethan mordeu o lábio inferior, sentindo o peito apertar. Se não amasse Miranda com tanta intensidade… Talvez pudesse amar Helen. Mas não era isso que o corroía por dentro. O que o destruía era saber que, quando ela acordasse, os olhos dela carregariam aquela mesma dor ,aquela esperança silenciosa de ser escolhida.
E ele…
Ele não podia corresponder.
Maldita hora em que aceitou aquele casamento.
Fechou os olhos por um momento, lembrando-se da promessa que fez a si mesmo após aquela última conversa com Helen. Prometeu que a respeitaria. Que não a deixaria mais cair em lágrimas por sua causa.
Ela havia contado seus sonhos.
Falou em ser amada, em ter uma família. Falou com voz baixa, mas olhos esperançosos, como quem se agarra à última chance de ser feliz.
A saudade era insuportável. Era física. Como se uma parte de seu corpo tivesse sido arrancada e deixada num lugar ao qual ele não podia mais voltar, mas ele havia feito sua escolha.
Escolheu ser o homem certo, não o homem apaixonado.
Respirou fundo, sentindo o peito inflar com um ar amargo e denso. Levantou-se com lentidão, como se cada músculo fosse uma corda puxada. Olhou Helen mais uma vez, dormindo, serena… inocente nessa história toda e encostou a porta com cuidado.
Encostou-se à parede do corredor, com os olhos perdidos no teto.
Como se segue em frente quando o coração insiste em voltar?
Ele não sabia, mas estava tentando.
Talvez viver com saudade fosse menos cruel do que viver causando dor.
Talvez…
Mas o que Ethan não sabia ainda, era que esse jogo estava longe de ser previsível.
E que, em breve, as emoções que ele se forçava a controlar, as palavras que engolia, as decisões que tomava… iriam colidir.
Porque quando sentimentos verdadeiros entram em jogo…ninguém permanece no controle por muito tempo. E ele estava prestes a perder o que mais tentava proteger:
A si mesmo.

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