Helen andava pelo shopping ao lado de Zoe, sentindo-se mais leve do que esperava. Aceitar o convite da cunhada para um dia de compras foi a melhor decisão que havia tomado.
Precisava de distração. Precisava esquecer os olhos intensos de Ethan sobre ela na noite anterior e, principalmente, precisava esquecer a proposta absurda que tinha feito. Mas Zoe, claro, não deixaria isso passar despercebido.
— Me explica de novo, porque eu devo ter ouvido errado. — Zoe parou no meio do corredor do shopping, cruzando os braços e encarando Helen como uma mãe prestes a dar uma bronca.
Helen suspirou fundo e respondeu:
— Eu só… eu só quero que ele seja feliz, Zoe.
— Ah, claro, e qual foi sua brilhante solução? Sugerir que ele se encontrasse com aquela vagab… com aquela mulher?!
Helen apertou os olhos e massageou as têmporas.
— Eu só pensei que, se ele sente falta dela, eu não deveria ser um obstáculo. Nosso casamento é um acordo, lembra?
Zoe bufou, pegando Helen pelo braço e puxando-a para dentro de uma loja sem sequer olhar para onde iam.
— Ah, sim, um acordo. E desde quando acordos envolvem você se martirizando enquanto dá carta branca para o homem que dorme ao seu lado, procurar outra mulher?
— Ele dorme no outro quarto.
— Ah, pior ainda! — Zoe jogou as mãos para cima. — Helen, pelo amor de Deus! Você gosta dele!
Helen sentiu o rosto esquentar.
— Eu não…
— Não se atreva a terminar essa frase!
Helen fechou a boca e desviou o olhar. Zoe sorriu vitoriosa e continuou:
— Melhor assim.
Só então Helen percebeu onde estavam. Uma loja de lingerie. Com o rosto corado encarou a cunhada e perguntou:
— Por que me trouxe aqui?
Zoe sorriu maliciosamente e começou a andar entre os cabides cheios de rendas e cetim e disse:
— Porque, querida cunhadinha, você precisa parar com essa bobagem de achar que meu irmão só vê você como um contrato ambulante, e eu sei exatamente por onde começar.
Helen arregalou os olhos quando Zoe pegou uma camisola preta, curta, feita de renda e completamente indecente.
— Isso! Perfeito! — Zoe segurou a peça contra o corpo de Helen, analisando. — Tenho certeza de que, quando meu irmão vir o que tem embaixo dessas suas roupas, ele vai surtar!
— ZOE! — Helen exclamou, sentindo as bochechas pegarem fogo.
— O que foi? Estou mentindo?
Helen tentou tirar a camisola das mãos da cunhada, mas Zoe girou o corpo e segurou a peça no alto, fora de alcance.
— Vai dizer que não pensou nisso? — Zoe provocou. — Vai dizer que não imaginou ele te olhando, desejando você?
Helen definitivamente pensou. Pensou muito, até demais! Mas admitir isso para Zoe? Jamais!
E se tentasse… e perdesse até o pouco que já tinha? E se essa aproximação sutil, esse cuidado contido que começava a surgir entre eles, fosse destruído pelo peso de uma expectativa que só ela carregava?
O medo de perder o quase-amor era tão cruel quanto o medo de nunca tê-lo.
Ainda assim, Helen sorriu, desviando o olhar para a cunhada que falava animada sobre algo que ela nem fazia ideia do que se tratava. Seu corpo estava ali, mas sua mente vagava. Estava nervosa. E não era pelos sogros, que a acolhiam com ternura, mas pela presença dos seus pais… e dele.
Michael.
Seu primo era um problema à parte. Ele jamais aceitou esse casamento. Chegou a discutir com os tios, enfrentando até o próprio pai por achar tudo um absurdo. E, apesar da forma áspera com que se expressava, Helen sabia que Michael apenas queria protegê-la. Sempre quis.
Ele sabia, como todos sabiam, que o coração de Ethan pertencia a outra mulher.
E achava insano o fato de Helen continuar ali, como se nada soubesse, como se estivesse imune à dor.
Michael nunca entendeu por que ela aceitou viver naquela situação, mas ele desconfiava da verdade. Desconfiava que, por trás da calma dela, existia um amor profundo, sufocado, real.
Um amor que a prendia mais do que qualquer contrato.
Helen suspirou fundo, pedindo aos céus, em silêncio, que tudo corresse bem naquela noite. Que nada fugisse do controle, que nenhuma palavra atravessada de Michael provocasse um distanciamento de Ethan, justo agora que algo parecia finalmente florescer.
Ela não queria mais perdas, nem decepções. Não queria mais esperar por um amor que talvez nunca chegasse.
Mas o que Helen ainda não sabia… Era que, naquela noite, tudo mudaria.
Porque jantares em família podem revelar mais do que sorrisos forçados e palavras educadas.
Podem revelar segredos, provocar confrontos e podem explodir o que antes parecia estável.

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