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Após o Divorcio Meu Marido Se Arrependeu romance Capítulo 28

O cheiro de cebola dourando na manteiga se espalhava como um abraço morno pela cozinha. Era um daqueles aromas que antecedem algo especial, como um convite para sentar à mesa com o coração aberto. A panela alta, onde se preparava o risoto de parmesão, borbulhava com ritmo próprio. Pedaços de abobrinha já cortados esperavam pacientemente sua vez. Na outra boca do fogão, o frango ao molho de limão e ervas ganhava cor e brilho sob o olhar atento de Helen.

Zoe, de avental florido e sorriso largo, picava salsinha como quem bordava. Cada movimento era leve, quase ensaiado. Elas não falavam muito nos primeiros minutos. Dividiam aquele espaço com a intimidade silenciosa de quem construiu memórias lado a lado durante anos.

Até que Helen suspirou fundo, enxugando a lateral do olho com o ombro da blusa.

— Eu juro que ontem ela ainda brincava com bonecas no sofá. A April fazia teatrinho com o Tiago, lembra? E agora… ela tá lá em cima, escolhendo batom.

Zoe parou de picar. Largou a faca com delicadeza e virou-se para a cunhada.

— Eu lembro dela correndo de pantufa pelo corredor com um lençol amarrado no pescoço, dizendo que era uma super-heroína. “Super-April, salvadora dos coelhinhos”.

Helen riu, a voz embargada.

— E agora ela é só… super apaixonada.

Zoe se aproximou, abraçando Helen de lado.

— Ai, amiga… isso é tão bonito. Eu sei que dói, mas é lindo. Você criou ela com tanto amor, tanta liberdade, tanto exemplo bom… claro que ela ia escolher um menino gentil.

— Sim, mas não precisava escolher já. — Helen fungou. — Ainda não ensinei ela a dobrar lençóis sozinha, ou a calcular o IPVA, ou…

— Ninguém calcula o IPVA, Helen. A gente só paga e chora.

As duas riram.

Helen virou-se para o risoto e começou a mexer com a colher de pau, tentando se distrair da onda de emoção que ameaçava transbordar de novo.

— Sabe o que é pior? — murmurou. — Não é só a April. É a Mel também. Ela tá crescendo tão rápido. E agora tem aquele tal de Richard…

— Que, segundo ela, beija bem. — Zoe completou, com um sorrisinho maroto.

Helen parou a colher no ar.

— Ela te contou?

— Claro! Ela conta tudo pra mim. Ou melhor, quase tudo. Ontem chegamos do mercado e eles estavam no maior amasso no sofá.

— MAIOR AMASSO?

— Shii fala baixo sua louca. — brincou Zoe com a cunhada. — Esqueceu que ela é minha filha? Nunca fui santa cunhadinha.

— E o Liam? E-ele viu?

— Viu.

— E ai?

— Quase teve um infarto. Primeiro ficou em choque, depois quase quis avancar para cima do menino e a sorte dele foi eu.

Helen arregalou os olhos.

—Meu Deus eu imagino..

— Sabe qual é o problema? O Liam achava que ela ainda achava os meninos “nojentos”. — Zoe sorriu com pena do marido. — Eu deixava ele viver nessa ilusão mas infelizmente o sonho acabou.

Helen balançou a cabeça, com um sorriso de canto.

— Homens…

— A gente dá vida pra essas criaturas e eles desmoronam quando a filha passa um blush. — Zoe riu. — Mas olha, eu acho fofo. O Ethan com cara de assassino passivo-agressivo, o Liam suando frio só porque o Richard falou “senhora” com simpatia…

— E nós aqui, preparando jantar como se fosse o banquete da ONU.

O forno apitou. Helen abriu a porta e retirou a travessa de batatas rústicas, enquanto Zoe enchia os copos de água com folhas de hortelã e gelo.

— E olha que ironia — disse Helen, mexendo com cuidado os legumes. — A gente passa anos dizendo “não cresça tão rápido”, e aí um dia elas crescem… e a gente sente orgulho e medo ao mesmo tempo.

— É como assistir a um filme que você ajudou a escrever, mas já não tem mais o controle do roteiro. — Zoe comentou.

— Exatamente.

Ambas ficaram um instante em silêncio. Depois, Helen pegou dois guardanapos de pano e começou a dobrá-los com delicadeza.

— Ethan vai tentar intimidar o Tomás.

— Claro. E vai fracassar. — Zoe sorriu. — Porque no fundo ele vai ver nos olhos dele o que viu nos próprios olhos quando descobriu que te amava.

— Você acha que ele vai se comover?

— Acho que ele vai comer três pratos para disfarçar o choro.

Helen gargalhou, o som alto e cristalino preenchendo a cozinha.

— Ele que não chore perto do menino. Vai parecer que o jantar virou velório.

Zoe levantou a taça de água, como se brindasse.

— Às nossas meninas, Helen.

Helen bateu levemente a taça na dela.

— Às nossas meninas. E aos garotos que tiverem coragem de amá-las de verdade.

E naquele instante, entre o cheiro de risoto, o som de risadas e a expectativa palpável no ar, duas mães sabiam: elas estavam prontas. Ou pelo menos, tão prontas quanto poderiam estar para o começo de uma nova fase, uma onde o amor delas continuaria firme, mesmo que agora dividido com os primeiros amores de suas filhas.

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