O som de risos femininos escapava por baixo da porta do quarto de April como vapor de uma chaleira prestes a explodir. Dentro do quarto, o ar era perfumado, carregado de ansiedade, brilho labial e expectativa. April e Mel estavam em frente ao espelho, conferindo os últimos detalhes dos penteados, ajustando colares, testando sorrisos.
Mas, do lado de fora, havia outra movimentação. Uma movimentação mais… barulhenta, desajeitada, irônica.
David,, estava encostado na parede do corredor, e ao seu lado estava Tiago. Ambos tentavam ouvir a conversa das meninas.
— Estão rindo. — Tiago diagnosticou. — Rindo muito.
— Riso feminino nessa altura da tarde só pode significar duas coisas. — David olhou dramaticamente para o primo — Ou elas estão conspirando para dominar o mundo… ou testando roupas que vão desestabilizar nossos pais.
Tiago soltou um suspiro trágico.
— Acho que é a segunda. Vi a Mel entrando com uma paleta de sombras que parecia uma caixa de ferramentas.
— Sabia. — David anotou no papel. — Parece que o Tomas vem jantar mais tarde.
— Tomas? Sério?
— Sim. Ele vem pedir permissão para o papai, para namorar a April.
— Nossa, tenho até dó dele.
— Ah… o papai late mais não morde. E o Tomás é um garoto legal. Se não fosse ele se veria comigo antes.
— E comigo!
— Fiquei sabendo que ontem o Richard quase cagou nas calças.
— Como é que é?
— Verdade. Ele foi “estudar” na casa da Mel. Parece que ela estava sozinha e os dois acabaram se “pegando” no sofá.
— Não brinca?
— Sério. E o pior, o tio Liam chegou exatamente no momento em que eles estavam no maior… love!
— NÃO ACREDITO!
— Fala baixo, porra! Mas a tia Zoe como sempre interviu. A única coisa que eu soube oficialmente, na verdade que eu ouvi, a mamãe conversando com a tia Zoe, foi que o tio Liam praticamente “obrigou” um namoro e determinou regras a serem cumpridas.
— Regras?
— Do tipo, apenas beijos, nada de amassos ou outras coisas até ela completar 30 anos.
— Não brinca?
— Pois é meu amigo.
O som de risos ainda ecoava dentro do quarto, os dois se entreolharam e Tiago resolveu bater para saber se precisavam de ajuda.
— Tá pegando fogo aí dentro?
A porta se abriu com violência controlada. Mel apareceu com uma sobrancelha arqueada e um batom vermelho impecável.
— Vocês estão entediados ou só com inveja porque não foram convidados pro jantar dos grandes?
— A gente só está querendo saber se está… tudo bem. — disse David quando seus olhos azuis captaram a imagem da irmã, seu instinto protetor e ciumento tomou posse dele. David cruzou os braços, fez um bico e disse:
— April, não acha que está arrumada demais?
— Como assim? — perguntou Mel.
— Esse vestido tem mais de dois dedos acima do joelho. É melhor colocar algo mais confortável, como um jeans e camiseta larga.
— Faça-me o favor David e vai catar coquinho. — resmungou Mel.
— Tá feio? — sussurrou April insegura olhando para o irmão.
David suspirou fundo, passou a mão nos cabelos loiros e se sentiu patético. Sabia que o Tomás era um bom garoto e tinha sentimentos reais por sua irmã. Sorriu e se aproximou da irmã e disse:
— Não minha princesa… está linda!
Ambos riram e começaram a andar pelo corredor como se tivessem cumprido uma grande missão.
Quando passaram pela sala, Helen os encarou.
— Posso saber o que vocês estavam tramando lá em cima?
— Só inspecionando as tropas, madame. — David respondeu. — Tudo sob controle. Ou quase.
Helen arqueou uma sobrancelha, desconfiada.
Zoe apareceu com uma taça na mão.
— Espero que vocês dois não estejam provocando um motim no quarto.
— De jeito nenhum. — Tiago respondeu. — A gente só lembrou a elas de quem manda aqui.
— E quem manda aqui? — Zoe perguntou.
— A April e a Mel. — os dois disseram juntos, derrotados.
Helen e Zoe caíram na gargalhada.
— Pelo menos vocês têm consciência. — Helen disse.
David e Tiago seguiram para a cozinha, resignados, onde pegaram biscoitos e se sentaram como dois velhos senhores frustrados diante da vida.
— A gente perdeu. — David murmurou.
— Mas zoamos até o fim. — Tiago completou.
E, naquele instante, enquanto o relógio marcava 18h52 e o som da campainha ecoava pela casa, anunciando a chegada de Tomás, os dois riram juntos.
Porque sabiam que, embora a adolescência fosse caótica e o amor estivesse invadindo a fortaleza, eles sempre teriam uma missão nobre: proteger e perturbar. Nessa ordem. Ou não.

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