Helen desceu as escadas do prédio de Miranda como se o chão fosse desabar a cada passo. O mundo girava, mas não por causa de vertigem, era a decepção, o nó na garganta, o coração estraçalhado pela traição. O vento cortava seu rosto como navalhas, mas ela mal sentia. Sua visão estava embaçada pelas lágrimas que se recusava a derramar em público.
Foi quando o telefone tocou.
Ela pensou em não atender, mas ao ver o nome de Zoe na tela, apertou o botão com força.
— Oi… — disse com a voz fraca.
— Helen! — disse Zoe, empolgada. — Estava pensando em você! Vamos almoçar juntas? Preciso de uma pausa e quero fofocar um pouco. Está livre?
Helen respirou fundo. Ela precisava daquilo. Precisava de Zoe. Precisava de alguém que não mentisse.
— Tô indo agora mesmo.
O restaurante era charmoso, discreto, com plantas pendendo do teto e luz suave filtrando pelas janelas. Zoe chegou primeiro e levantou para abraçar Helen com um sorriso doce.
Mas o sorriso desapareceu assim que notou os olhos marejados da cunhada.
— O que aconteceu? — perguntou, já temendo a resposta.
Helen sentou-se e soltou um suspiro.
— Eu vi o Ethan… com Miranda.
— O quê?!
— Eles se beijaram. Ele foi até o apartamento dela. Eu fui atrás… e vi com os meus próprios olhos.
Zoe largou os talheres com um estalo.
— EU VOU MATAR O MEU IRMÃO!
Helen esboçou um sorriso sem humor.
— Não precisa… ele já morreu pra mim.
Zoe se levantou, puxando a bolsa.
— Onde é que essa desgraçada mora? Me dá o endereço!
— Zoe…
— EU JURO QUE JOGO O SALTINHO NO MEIO DOS DENTES DELA!
Helen segurou o braço dela, tentando acalmá-la.
Mas o destino tinha outros planos. A porta do restaurante se abriu e Miranda entrou.
Usava um vestido justo, preto como a noite. Em uma das mãos, o celular de Ethan. Na outra, um envelope com algumas fotos. Olhou diretamente para Helen, como se aquela aparição fosse planejada.
— Que coincidência — disse com veneno na voz. — Estava mesmo pensando em vocês duas. O celular do Ethan ficou no meu apartamento…
Zoe levantou-se devagar, o olhar mortal.
— SUA VACA…
— Zoe — disse Helen, colocando uma mão firme no ombro da cunhada. — Não se preocupe. Não perca tempo com que não vale.
Miranda abriu a boca para retrucar, mas Helen se levantou com elegância.
— Fique com esse celular, Miranda — disse Helen friamente. — Espero que ele valha o seu orgulho. Eu tenho coisas mais importantes para resolver.
Saiu do restaurante deixando Miranda ali, engasgada com o próprio veneno, e Zoe fulminando de raiva atrás dela.
✲ ✲ ✲
Horas depois, o silêncio da casa era um campo minado.
Ethan entrou, exausto, o rosto carregado de culpa, os olhos baixos. Subiu as escadas como quem sobe para a guerra. No andar de cima, a porta do escritório entreaberta revelava uma silhueta estática.
Helen.
— O quê…?
— Isso mesmo que ouviu, Ethan Carter! — Ela se aproximou ainda mais, o rosto a centímetros do dele, a voz cortando como navalha. — Já que meu próprio marido é incapaz de me fazer mulher… então eu vou me tornar uma nos braços de outro. E você que se prepare, porque o mundo inteiro vai saber.
Ele empalideceu.
— Saber o quê?
— Que a tão perfeita, glamourosa e invejada esposa de Ethan Carter ainda é virgem. Virgem! Após quase UM ANO de casamento! E não por minha escolha, mas porque você é covarde.
Ethan arregalou os olhos, a vergonha queimando no estômago.
— Helen… pelo amor de Deus…
— Você não tem ideia do que uma mulher ferida é capaz de fazer. — Ela cravou, furiosa. — E se acha que eu sou pacata demais para expor isso, pense de novo. Porque o que me resta agora é a droga da minha dignidade, e se para recuperá-la eu tiver que arruinar a sua imagem, eu vou fazer com prazer.
Ele respirava com dificuldade, como se cada palavra dela cravasse um espinho no orgulho que ele achava inabalável.
— Helen, se você falar isso para alguém…
— Vai fazer o quê, Ethan? Vai me calar? Me impedir de contar ao mundo que o CEO poderoso, milionário, não teve coragem nem de encostar na própria esposa? Que me deixou intacta, sozinha, como se eu fosse um enfeite de vitrine?
Ela virou-se em direção à porta, mas antes de sair, lançou o último golpe por cima do ombro:
— Se você não me der o divórcio… eu vou destruir cada centímetro da sua reputação. E quando perguntarem por que… vou sorrir e dizer a verdade:
— PORQUE O MEU MARIDO PREFERE A AMANTE ... E DEIXOU PARA OUTRO FAZER O QUE ELE NÃO TEM CAPACIDADE!
E saiu.
Com os olhos brilhando em fúria.
Com a alma sangrando em dignidade.
E deixando Ethan parado no meio do escritório, pálido, com o ego em frangalhos, percebendo tarde demais que aquela mulher pacata agora era um furacão, e ele era o próximo a ser engolido.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Após o Divorcio Meu Marido Se Arrependeu