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Após o Divorcio Meu Marido Se Arrependeu romance Capítulo 70

Início da tarde, na Casa de Amélia

O sol da tarde banhava a casa de Amélia com uma luz dourada e suave, filtrada pelas copas das árvores que dançavam preguiçosamente com o vento. O jardim cheirava a terra molhada e lavanda, e o som da natureza criava uma melodia tão suave quanto um sussurro de verão. O cenário era quase irreal de tão perfeito, sereno, harmonioso, como uma fotografia antiga em tons quentes.

Helen estava ajoelhada à beira do canteiro, as mãos sujas de terra, os cabelos presos em um coque bagunçado que já começava a se desfazer. Usava uma camiseta larga, um short florido e luvas de jardinagem que pareciam grandes demais para seus dedos finos. Estava suada, suja e mais bonita do que jamais saberia.

Amélia, com uma cesta de ervas nos braços, se aproximava por trás com um olhar terno, carregado de uma ternura que só as mães, e as mulheres muito observadoras, sabem cultivar.

— Essas lavandas vão ficar lindas aqui no canto — disse Helen, sorrindo com os joelhos afundados na grama fofa.

— Vão, sim. E combinam com você. — respondeu Amélia, com os olhos fixos na jovem como quem já enxergava um futuro.

Helen ergueu os olhos, franzindo a testa.

— Comigo?

— Sim. Delicadas, firmes… e com aquele perfume que fica mesmo depois que o tempo passa.

Helen corou e sorriu, meio sem graça.

— Você tá poética hoje.

— Eu sempre fico poética quando pressinto que meu filho vai fazer besteira… ou finalmente tomar coragem pra fazer algo importante.

Antes que Helen pudesse reagir, o som do portão de ferro se abriu. Os passos dele vieram lentos, mas firmes, como sempre. A respiração de Helen prendeu-se na garganta. Os olhos correram até Amélia que, com um sorrisinho cúmplice, passou a mão nas costas da filha do coração.

— Acho que vou preparar um suco. E vou demorar. — disse, piscando e se afastando com sua cesta como quem abandonava o campo de batalha.

Helen não se moveu.

Ficou ali, de joelhos no jardim, com a luva cheia de terra na mão… e o coração batendo forte dentro do peito.

Ethan.

Ele parou ao lado dela. Ficou em silêncio por um momento longo demais. Mas sua presença era inconfundível. Quente. Pesada. Irresistível.

— Oi. — disse ela, finalmente, sem olhar.

— Oi. — respondeu ele, num tom baixo, quase íntimo.

Ela virou-se devagar, ainda ajoelhada, e encontrou os olhos dele. Eles se encararam por segundos longos, carregados de histórias mal resolvidas, de saudade disfarçada, de palavras que queriam sair mas não sabiam como.

— Está tudo bem? — ela perguntou, a voz embargada.

Ethan assentiu, mas era claro que havia muito mais sob aquela resposta.

— Agora está. — ele completou.

O silêncio seguinte quase fez as folhas das árvores pararem. Helen respirou fundo. Precisava quebrar aquilo de algum jeito.

— O que você está fazendo aqui, Carter?

— O que está fazendo aí, chatinha?

— Plantando ora, não está vendo?

— Se concentrando tanto por quê? Está tentando ensinar as plantas a sobreviverem ao seu jeito desastrado?

Helen nem se virou.

— Você fala como se fosse botânico agora.

— Não sou, mas tenho olhos. Esse aí já morreu três vezes só desde que você começou — apontou para uma lavanda meio caída.

— É o sol! — respondeu, irritada, ainda sem olhá-lo. — E talvez a pressão de ser cuidada por alguém que vive sendo sabotada.

— Sabotada? Pelas plantas?

Ela soltou um suspiro exagerado, se virou e o encarou com as mãos nos quadris.

— Não. Por um certo homem que passa os dias zombando do meu talento de jardineira.

— Chamaria isso de “talento”? Isso aí tá parecendo cemitério de planta, Helen.

— Ethan Carter…

— Sim?

— Você tem sorte de eu estar com as mãos sujas, senão—

— Senão?

— Senão jogava um punhado de terra na sua cara.

Ele deu um passo adiante.

— Se tiver coragem, j**a.

Ela hesitou. Ele desafiava com os olhos. Ela pegou um punhado.

— Helen…

— Ethan…

— Nem pense—

— A gravidade é sua cúmplice!

— Helen, olha pro lado bom: você finalmente está hidratando as plantas de dentro da piscina.

Ela jogou água nele com as duas mãos. Ele revidou e os dois riam como duas crianças.

Então, de repente… o mundo parou.

Os dois estavam lado a lado, as mãos próximas, os olhos se encarando com uma intensidade diferente. Um silêncio quase solene se formou ali, entre o barulho da água e o som dos corações acelerados.

Ethan se aproximou devagar. Os olhos dele desceram dos olhos de Helen até os lábios molhados. Ela fechou os olhos, quase em rendição.

Um segundo de paz, um segundo de tudo.

— MEU DEUS! — gritou uma voz.

— O QUE TÁ ACONTECENDO AQUI?! — veio outra.

Ethan e Helen se afastaram num pulo, como dois adolescentes pegos em flagrante.

Na beira da piscina, Zoe e Melissa os encaravam com os olhos arregalados.

— A gente… — Helen começou, sem saber onde enfiar o rosto.

— Ela jogou terra em mim! — Ethan se defendeu.

— Ele me molhou com a mangueira!

— E ela me derrubou na piscina!

— FOI VOCÊ QUE NOS DERRUBOU!

Zoe cruzou os braços.

— Meu Deus, vocês são um casal ou duas crianças de cinco anos?

Melissa riu, tirando uma foto dos dois ensopados na água.

— Isso vai direto pro grupo da família.

Helen mergulhou o rosto nas mãos, completamente vermelha e Ethan… apenas riu.

— Eu tô no meu auge. Ensopado, acusado e incrivelmente satisfeito.

Helen olhou pra ele, tentou esconder o sorriso… mas não conseguiu.

E naquela bagunça molhada, ruidosa e deliciosa, algo florescia entre os dois leve, intenso e impossível de conter.

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