O relógio digital da cozinha marcava 8h15 quando os passos firmes de Ethan ecoaram no corredor de madeira, rompendo o silêncio da manhã como o som de um trovão elegante e decidido. Ele surgiu com a pasta de couro em uma das mãos e o blazer pendurado no antebraço. Os cabelos ainda úmidos do banho caíam de forma perfeitamente desalinhada — como se até o caos natural nele tivesse uma lógica de charme.
A camisa branca, impecavelmente ajustada, moldava os ombros largos e o peito firme com provocante sobriedade. As mangas dobradas até os antebraços deixavam à mostra os músculos sutis e o relógio de couro escuro, discreto e sofisticado. A calça social completava o conjunto com uma elegância que parecia escolhida a dedo para atiçar os sentidos. Mas o que mais chamava atenção, ainda antes de qualquer palavra, era o perfume amadeirado que anunciava sua presença. Era como se o ambiente inteiro o reconhecesse antes mesmo dos olhos o encontrarem.
Helen estava na cozinha. Apoiada no balcão, uma xícara de café entre os dedos. Vestia uma blusa de tecido leve, clara, que contrastava com sua saia lápis azul-marinho. O coque desalinhado deixava fios soltos que emolduravam seu rosto, mas seus olhos… seus olhos estavam inteiramente fixos nele. Quando Ethan entrou, o mundo ao redor pareceu desacelerar.
Amélia, sentada à mesa com os óculos de leitura empoleirados no topo da cabeça, mexia no celular com a atenção de quem fingia desinteresse. Mas ao levantar os olhos, capturou aquele exato segundo: o olhar do filho encontrando o de Helen.
Foi rápido, mas intenso demais para ser ignorado. Os olhos de Ethan pararam nos lábios dela por tempo demais. Já os de Helen tremularam, vacilaram por um segundo, mas depois sustentaram o olhar. O sorriso que nasceu nos lábios dela foi contido, cúmplice. Um gesto pequeno, mas carregado de significado.
Amélia desviou o olhar para sua xícara de chá. Fingiu não ver. Mas viu — e gostou do que viu.
— Estou indo, mãe. — disse Ethan ao se aproximar, depositando um beijo no topo da cabeça dela.
— Já? — Amélia ergueu a sobrancelha, olhos semicerrados. — Nem esperou o segundo café. Isso é quase um escândalo familiar.
— A agenda hoje está caótica. — respondeu ele com um sorriso de canto, mas seus olhos… ainda estavam em Helen. — Reunião às nove, almoço com investidores ao meio-dia, e uma visita surpresa ao jurídico no fim da tarde.
— Hum, quanto poder concentrado em um só homem. — murmurou Amélia, pegando um guardanapo e abanando o rosto. — Só espero que esse blazer não esteja aí só pra disfarçar o que realmente chama atenção.
Helen engasgou de leve com o café. Ethan olhou para a mãe, revirando os olhos com deboche, mas não disse nada. Quando seus olhos voltaram para Helen, havia algo mais ali. Algo mais do que desejo. Algo mais do que atração.
Era um cuidado silencioso.
— Até mais. — disse ele, num tom baixo, quase íntimo.
Helen levantou a mão e fez um pequeno gesto com os dedos. Ele retribuiu, mas seus olhos… os olhos dele pareciam dizer: “Estou vendo você. E você está linda.”
A porta se fechou com suavidade. E o silêncio seguinte foi quase ensurdecedor.
Amélia esperou três segundos — exatamente três. Depois ergueu os olhos para a nora, com um sorriso sutil e olhar afiado.
— Vou sair também. Marquei um almoço com uma amiga.
Helen pigarreou, tentando recuperar a naturalidade.
— Dia cheio, hein?
— Querida… eu sou uma mulher ocupada. — Amélia piscou. — E observadora.
Helen tentou disfarçar, mas era inútil.
— Aliás… vai à empresa hoje?
— Sim. Já fiquei fora ontem. Não posso me ausentar mais.
Vestiu sua blusa favorita, aquela que ele elogiara com um “você fica linda com isso” dito entre um gole de vinho e uma troca de olhares intensa. A saia azul de cintura alta acentuava sua postura, e o perfume suave finalizou o ritual com a precisão de quem queria ser notada, mesmo que nunca admitisse isso em voz alta.
Ao se olhar no espelho, demorou mais do que o habitual.
A mulher refletida ali… estava diferente.
Não era apenas a roupa, nem o coque solto, nem os olhos maquiados com leveza. Era o brilho nos olhos. Era um sorriso quase inconsciente. Era uma mulher que, apesar de tudo, estava se apaixonando.
Ela desceu com a bolsa no ombro e os papéis da reunião na mão. Antes de sair, seus olhos pousaram na bancada. A xícara de Ethan ainda estava lá, esquecida como sempre. Ao lado dela, um guardanapo amassado. Helen se aproximou, curiosa e sorriu ao ver o que estava escrito.
“Boa sorte hoje. Sei que vai arrasar. — E.”
Seu coração tropeçou dentro do peito, Helen sorriu sentindo as pernas amolecerem um pouco e o estômago revirar. Dobrou o guardanapo com delicadeza, como se fosse um pedaço de tesouro, e o guardou na bolsa. Era só um bilhete, mas também era um gesto, um gesto silencioso e cheio de tudo que ela sempre quis sentir.
Saiu de casa levando consigo mais do que documentos e metas. Levava algo que nem sabia como nomear ainda… mas que preenchia todos os espaços.
Esperança, desejo, carinho.
E a certeza crescente de que Ethan Carter, com toda sua rigidez aparente e sorriso difícil, estava, gesto a gesto… se aproximando perigosamente do coração dela.
E dessa vez… Helen não tinha intenção alguma de fugir.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Após o Divorcio Meu Marido Se Arrependeu