A sala de reuniões da Carter Interprises ostentava seu usual cenário de luxo minimalista: mesa retangular de vidro negro, cadeiras de couro marrom escuro e uma parede de vidro com vista panorâmica da cidade. O relógio marcava 13h45 da manhã, e a tensão estava no ar.
No centro da mesa, Ethan mantinha uma postura impecável. Paletó cinza escuro alinhado ao corpo, gravata levemente afrouxada e o olhar fixo nos documentos à sua frente. Ao seu lado, Liam coordenava a apresentação com sua voz firme, destacando os números com uma tranquilidade que apenas os estrategistas frios dominavam.
— O acordo com o consórcio russo entra na fase de alinhamento final. Caso tudo ocorra como previsto, dentro de sessenta dias teremos acesso à nova cadeia de fornecimento energética. A expansão da plataforma na Europa começa em novembro. — Liam finalizou, enquanto os acionistas presentes murmuravam satisfeitos.
Ethan cruzou os dedos diante do queixo, os olhos afiados captando cada nuance de hesitação ou aprovação nos rostos à mesa.
— Senhores, este contrato representa mais do que lucro. — ele disse, com a voz baixa e poderosa. — Representa posicionamento. Se vocês estão aqui, é porque entendem que um império não se mantém apenas com resultados, mas com território. E estamos prestes a ampliar o nosso.
Silêncio. Depois, palmas discretas.
O encontro foi encerrado com elegância e diplomacia. Acionistas levantaram-se um a um, trocando cumprimentos e deixando o recinto.
Quando a porta se fechou, restaram apenas dois homens.
Ethan afrouxou a gravata e soltou um suspiro arrastado. Passou as mãos pelos cabelos, bagunçando levemente os fios loiros e sentou de forma mais desleixada na poltrona de couro.
— Estou acabado.
Liam riu baixo, caminhou até o bar discreto ao lado da estante de livros e serviu duas doses de uísque. Estendeu uma para o amigo e sentou-se ao lado dele.
— Você não está acabado. Só exausto. E pelo visto, não é só por causa do acordo com os russos. — disse, olhando de soslaio. — Então… o que tá pegando?
Ethan olhou para o copo por alguns segundos, depois girou o líquido âmbar antes de beber a dose em um único gole. Sentiu o ardor descer pela garganta, mas não afastar o peso.
Virou-se para o amigo e disse:
— O que acha de sairmos um pouco para um café antes da próxima reunião?
Liam sorriu e encarou o cunhado e disse:
— Uma ótima ideia!
:A cafeteria onde sempre se encontravam era discreta, com poltronas confortáveis e uma playlist suave de jazz tocando ao fundo. Liam já estava sentado à mesa do canto, com uma caneca de cappuccino à frente e o celular sobre a mesa, quando viu Ethan se aproximar com o blazer jogado nos ombros e os cabelos revoltos, como sempre, ele havia ido ao banheiro e retornava para a mesa. Liam percebeu que havia algo diferente no cunhado, ele parecia mais leve, ou talvez… decidido.
— Você tá com cara de quem aprontou alguma — disse Liam, antes mesmo do cumprimento. — E nem adianta tentar negar.
Ethan sentou-se, largando a pasta ao lado, e suspirou.
— Eu terminei tudo com a Miranda.
Liam levantou as sobrancelhas e recostou-se na cadeira, surpreso.
— Terminou… tudo?
— Tudo. Ontem. Na cara dela, de forma definitiva.
— Uau. — Liam piscou algumas vezes. — E você ainda tá vivo?
Ethan soltou um riso fraco.
— Quase fui decapitado emocionalmente. Ela fez um escândalo, disse tudo o que tinha guardado e me acusou de escolher a Helen… como se fosse um crime.
Liam coçou o queixo, digerindo a informação.
— E você escolheu?
Ethan desviou os olhos para o vidro da janela, onde o reflexo do sol pintava traços dourados sobre a rua.
— Eu não sei se ela vai me aceitar. Mas sim… estou disposto a tentar, a me abrir. Helen… ela tem algo que eu não entendo, mas que me prende, me acalma e, ao mesmo tempo, me tira do chão.
Liam sorriu de lado, observando o cunhado com atenção.
— Bom, isso é novidade. Ethan Carter admitindo que quer… sentir algo.
— Ela me faz querer ser diferente. Não melhor, só… mais verdadeiro.
— Então aproveita a viagem para Moscou. Deixa claro o que sente. Escreve uma carta, compra flores. Ou sei lá, aprenda uma frase bonita em russo pra impressionar. — Liam riu. — Só não deixe esse momento passar. Helen é rara. Se você demorar demais, ela pode ir embora antes de entender o que vocês têm.
Ethan assentiu, pensativo, mas com um leve sorriso crescendo nos lábios.
— Por que esse sorrisinho? — perguntou Liam, desconfiado. — Tá escondendo alguma coisa.
— Ontem rolou uma confusão na casa da minha mãe… — começou Ethan, tentando segurar o riso.
— Sério, você devia ter avisado! Devia andar com sinal de alerta pendurado: “Perigo: conteúdo desproporcional à realidade”.
— Liam!
— Ela deve ter pensado: “Ah, agora tudo faz sentido. Ele é frio porque carrega um segredo entre as pernas que consome energia vital!”
Ethan estava vermelho de vergonha e rindo contra a vontade.
— Você é um idiota.
— Um idiota que sempre enxergou que o amor estava mais perto de você do que você imaginava meu amigo.
Ethan balançou a cabeça, rindo. Depois passou a mão pelos cabelos e respirou fundo.
— Uma vez ela me disse… que me amava. Será que é verdade?
Liam se aproximou do amigo o encarando e disse:
— Ethan… — o empresário desviou os olhos azuis para o cunhado. — ela sempre te amou. Sempre esteve ao seu lado, sempre fez de tudo para chamar a sua atenção. Esse casamento… cara, esquece o que passou e vive o agora.
— Eu… eu não quero machucá-la Liam. Eu… eu não posso.
— E não vai. Dá para ver pelo seu rosto que está apaixonado. — Ethan corou. — Filho de uma puta não me contou?
— Ah não preciso contar tudo.
— Não?
Ethan sorriu e bebericou o seu café.
— Acho que nunca me senti tão exposto e… tão certo de algo.
Liam ficou em silêncio por um segundo. Depois pousou a mão sobre a mesa e disse com um sorriso sincero:
— Então corre atrás, irmão. Porque o amor, mesmo quando vem acompanhado de terra, piscina e nudismo acidental, ainda é o que vale a pena.
Os dois riram e pela primeira vez Ethan iria lutar por algo que finalmente valeria a pena.

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