O céu de fim de manhã exibia um azul translúcido, sem nuvens, como se o próprio universo estivesse em paz. Uma brisa leve soprava pelas ruas de vidro e concreto, dançando por entre os cabelos de Helen conforme ela subia os degraus da sede da empresa. Havia algo diferente nela naquele dia e não era só a roupa impecável, nem o salto firme, nem o batom rosado perfeitamente aplicado. Era o brilho nos olhos, a leveza do passo. O sorriso largo e real que iluminava seu rosto como se ela tivesse, enfim, encontrado um pedaço de sol só dela.
Não era um sorriso de cortesia. Não era aquele sorriso que se dá para manter a postura, disfarçar a dor ou maquiar o caos interior. Era um sorriso que vinha de dentro. Que aquecia o rosto e irradiava pelos ombros, pelas mãos, pelo jeito de falar com os outros. Um sorriso que dizia: estou viva.
Helen vestia uma camisa branca de seda com botões dourados, levemente solta, elegante sem esforço e as mangas dobradas com cuidado até os cotovelos. A saia lápis vinho moldava sua cintura com delicadeza, e os saltos finos nude pareciam ter nascido para seus pés. O coque baixo deixava mechas soltas dançando em volta do rosto, e o batom suave realçava o riso fácil que brotava com naturalidade.
Na portaria, cumprimentou o segurança com um aceno animado:
— Bom dia, Cláudio!
— Bom dia, senhora Carter! Está com uma energia boa hoje, hein? — respondeu ele, sorrindo.
—Hoje o universo está sorrindo pra mim. E eu estou retribuindo.
No corredor do oitavo andar, duas estagiárias cochichavam animadas sobre a apresentação de logo mais.
— Bom dia, meninas! — disse Helen com leveza.
— Bom dia, senhora Carter! — responderam em coro, sorrindo feito adolescentes diante de uma celebridade.
E era assim que ela parecia: leve, encantadora, quase flutuando. Como se algo dentro dela tivesse mudado. Como se o peso do passado tivesse ficado na esquina e ela agora pudesse andar mais livre, mais dona de si.
O elevador a recebeu com o som metálico suave e familiar. Helen aproveitou o silêncio da subida para pegar o celular e checar a última mensagem recebida:
“Boa sorte hoje. Sei que vai arrasar. — E.”
Ela mordeu o lábio inferior, tentando conter o sorriso que insistia em florescer. O coração deu aquele pulo bobo, adolescente, que só acontecia quando era Ethan quem mandava mensagens assim. E ela nem tentava mais negar. Algo dentro dela estava se permitindo, ainda que devagar, se entregar novamente.
O elevador chegou ao 11º andar e, como um roteiro ensaiado pela vida, Tânia já estava ali. A secretária e amiga de anos, segurava uma prancheta com ar sério, mas os olhos… os olhos eram duas brasas acesas.
— Ora, ora, se não é a própria deusa do amor corporativo. — disse ela, erguendo uma sobrancelha e dando uma volta teatral ao redor de Helen. — Camisa de seda, perfume doce, batom de mulher perigosa… o que eu perdi?
Helen riu e caminhou até sua sala com elegância, pousando a bolsa e a pasta sobre a mesa.
— Vamos focar na apresentação, Tânia. Nada de drama logo cedo.
— Ah, me respeita! Eu sou o próprio drama. — disse a secretária, jogando os cabelos imaginários para o lado. — Mas depois eu quero um relatório completo. Com gráficos e cronologia. Ouviu bem?
— Foco, Tânia! — respondeu Helen, rindo e se sentando.
A apresentação foi um sucesso absoluto.
Com postura firme, voz envolvente e domínio absoluto dos dados, Helen encantou todos os presentes. Ela falava com clareza, carisma e convicção. Os gráficos pareciam dançar em sincronia com sua fala, e até os diretores mais sisudos balançavam a cabeça, impressionados.
Quando terminou, foi aplaudida de pé por alguns.
Tânia, obviamente, foi a primeira a levantar:
— Palmas para essa mulher! Uma Deusa! Uma CEO disfarçada de designer!
Helen riu e fez uma pequena reverência antes de sair da sala.
Minutos depois, já de volta ao escritório, a porta se abriu sem cerimônia e Tânia surgiu com duas xícaras de café e olhos que brilhavam mais que as porcelanas nas mãos.
— Agora sim. Ambiente controlado. Eu com café e você com segredos. Me dá. — disse, se jogando na poltrona em frente à mesa.
Helen pegou a xícara e fingiu resistência.
— A gente precisa falar da proposta do setor de marketing.
— Eu preciso de amor. Romantismo. Fofoca. Vai. — Tânia se abanou com um post-it rosa. — O universo me implora.
— Ok… mas você promete manter a calma?
— Prometo. — ela colocou a mão sobre o coração. — Mas já aviso que se tiver beijo, eu grito.
Helen deu um gole, respirou fundo… e começou:
— Ontem… eu e Ethan tivemos um momento.
— AI, MEU DEUS! — Tânia berrou, se contorcendo na cadeira. — Eu sabia! Sabia! O sorrisinho! O batom estratégico! Conta, conta!
— Estávamos no jardim. Ele me provocou porque eu estava mexendo nas flores…
— Clássico dele. Ousado.
— Aí eu joguei terra nele.
— Helen Carter! Você é minha heroína!
— Se você não ficou, você é mais santa do que todas as freiras do Vaticano.
— Ele ficou me encarando como se não se importasse. Como se… gostasse da minha reação.
— E você gostou?
Helen corou.
— Talvez.
Tânia colocou as mãos no peito como se estivesse com taquicardia.
— Helen, minha filha… esse homem tá a um suspiro de se ajoelhar e você também. Vocês se amam e são burros demais pra admitir.
Helen riu, mas os olhos marejaram de leve.
— Eu tô com medo, Tânia. De acreditar de novo.
— Eu sei. — Tânia segurou a mão da amiga com carinho. — Mas você não precisa mergulhar de cabeça. Só… deixa a água tocar os pés. Deixa ele te mostrar que não é raso. Que não vai te afogar.
Helen respirou fundo.
— Obrigada.
— Sempre. Agora me diz… o “material” é tudo isso mesmo?
— Tânia!
— Tô só fazendo uma pesquisa de opinião. Pura curiosidade científica!
Ambas riram até as lágrimas virem. Era mais do que um momento de leveza. Era cura. Era reencontro consigo mesma. Era o início de algo novo, ainda indefinido, mas cheio de promessas.
E enquanto elas se recostavam no sofá da sala, rindo feito adolescentes, nenhuma das duas sabia… que do outro lado do prédio, em sua própria sala envidraçada, Ethan observava a foto de Helen na tela do celular e sorria.
Com um desejo silencioso e uma certeza crescente:
Ela estava ocupando cada parte dele sem pedir licença.
E ele… não queria que fosse diferente.

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