O dia seguinte amanheceu com céu azul, café quente e um e-mail na caixa de entrada de Helen com o seguinte assunto:
“Solicitação de conversa confidencial – Segurança do edifício.”
Helen encarou a tela com a expressão de quem acabou de engolir um cubo de gelo.
— Ah, não. — murmurou. — Não, não, não.
Abriu o e-mail. Era educado. Formal, até gentil. Mas continha as palavras “filmagens de rotina”, “ativação não autorizada do botão de parada do elevador” e o temido “identificamos sua presença no momento do evento”.
Ela levou a mão à testa. O “evento”.
Que bonito.
Ela e Ethan quase despencaram em êxtase entre os andares 25 e 26, e agora a empresa queria “uma palavrinha”.
— Droga, Carter, por que você tem que ser tão bom de… tudo?
Helen respondeu solicitando um horário para a tal “conversa confidencial”. Recebeu um convite para às 10h45, na sala da gerência de segurança do prédio.
E então começou o que ela batizaria futuramente como “O Dia do Suor Corporativo.”
Às 10h43, Helen desceu os andares até o setor de segurança. Cabelos impecáveis, blazer azul-marinho, srriso de “estou sempre no controle”, mas por dentro… pânico.
A sala tinha cara de interrogatório de filme: móveis cinzas, pastas demais, e um senhor com bigode espesso e um colete bordado com “Sr. Geraldo Supervisão”.
— Senhora Carter. — disse ele, erguendo-se com um sorriso simpático. — Agradeço por ter vindo. Não é nada grave, só… um protocolo.
— Claro. — Helen sentou-se, tentando não escorregar de nervoso. — Sempre à disposição.
— Bom… — ele abriu uma pasta. — Durante uma revisão de rotina nas imagens do elevador, notamos a ativação do botão de emergência por cerca de nove minutos ontem à tarde.
— Nove? — Helen tossiu. — Achei que tinham sido… cinco.
— Perdão?
— Nada! Nada. Continue, por favor.
— Sim, bem… normalmente, esse tipo de ação é sinal de falha técnica ou mal-estar de algum funcionário. Mas no vídeo, não identificamos nenhuma falha ou acidente. Na verdade, vemos a senhora… acompanhada do senhor Carter.
Helen arregalou os olhos e sorriu com a boca, não com os olhos.
— Ah… sim… claro. Estávamos juntos.
— Exatamente. E, veja, nós respeitamos totalmente a privacidade dos diretores, principalmente do presidente, até porque as câmeras não captam áudio dentro do elevador. Mas…
Ele virou o monitor e deu play.
Helen viu.
Viu os dois entrando. Viu o botão sendo apertado. Viu Ethan se aproximando. Viu ela encostada no espelho. Viu as mãos. As pernas. As… reações. Ela queria evaporar, sumir, ir embora para um iglu no Alasca.
— Como pode perceber… — disse o Sr. Geraldo, limpando a garganta. — Não é exatamente algo que passou despercebido pelos nossos supervisores.
— Sim. Claro, entendo. — Helen disse, corando. — Mas foi uma… emergência emocional.
— Perdão?
— É que… o elevador parou, né? E nós ficamos presos e meu marido… bem, ele é um homem muito… reconfortante. Eu estava… nervosa. E ele me ajudou a relaxar.
Sr. Geraldo ergueu a sobrancelha com a força de um cético veterano.
— A senhora relaxa com… abraços intensos e saltos cruzados em torno da cintura?
Helen fechou os olhos.
— Ok. Vamos cortar a parte da “nervosa”. A verdade é: foi um momento de fraqueza conjugal. Casal apaixonado, ambiente fechado, silêncio, gravidade. — respirou fundo. — A gente não resistiu.
O homem pigarreou ajustando sua gravata.
— A empresa não tem uma política específica sobre relações conjugais em ambientes restritos, mas, considerando a hierarquia e a visibilidade de vocês dois… recomendo que evitem esse tipo de… manifestação.
— Claro. Claro! Jamais vai acontecer de novo. — Helen disse, levantando-se.
Ele estendeu a mão.
— Ficamos felizes com sua compreensão, senhora Carter. E… por favor, informe ao senhor Carter que a gravação será devidamente deletada. Embora… alguns técnicos da equipe já tenham apelidado o vídeo de “O Caso do Elevador Quente”.
— Eu. Estou. Mor-t-a.
De volta à sua sala, Helen jogou a bolsa na mesa e se afundou na cadeira, pressionando os olhos com os dedos.
— Eu vou MATAR o Ethan. — murmurou.
— E você me amou intensamente entre os andares 25 e 26. Quer que eu mostre o print que o segurança salvou?
— Você tá de brincadeira.
Ethan riu alto, se aproximando da mesa. Puxou a cadeira dela com delicadeza e a virou em sua direção. Encarou-a com os olhos cheios de malícia e carinho.
— Fica tranquila. Ninguém vai te punir por isso. Esqueceu que o seu marido é o presidente e tudo isso é meu? — Helen suspirou. — você estava linda e deliciosa. E foi uma das melhores loucuras que já fizemos.
— A gente vai ser demitido um dia. — murmurou, derretendo aos poucos.
— A gente é o dono da empresa. Só podemos nos punir com… mais loucuras.
Helen sorriu, encostando a testa na dele.
— Me promete uma coisa?
— Qualquer coisa.
— Nada de escadas, nem garagem, nem refeitório?
Ethan fingiu pensar.
— Elevador de carga vale?
— Ethan!
Ele riu, beijou sua testa e sussurrou:
— Brincadeira. Por enquanto.
Na sala de segurança, dois técnicos observavam a tela onde o vídeo do elevador finalmente era deletado.
— É uma pena. — disse um deles. — Aquilo era arte.
— Aquilo era fogo puro. — respondeu o outro. — O presidente não brinca em serviço.
E com um clique, o registro foi apagado.
Mas a fama? Ah, essa estava só começando.

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