Bela Flor - Romance gay romance Capítulo 4

Odeio ficar confuso, mas dessa vez eu nem tenho culpa.

Depois do meu anômalo aniversário, e depois claro, do meu primeiro beijo em UM HOMEM, minha cabeça não está nada normal.

Fiquei por horas durante a noite pensando em como eu tive coragem de beijar um homem na frente de todos, e o pior, de como eu gostei de tudo aquilo.

Fico pensando se de fato eu sou gay.

Ou sei lá o que denomina melhor minha sexualidade, porque acho que ainda sinto sim, atração por mulheres, mas não consigo esquecer o loiro sequer por um segundo.

Depois que Park me beijou e me puxou daquele jeito bem no meio de uma boate, eu não consegui sequer esquecê-lo pelas horas seguintes.

Guardei seu cartão na última gaveta do meu guarda-roupa junto com meu trambolho rosa, certo de que nunca mais o pegaria de volta, mas mesmo hoje, um dia após meu primeiro beijo ㅡ mais precisamente apenas algumas horas após ㅡ, eu abro a gaveta e encaro-os juntinhos lá.

Mas é frustrante porque eu realmente não sei o que fazer.

Eu acho que não quero ligar para o número que tem naquele cartão, mas estou curioso para saber o que ele pode me ensinar. Digo, o que cacete pode ser?

Talvez seja uma merda, porque eu estou doido para ligar para ele e só não quero admitir.

Gostei pra caralho do loiro e admito que queria ter beijado-o mais também, mas como eu falo isso em voz alta se eu estou nessa confusão?

E com essa confusão, cá estou, sentado na beirada da minha cama encarando o pau rosa e olhando o cartão com o nome e número do loiro brilhando ao lado.

Eu devo ligar?

Mas o que pensarão de mim se for atrás de um homem que claramente quer fazer coisas comigo?

Eu nem deveria me preocupar com isso, é o que meus amigos sempre dizem e até fazem, mas comigo é complicado por eu simplesmente não saber o que fazer.

Então, totalmente embolado com os pensamentos, eu visto meu terrível e quente uniforme de trabalho e desço os poucos degraus que ficam do meu quarto até a sala.

Minha casa ainda está cheia de bêbados por todos os lados, mas ao menos Minah acordou antes de todos e está agora fazendo café enquanto Yejun está cochilando sentado à mesa.

ㅡ Bom dia. ㅡ digo buscando minha xícara e pondo ao lado de uma que minha amiga já estava enchendo de café para si.

ㅡ Bom dia. Já vai trabalhar?

ㅡ E eu tenho escolhas? ㅡ bocejo ainda com sono, e pego a xícara agora cheia. ㅡ Minha jornada como escravo me espera.

Ela ri, mas eu realmente sou quase um escravo, quando tenho que trabalhar por um salário que sequer cobre meus boletos mensais.

Quando tento passar por duas criaturas que ainda dormem no meio da minha sala, tropeço em um, e tenho que fazer malabarismo para não derrubar meu café.

ㅡ Oh caralho, tá com o olho onde? ㅡ é Taeshin quem diz, levantando totalmente puto. ㅡ Vai pisar a mãe, seu corno!

ㅡ Pela santa purpurina, calem a boca. ㅡ Jackson grita e abraça Rini que está ao seu lado. ㅡ seus cornos!

ㅡ Por gentileza, eu gostaria muito que todos vocês fossem tomar no cu, pode ser? ㅡ peço calmamente, sentando em meu sofá.

ㅡ E assim começa o dia... ㅡ Yejun resmunga com a voz pesada de sono.

ㅡ E porque você não vai? ㅡ Taeshin retorna para a sala, após usar o único banheiro da casa, que fica no meu quarto. Ele me olha com o rosto ainda inchado, mas eu apenas sorrio, bebericando mais do meu café. ㅡ o que é isso? ㅡ aponta para minha xícara.

ㅡ Café.

ㅡ Me dá um pouquinho? ㅡ ele estica a mão. ㅡ tô com dor de cabeça, cafeína me ajuda.

ㅡ Vai buscar pra você, a Minah fez. ㅡ eu digo e o vejo ir até à cozinha.

Jackson bufa, por não ter seu silêncio, e se ergue, jogando Rini para o lado, que apenas rola e continua deitada com os olhos fechados.

Eu tomo todo meu café, e olho o relógio que está no meu pulso. É quase dez da manhã, o horário em que preciso estar no trabalho, mas não tenho muita pressa, a conveniência que trabalho fica na esquina da rua onde moro.

Deixando todos aqueles invasores abrigados em minha pequena casa, saio ajeitando meu crachá sobre o colete que visto, e rodo as chaves que há entre meus dedos.

O caminho é curto, mas ainda dou bom dia animado para minha vizinha idosa, senhora Lee, que acorda primeiro que toda coreia, apenas para futricar sobre as vidas alheias.

Poucos minutos se passam, talvez nem chegue a dois, e cá estou eu, agachado, abrindo o cadeado da porta de rolo que dá a segurança do local.

Abro a porta, entro, e vou logo em direção ao interruptor de energia para ligar tudo e depois buscar a vassoura e enfim dar um jeito nesse lugar que mais parece uma caverna.

Eu ainda sinto minha cabeça doer e isso com certeza é resultado de todas as cervejinhas gostosas que tomei ontem, mas nada que um analgésico não resolva.

Após deixar tudo em ordem ㅡ ou tentar ㅡ eu vou para detrás do balcão onde passarei minhas próximas incessantes dez horas do dia. É sempre assim, digo até que já me acostumei, pois, trabalho no mesmo local há cerca dez meses, o que ocorreu logo após eu ter terminado o ensino médio.

A princípio eu pensei que vindo assim que terminasse o colégio em Busan para Seul, eu acharia algo para fazer e ter um futuro, mas acho que isso também é algo que se confunde muito em minha mente ainda porque até agora nada ficou claro o suficiente no que eu devo fazer para ter realmente um futuro.

Então ainda aguardo minha mente um dia brilhar ㅡ se é que ela vai brilhar ㅡ e quem sabe me fazer tomar um rumo.

Mas enquanto isso apenas sigo o que Taeshin me instruiu a fazer.

Respirar e não pirar.

Ouço o sino na porta de entrada soar e desvio a atenção do meu celular para quem quer que tenha entrado.

É um grupo de adolescentes e como sempre eles vão correndo para a parte onde estão os salgadinhos de chips. Eu guardo o celular no bolso e me ponho de pé.

ㅡ Bom dia. ㅡ digo assim que param em frente ao caixa.

ㅡ Bom dia. ㅡ um deles fala, deixando os salgadinhos ali. Eu começo a fazer meu trabalho, registrando cada um deles.

ㅡ Deu sete mil wons. ㅡ falo.

ㅡ Certo, mas, hm... Você vende cigarros?

Eu apenas o olhei por alguns breves segundos e apontei com o queixo para a parte de trás de mim.

ㅡ Você poderia me vender uma caixa?

Eu encaro os olhos do guri. Tenho certeza que se ele pudesse implorar com as mãos unidas, faria isso sem sequer pensar. Mas é óbvio que está tímido.

ㅡ Posso ver sua identidade? ㅡ pergunto o que é de praxe. Ele deve ter quatorze, talvez quinze, mas ainda assim, preciso perguntar, quando a minha maior vontade é de chutá-los todos juntos, mandando-os de volta para a escola que, com certeza, estão matando aula no momento.

ㅡ Éer... Eu não trouxe. ㅡ ele diz com um sorriso torto, como se eu fosse algum idiota.

ㅡ Infelizmente só posso vender com identidade. ㅡ falo, suspirando. ㅡ mas os salgados deram sete mil wons.

Vejo-o assentir e cabisbaixo, pagar pelos salgadinhos. Ele segue para fora e todos os outros resmungam, como se quisessem mesmo era me xingar.

Eu sei bem que o que queriam era apenas os cigarros, os salgadinhos eram apenas disfarces. Eu também já fiz isso.

Quer dizer, não fumar, mas tentar comprar cigarros para meus colegas de classe na época do colégio. Nunca deu certo ㅡ ainda bem ㅡ e eu sempre era xingado por eles quando levava um não na cara.

Ainda vejo o grupo pelo vidro transparente e até rio um pouco do modo em como eles parecem tristes, é engraçado. Mas em seguida vejo um carro preto parar em frente ao estabelecimento e meu riso morre na hora.

Tento disfarçar quando olho, mas tenho a certeza que estou igualzinho a senhora Lee agora. É um carro de luxo, com certeza é alguém rico ou importante que está dentro.

Entretanto, me surpreendo quando vejo o vidro do carro abaixar, e a cara de pau de Kim Taeshin aparecer com um sorriso de orelha a orelha.

ㅡ Jae! ㅡ e o infeliz grita.

Franzo o cenho, totalmente sem entender porque caralhos Taeshin está dentro daquele carro, mas vou até ele, o encarando.

ㅡ Sua chave. ㅡ ele diz, erguendo-a pela janela. ㅡ Minah e Rini já foram, e Jackson mandou avisar que pegou seu conjunto de moletom favorito porque era o único que não tinha um buraco.

ㅡ ELE O QUÊ? ㅡ eu grito totalmente enraivado. ㅡ Aquele filho de uma vaca!

Taeshin rir alto, mas outra vez balança as chaves.

ㅡ Anda, pega isso logo, tenho que ir.

Aproximo-me para pegar, mas novamente tento disfarçar quando olho para dentro do carro escuro e tento ver quem o dirige.

Sou surpreendido quando vejo o mesmo homem da noite anterior ali, e ele ainda me lança um sorriso quando acena.

ㅡ Você foi quem beijou Hyun-Suk ontem, certo? ㅡ ele pergunta, super tranquilo. ㅡ A flor do Park... ㅡ e ele rir, enquanto eu ainda mantenho-me quieto de vergonha.

FLOR? Que caralhos de flor ele está falando?

ㅡ Eu e Hanguk ouvimos ele falar muito bem de você quando retornamos para a casa se quer saber.

Eu procuro um buraco para me enfiar e não acho.

ㅡ Não sei do que você está falando. ㅡ falo e pego as chaves com Taeshin, me virando rápido. ㅡ tchau Tae.

Entro em disparada na conveniência e ainda ouço a risada perversa de Taeshin ecoar.

Se minha mente já estava completamente confusa e embaralhada, imagine agora. Não sabia sequer o que pensar a respeito do que aquele homem havia acabado de falar, mas apenas uma coisa me veio à mente, então busquei meu celular ainda tonto por tudo e liguei para a primeira pessoa que apareceu na lista dos favoritos.

Foram apenas alguns segundos para eu ser atendido. Ouvi a risada escandalosa de Jackson antes mesmo de eu dizer algo, mas ele já sabia para quê eu estava obviamente ligando.

ㅡ EU VOU TE COMER NO SOCO! ㅡ grito, lembrando que ele está com meu conjunto de moletom favorito.

ㅡ Minha santa purpurina, porque está gritando?

ㅡ porque, Jackson? Quer mesmo saber?

ㅡ Se eu não quisesse, não teria perguntado.

ㅡ O meu conjunto novo de moletom, seu filhote de cruz-credo!

ㅡ Você deveria me respeitar, eu sou a soberana, você, o súdito.

ㅡ É sério, Jackson, pelo amor de Deus! É o meu moletom favorito!

ㅡ Tudo isso por causa desse conjuntinho mequetrefe de promoção? ㅡ ele rir.

ㅡ Promoção é o seu cu, ele é de marca!

ㅡ Você quer um novo? Te compro até dois se quiser.

ㅡ Eu quero, mas quero que me devolva esse. Também quero que me ajude com algo...

Meu tom obviamente muda, porque eu obviamente lembro do Park. Suspiro.

ㅡ Pode? ㅡ deixo um sorriso torto no ar, mesmo que só tenha eu na loja.

ㅡ É sobre o quê? Se for sobre homens, moda ou dinheiro, pode ser. Outras coisas, I'm sorry, estou ocupado.

ㅡ Então... Lembra do cara que o Taeshin ficou ontem na boate?

ㅡ Menino, nem te conto! ㅡ Ouço ele falar, e somente pelo tom de fofoca, corro para detrás do balcão, voltando a sentar. ㅡ Não é que aquele gay chinfrim saiu com o Jung?

ㅡ Eu vi os dois juntos, e adivinha?

ㅡ Eles te convidaram para um threesome? ㅡ Reviro os olhos, mas a pergunta tem um tom sério. É o Jackson, né...

ㅡ Não, Jack, pelo amor de Deus!

ㅡ Ainda bem, eles não seriam nem loucos de convidarem você e eu não!

ㅡ Jackson?!

ㅡ O quê?

ㅡ Foca na fofoca!

ㅡ Ok, ok! Continua.

ㅡ Então, quando eu fui buscar as chaves com Taeshin, o Tal Jung me viu e falou comigo.

ㅡ Falou o quê?

ㅡ Primeiro ele perguntou se havia sido eu, o mesmo que tinha beijado o Park ontem, mas ele já deveria saber, porque sem que eu respondesse, ele me chamou de flor do Park logo em seguida... Flor do Park! Acredita nisso?

ㅡ Que luxo!

ㅡ Luxo o quê, doido, se liga! Eu sou flor de ninguém não...

ㅡ Eu que não sou, infelizmente.

ㅡ Ele disse que o Park falou muito bem de mim ontem... Mas a gente só se beijou uma vez, o que tanto ele falaria de mim?

ㅡ Você ainda pergunta? Você faltou erguer as perninhas para se encaixar melhor nele!

ㅡ Eu?

ㅡ Não, o Yejun. ㅡ Tenho certeza que Jackson revirou os olhos. ㅡ Quer dizer, deixa meu "Yejunie" fora disso.

ㅡ Hm... ㅡ eu rio, e tenho outra vez a certeza que ele revirou os olhos mais uma vez.

ㅡ Mas voltando, o Park estava com a mão na sua bunda, mais um pouquinho e teria te fodido bem ali mesmo.

ㅡ Na minha bunda?

ㅡ Uhum, e teria sido lindo se vocês tivessem tirado as roupas e dado um show, porque foi só o que faltou.

ㅡ Você tá loucão, isso sim. Eu não senti ele pegando na minha bunda assim.

ㅡ Claro que não sentiu, estava mais ocupado se tremendo todo com o aperto do loiro.

Ouço uma risada escandalosa do outro lado da linha. Espero Jackson terminar seu show, e continuo.

ㅡ Você acha que devo ligar para ele?

ㅡ Você já deveria ter ligado.

ㅡ E se eu parecer desesperado? Ou pior, e se ele achar mesmo que sou gay, e que quero, sabe... Fazer coisas com ele?

ㅡ Amigo... você quer fazer coisas com ele, só não admitiu para você mesmo ainda.

ㅡ Claro que não...

ㅡ Uhum, mas oh, vê se não pilha com isso. Não se rotule como gay, ou nada disso. Não precisa se não quiser. Se quiser ligar para Park Hyun-Suk, ligue. Se quiser fazer coisas com ele, faça. Só você é dono da sua vida, e só você comanda suas decisões.

Ouvir aquilo me trouxe alívio.

Jackson sempre foi o mais sem "papas na língua", ou o que age sem pensar, mas sempre teve as melhores palavras nos nossos momentos de desespero.

ㅡ Está certo... ㅡ eu respondo. ㅡ eu vou pensar se ligo ou não...

ㅡ Ok, me diga o que decidir.

ㅡ Tudo bem, obrigado por me ouvir.

ㅡ É por isso que sou sua rainha, meu caro súdito, amo ajudar aos pobres.

ㅡ Você deveria ir mesmo se foder. ㅡ falo rindo, suspirando quando olho para a rua tão quieta. ㅡ e devolva meu moletom, por favor.

ㅡ Você realmente ainda quer ele?

ㅡ Ou você me devolve, ou eu raspo sua sobrancelha.

ㅡ Eu te processo.

ㅡ Eu raspo a outra!

Jackson rir, o que me diverte ainda mais.

ㅡ Mas agora posso voltar ao que eu estava fazendo?

ㅡ O que você estava fazendo?

ㅡ Nada, e gostaria muito de voltar a fazer isso.

Eu sorrio, mas assinto e me despeço. Depois, apenas deito a cabeça no balcão e fico com meus pensamentos por horas, já que não há muitos clientes pela manhã ou começo da tarde.

No fim do dia quando observo o relógio no canto da parede e o vejo marcar quase oito da noite, me prontifico a contar e organizar todas as notas do caixa, e apenas espero meu substituto de turno, que a propósito é o filho do dono do local.

Assim que ele chega, entrego o caixa e me despeço. De volta para casa, em apenas alguns minutos já estou sobre minha cama e sem roupa alguma, sentindo-me cansado do dia e pensando se devo me erguer para tomar banho ou fingir que já tomei.

No fim, eu decido tomar banho. E quando estou secando meus cabelos recém lavados, vejo meu celular vibrar com algumas notificações.

Deixo-o vibrar e me jogo outra vez na cama, fitando o teto manchado, e pensando em como meus dezenove anos haviam chegado de uma maneira totalmente contrária da que eu mesmo havia imaginado quando tinha acabado de fazer dezoito.

Não que eu imaginei muita coisa. Eu nunca fui de pensar no futuro por mais que uma universidade, mas eu realmente pensei que quando meus dezenove chegasse, eu já estaria em uma universidade cursando o bacharelado de história que sempre foi meu sonho.

Mas se eu parar para pensar agora em como imagino que será daqui a dez anos, eu com certeza não terei uma boa visão sobre minha própria vida. Talvez eu ainda esteja trabalhando num balcão de conveniência e já tenha aceitado que aquilo é tudo o que posso ter.

Mas enfim, após ficar fazendo um monte de nada e divagar sobre minha existência frívola, eu decido me erguer e me vestir com um de meus moletons que tem sim, muitos furos e que são confortáveis para dormir.

Busco o celular e desço os poucos degraus até a sala, me jogando no chão da sala em seguida. Ligo a TV, mas sequer o dorama que passa ali me interessa.

Meu celular novamente vibra com notificações. Eu bufo, pegando-o enfim para olhar o que caralhos tanto me mandam.

|Grupo: Fuzuê, farofa e cachaça|

Tae:

|Onde vocês estão?

Rini:

|Eu tô em casa.

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