Stefanos
O chão gelado sob meus pés era um contraste bem-vindo à calma quente que ainda vibrava sob minha pele.
Estava descalço, vestindo apenas uma calça de moletom escura. Sem camisa, com o peito ainda úmido do banho e da entrega que só ela conseguia arrancar de mim. Eu não admitiria em voz alta, mas estava leve. Diferente. Como se, pela primeira vez em anos, houvesse espaço dentro de mim para algo além do dever.
Mas a paz durou pouco.
Caminhei pelos corredores até a ala de contenção. Os sons mudavam conforme eu avançava. O silêncio se tornava mais denso. Mais carregado.
E então parei em frente à cela.
Lá estava ele.
Johan.
Sentado no canto, os olhos vermelhos e fundos, as mãos entrelaçadas sobre os joelhos. O cheiro da raiva ainda estava ali, misturado com arrependimento e orgulho ferido.
"Pensou sobre seus atos?" perguntei, minha voz firme, carregando a autoridade que ele parecia ter esquecido.
Ele me encarou, mas não se levantou.
"Eu pensei, sim," rosnou, os olhos ardendo. "Pensei no quanto você mudou."
Cruzei os braços sobre o peito.
"Mudei?"
"Você não é mais o mesmo. Desde que ela chegou, você não enxerga nada além dela. Está cego, tio. Pensando com a cabeça de baixo." Ele se levantou de um pulo, a voz se elevando junto com o desespero nos olhos. "Ela é a destruição da Boreal! Você deveria devolvê-la para o marido original antes que..."
"Antes que o quê?" interrompi, avançando um passo, o olhar afiado como uma lâmina. "Antes que eu me lembre que você ajudou um conselheiro a interromper a minha cerimônia de união?"
Ele engoliu seco, mas não recuou.
"Eu só queria que você acordasse! Ela te enfeitiçou! Você não vê? A Deusa jamais colocaria um sangue azul ao lado de alguém como você!"
"Alguém como eu..." repeti devagar, me encostando na parede oposta da cela, as mãos nos bolsos, o tom quase preguiçoso. "E como seria alguém digno de mim, então, Johan?"
"Qualquer uma que não te desviasse do seu propósito." respondeu com os punhos cerrados, a voz trêmula.
Deixei escapar um sorriso torto.
"Engraçado. Porque desde que ela chegou, meu propósito nunca esteve tão claro. A diferença é que agora ele não serve mais aos interesses do Conselho… e isso te incomoda?"
Ele começou a andar de um lado para o outro, os olhos arregalados.
"Você está obcecado, ciumento, territorial demais. Você queria ser o próximo Supremo! Você tinha planos. Tinha respeito. Ouvia o Conselho, ouvia o nosso líder… e agora..."
"Agora eu ouço a verdade." Minha voz saiu baixa, mas cortante. "Agora eu sinto o cheiro podre que vaza das decisões políticas e dos jogos de poder. E sim… eu escolhi confiar nela. E não em um bando de velhos que se alimentam da desgraça alheia."
"Viu? É isso!" ele gritou, agarrando as grades com força, os olhos brilhando de raiva. "Você mudou! Está vendo conspiração em todo lugar! Está se afastando de tudo o que construiu!"
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