Kiara
A casa da Juliana parecia diferente naquela manhã.
Mesmo sob a luz suave do sol e com a brisa morna balançando as cortinas, havia uma atmosfera de despedida no ar. As malas já estavam na porta, todas alinhadas e organizadas, como um lembrete cruel de que era real. Que a partida estava mesmo prestes a acontecer.
Jason entrelaçou nossos dedos e apertou a minha com firmeza, mas sem força. Um toque silencioso de apoio.
"Tá pronta?", ele perguntou com a voz baixa, quase respeitosa diante da dor que já ameaçava me engolir.
Mas eu não consegui responder com palavras. Meus olhos já estavam marejados, a garganta apertada, o coração aos solavancos dentro do peito. Em vez disso, forcei um sorriso, aquele sorriso que só os fortes usam quando não querem despencar, e assenti com a cabeça.
Assim que cruzamos o portão, ela me viu.
Juliana.
Ela largou tudo no mesmo instante. As mãos soltaram a bolsa que segurava, os olhos se encheram de água, e em menos de dois segundos, ela atravessou o jardim correndo.
"Kiara!"
"Ju..."
Nos encontramos no meio do caminho.
O abraço foi tão forte que doeu. Braços entrelaçados, corações descompassados, lágrimas escorrendo antes mesmo de qualquer palavra ser dita. Choramos juntas, como duas crianças. Sem vergonha. Sem pudor. Só emoção pura.
Anos. Eram anos de amizade. De grude. De risadas abafadas no meio da noite, de planos malucos, de confidências. Quando uma se escondia, a outra encontrava. Quando uma caía, a outra erguia.
E agora…
Agora estávamos nos despedindo. Cada uma seguindo seu próprio destino.
Quando finalmente nos soltamos, os olhos dela estavam vermelhos, o rosto molhado como o meu. Mas havia um sorriso no canto dos lábios, e mesmo tremendo, ela tentou falar.
"Você vai me prometer que a gente vai se falar todos os dias, tá bom?", ela disse. "Vídeo, áudio, mensagem, carta se for preciso... o tempo todo."
Assenti de novo, fungando. "Sim. Sempre. A gente não vai deixar de fofocar por causa da distância..."
Ela riu entre soluços e me puxou para outro abraço apertado.
"E quando qualquer coisa acontecer, qualquer coisa mesmo, você vai me ligar na hora, Kiara. Me contar tudo. Promete?"
"Prometo", sussurrei. "Mas só se você me prometer o mesmo. Quero que me conte tudo sobre a Boreal. Como tá sendo, como é viver lá... e eu e o Jason vamos visitar vocês assim que você se instalar, ouviu?"
"Olha que eu vou cobrar, hein." Os olhos dela brilharam, ainda úmidos. "Se você não for, eu venho te buscar e te levo arrastada."
Sorri, mesmo que meu peito doesse. Porque era ela. Porque era nós.
Olhei ao redor e percebi que o silêncio falava mais do que qualquer palavra.
Nossos pais nos observavam com emoção contida ou nem tanto. Minha mãe tentava disfarçar as lágrimas, enxugando os olhos com a ponta dos dedos, fingindo compostura. Verônica sorria com aquele orgulho silencioso de quem compreendia exatamente o que estávamos sentindo, os olhos marejados refletindo cada memória partilhada. Já Jenna… coitada, parecia a um passo do colapso, lutando com todas as forças para não desabar diante da despedida da filha.
E os machos… todos tentando manter a pose.
Mas mesmo os mais durões estavam claramente tocados. Os olhos baixos, os punhos fechados, os maxilares travados. Como se, no fundo, também entendessem que aquele momento marcava o fim de uma era e o início de outra.

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