“Enrico Mendonça”
Eu estava surtando ali naquele lugar e a julgar pelo tempo que eu estava aqui e tudo o que havia acontecido comigo, eu estava começando a pensar que o Ulisses estava de sacanagem comigo e não ia me deixar sair desse quarto nunca mais. Eu precisava dar um jeito. A porta foi aberta e o meu camarada entrou.
- Oi, como está o meu queridinho? – Ele perguntou e colocou uma sacola sobre a mesa que tinha perto da porta. – Trouxe umas coisinhas pra você.
- Camaradinha, vem cá. – Eu chamei.
- Ah, sentiu minha falta? – Ele perguntou e eu pensei por um momento. Na verdade eu tinha sentido sim, tinha dois dias que ele não vinha me ver.
- Sabe que eu senti. – Eu sorri pra ele.
- Gostei de saber. Então vamos aproveitar que o Senhor me deu a tarde de folga. – Ele passou a mão no meu rosto.
- A tarde toda, é? – Eu sorri e ele fez que sim. – Então senta, quero conversar com você antes.
- Ih, não sei se gosto. – Ele me olhou meio em dúvida.
- Pelo visto você também sentiu minha falta. – Eu me levantei e me aproximei dele.
- Senti, senti sim. – Ele confessou. – Eu gosto de você, mesmo.
- E eu estou gostando de você. – Eu fui sincero, para a minha própria surpresa. – Olha, eu não pensei que isso fosse acontecer, mas, é, você me fez aceitar o que eu tentei esconder a vida toda.
- Ah, é? Então você está se assumindo? – Ele me perguntou.
- É, eu acho que sim. – Eu respondi e ele me abraçou e beijou a minha boca e eu gostei daquilo, gostei muito. – Eu quero ficar com você, não apenas quando aquele maldito permite.
- Eu também quero, queridinho, mas ele tem as nossas coleiras. – Ele lamentou.
- Mas e se nós nos rebelarmos? – Eu perguntei.
- Enrico, não é tão simples assim, ele nos mataria. – O meu camarada me olhou e eu pude ver que ele tinha medo.
- E se nós o matarmos primeiro? – Eu perguntei e ele me encarou.
- Nós não sairíamos vivos daqui. – Ele me respondeu. – Não sozinhos. Precisaríamos de ajuda.
- O Luiz? Você disse que ele não gosta do velho. – Eu insisti.
- Não gosta, mas nós teríamos que convencê-lo, eu só não sei como. – O meu camarada estava pensando na minha proposta. – Por que você o odeia tanto?
Tinha chegado a hora de contar, se eu quisesse a ajuda dele, e eu queria, teria que contar. Eu me virei de costas, porque eu não podia encarar ninguém enquanto contava aquilo, e comecei a falar.
- Eu também não quero. Mas se nós dois queremos ter alguma chance, nós vamos ter que fazer tudo o que ele mandar até que a gente possa acabar com ele e fugir. – Era isso, eu tinha me convencido disso, me convencido de que era necessário obedecer até ter como fazer o que eu queria e eu queria matar aquele velho maldito.
- Se ele mandar você vai...? – Ele me encarou.
- Vou e você vai permitir, porque nós dois não vamos morrer nesta merda. – Eu falei.
- Eu odeio isso, mas você tem razão. Rico, me perdoa por não poder te defender ainda. – Ele me olhou com uma afeição genuína e eu senti o mesmo por ele.
- Nós estamos no inferno, quando sairmos dele tudo será melhor. – Eu prometi.
- Você vai ficar comigo? – Ele me perguntou, parecendo incerto, mas eu já estava certo.
- Eu sou seu fixo, esqueceu? – Eu ri. – Eu vou continuar sendo o seu fixo fora daqui, camaradinha.
- Thierry. – Ele falou de repente.
- Oi? – Eu perguntei confuso.
- Meu nome é Thierry. – Ele contou e me surpreendeu. – Eu vou falar com o Luiz, quem sabe ele não ajuda a gente. – Eu sorri satisfeito e o beijei.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Contrato para o caos: amor à primeira briga
Quero ler capítulos 320...