Sabrina Becker
Cheguei na minha última semana de contrato e tenho uma reunião marcada com Madame.
Essas semanas que se passaram foram maravilhosas.
Meu relacionamento com o mestre foi especial. Definitivamente nós curtimos demais.
Não tocamos mais no assunto de renovação. Ele respeitou o tempo que pedi. Mas enfim, chegou a hora de pôr as coisas em pratos limpos.
Eu já tinha um plano traçado. Eu precisava de espaço para poder descobrir o que eu realmente queria e como queria. Se eu continuasse sendo pressionada de todos os lados, poderia me arrepender das escolhas que faria.
E vamos combinar, eu não tinha condições nenhuma de continuar do jeito que estava.
Estou terminando de guardar minhas coisas na bolsa, para ir para a reunião com Madame quando Andrey entra na sala de aula. Os alunos acabaram de sair para o intervalo e eu estou sozinha guardando minhas coisas.
Desde que ele me fez aquela proposta, tenho evitado falar com ele. Não quero confundir mas ainda a minha cabeça, do que já está.
A proposta dele é tentadora. Com ele eu não precisaria fazer escolha nenhuma. Ele é uma pessoa que sempre esteve em minha vida. Ele é um dos meu porto seguro. Mas não é isso que eu quero, e hoje sei...
Vejam bem... Eu não tenho dúvidas que amo Paulo e que quero estar com ele para sempre. Mas eu não consigo, ir em frente, e eu preciso descobrir porque...
-Oi...
-Oi...
-Já está indo?
-Não, eu tenho uma reunião com Madame.
Ele suspira.
-Então já se decidiu?
Olho para ele e digo.
-Como sabe que tenho que tomar uma decisão? Não nos falamos a dias...
-Madame me disse que tinha lhe dado este prazo.
-De uma certa forma sim... Só não sei se ela vai aceitar minha proposta...
-Como assim?
Eu sorrio.
-Você vai saber quando chegar a hora...
Ponho a bolsa no ombro e começo a sair da sala.
-Espera... -Ele segura meu braço. Eu olho para as mãos dele.
Nenhum formigamento, nenhum frisson. Se fosse Paulo me segurando, o meu corpo todo já estaria em alerta pelo seu toque.
-Me desculpe pelo o que eu disse. Acho que fui precipitado.
-Tudo bem Andrey... já passou...
-Não... Você ficou chateada...
-Não verdade não... Eu fiquei baqueada. Nunca ninguém me disse que queria me ter na sua vida. Foi legal saber disso... Mas eu não te amo!!! Só como um amigo... Então não tem cabimento começarmos uma coisa desse tipo sem amor.
Ele abaixa a cabeça e confirma.
-Só quis te dizer que não precisava escolher nada... E nem se afastar das pessoas que ama para ser feliz.
-Eu sei... Hoje eu sei... Mas adivinha? Eu descobri mais uma coisa sobre mim... Casar, ter filhos, não é uma prioridade no momento. A minha prioridade agora é descobrir quem eu sou de verdade.
Dou um beijo em sua bochecha e me retiro da sala em direção ao escritório de Madame.
Chegando lá, peço para Márcia me anunciar e logo estou a sua frente.
Ela está sentada na sua mesa de madeira de lei antiga, e maciça.
Com um óculos de leitura no rosto. Me olhando.
-Olá, menina.
-Obrigada por disponibilizar um tempinho para mim Madame.
Ela sorri.
-Sente-se. -eu me sento em sua frente.-E aí, já decidiu o que vai fazer?
-Sim... Eu gostaria de saber se a senhora pode me conceder férias. Elas venceriam daqui a dois meses, mas eu preciso para agora.
Ela me olha e se encosta na cadeira.
-Você ainda não tomou sua decisão.
Balanço a cabeça dizendo não.
-Acho que preciso de um tempo pra mim. Quero viajar...Espairecer...Saber o que realmente me faz feliz.
-Então não vai renovar com Paulo?
-Não Madame.
-Ele não quer?
-Não... Ele quer... Eu preciso desse tempo.
Ela pega a caneta que estava na sua mão e joga na mesa.
-Você vai jogar no lixo a oportunidade que sempre quis na vida, porque está insegura se é isso que quer?
Ela fala naquele tom que põe medo em todo mundo.
Eu sabia que essa conversa ia ser difícil. Ela nos treinou para que pudéssemos chegar aonde cheguei. Eu tenho a faca e o queijo na mão. E estou abrindo mão de tudo .
É como se eu tivesse uma carreira de sucesso e resolvesse abandonar tudo para ir meditar no Japão ou passar um ano sabático no Tibet. As pessoas não conseguem entender mesmo...
É surreal!
Mais é da minha saúde e do meu equilíbrio que estamos falando...
E se eu quero começar uma vida com alguém, eu preciso parar de sabotar minhas oportunidades.
-Eu ainda vou conversar com ele... Na verdade, a idéia não é jogar nada no lixo. É apenas me afastar por algumas semanas. Quando retornar desta viagem, eu tenho certeza que saberei o que fazer...
-A terapia não adiantou nada...
-Adiantou sim Madame. É por causa da terapia que cheguei a esta conclusão. Eu descobri que o que sempre quis não é tão importante, se eu não consigo abrir mão de algo tão simples.
-Ok Sabrina, é sua vida, não posso me meter. -ela suspira. -Enquanto ao internato, não é lucrativo pra mim dar férias a uma professora no meio do ano letivo. Você está demitida! Suas coisas que estão no quarto, pode tirar por está semana, mais se preferir, posso pedir para um dos internos retirar para você.
Meu coração para de bater por alguns segundos. E percebo que o que tanto queria proteger, acaba de sair das minhas mãos.
-O que?
Ela se encostou novamente na cadeira e sorri.
-Você tinha um prazo, Sabrina. Era para tomar essa decisão dentro deste prazo. E o que fez? Quer empurrar ele com a barriga por mais um mês. Eu te disse que ia tomar a decisão por você...
Eu abro a boca e fecho.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Doce Pecado
Cadê os capítulos...
A leitura não abre... Por quê???...
Cadê os capítulos...