Sabrina Becker.
Suspiro e me sento na tampa do vaso do banheiro do avião.
Que viagem maldita! Não vejo a hora de pisar em solo firme. Quase doze horas dentro desse avião.
Eu devia ter adiado a viagem para quando eu estivesse me sentindo bem, mas eu precisava chegar o mais rápido possível em São Paulo. Duda não ia me tolerar se faltasse ao seu noivado.
Tá certo que ela nem sabe que vai noivar, mas quando sabia, ela ia ficar triste se não me visse lá por ela.
Afinal é o sonho de toda menina do internato. Encontre o seu par e viva o "felizes para sempre".
Alguém bate na porta do banheiro.
- Estou indo. -falo em inglês.
-Senhora vamos pousar em vinte minutos, a senhora precisa ir para seu assento. -Ela diz em inglês.
Merda!!! Será que eu consigo ficar vinte minutos sem vomitar?
Desde que acordei hoje de manhã em Paris, eu não paro de vomitar. A culinária do país não fez bem ao meu estômago. Passar mal tem sido uma constante, desde que cheguei em Paris.
Como eu tenho certeza que foi o tempero dos franceses?
Porque estive na Itália, Espanha e Portugal e nada aconteceu com meu estômago frágil, que descobri que é frágil, apenas agora.
Me levanto do vaso e lavo a boca, dizendo em inglês para a aeromoça.
-Já estou saindo.
Me seco e saio da cabine, encontrando uma aeromoça preocupada. Eu imagino... Passe mal a viagem toda. Passei mais tempo dentro do banheiro, do que fora.
-Não melhorou com o antiácido?
-Não... Você pode me providenciar um saquinho, se caso eu me sinta mal no assento?
-Claro, Senhora!
Ela sorri e sai e eu volto para a minha cabine. Apesar de estar viajando de primeira classe, e os acentos parecerem cabines pequenas, não foi a falta de conforto que está me fazendo mal.
O que me leva a acreditar, que quando pousar, terei que procurar um médico.
Quem sabe eu não desça logo no Hospital Albuquerque, aí eu quebro o gelo logo de uma vez.
Suspiro apertando o cinto ao redor de mim.
Foi um mês maravilhoso! Fiz tudo que me propus a fazer. Visitei pontos turísticos, restaurantes. Conheci pessoas, me diverti, contemplei a natureza e obras de arte.
A única coisa que eu não fiz foi tirar Paulo da minha cabeça. A cada lugar que visitei e cada coisa que fiz, sempre imaginava o que ele diria sobre o que estava vendendo, o que ele faria se estivesse no meu lugar.
Era como se ele estivesse comigo, todo o tempo... Agora, de volta à realidade, eu não sabia como seriam as coisas.
Durante esse tempo todo, conversei bastante com Duda, Camila e Andrey. Eles eram minhas companhias constantes no whatsapp, e era com eles que eu dividia minhas impressões sobre a viagem.
Eu prefiro não falar muito com Paulo. Eu viajei para ter um espaço. Para saber o que eu realmente queria para a minha vida. Se eu falasse com ele constantemente, ficaria difícil pra mim eu estipular o grau de importância que ele tinha.
Durante todo o mês, falei com ele apenas duas vezes. E na segunda, foi pedir a ele que não mandasse mais mensagem.
Então eu não sabia o que encontraria. Claro que ele entendeu meu ponto de vista. E respeitou...
Quem me avisou do noivado da Duda foi Camila... Arthur ia fazer uma surpresa! Minha amiga nem imaginava que ia noivar... Para ela já estava tudo muito perfeito do jeito que estava. Ela tinha o amor da sua vida ao seu lado, pra ela casar era apenas uma formalidade.
Por isso eu achei muito lindo o Arthur fazer a cerimônia. Camila me disse que ele fazia questão de ela ter essas lembranças para guardar. E eu estava muito animado por ela.
Quanto ao Paulo... Eu descobri que quero tudo com ele. Essa viagem foi providencial, como a Dra. Sandra me disse que seria.
Me afastando de todos eu pude descobrir o que realmente era importante, quais eram meus sonhos. Mergulhar em culturas diferentes e conviver com pessoas diferentes do que já estava acostumada, foi uma experiência enriquecedora que eu vou levar para a minha vida hoje.
A aeromoça volta com o saquinho que eu pedi e agradeço com um sorriso.
Parece que as coisas se acertaram no meu estômago. Graças a Deus!
Me encostei na poltrona e fechei os olhos voltando a refletir sobre os meus passos.
Eu descobri que quero tudo com Paulo... Tudo que ele quiser me dá... Filhos, morar juntos, viajar, cuidar dele e de seu apartamento. Quero a família que deixei em São Paulo. Aquela que ele me presenteou e que veio como bagagem de nosso relacionamento.
Eu nunca senti tanta falta de uma pessoa como senti dele. Quero cuidar dele, como também quero que ele cuide de mim.
Nada mudou... Eu não vejo outra pessoa ocupando este lugar... E a distância me fez perceber que eu estou disposto a tudo a estar com ele.
Descobrir que meu caminho não foi fácil.
Na primeira semana, quando cheguei em solo italiano. Não consegui fazer muita coisa. Meu peito apertava... Me sentia com medo de ir na piscina do hotel sozinha. Mas conforme a Dra. Sandra disse, a persistência e a minha teimosia, que muitas vezes foi minha inimiga, desta vez trabalhou para mim. Ela me impulsou.
Quando batia o desânimo, minha consciência me lembrava que eu não era de desistir e ia em frente.
Descobri que eu gosto mais de ovos mexidos e omelete, em vez de ovos cozidos, que foi uma opção que a freira me serviu como me mudei para o Internato de freiras.
Foi doloroso!!! Saí do conforto é doloroso! Há tempos eu tinha perdido minha personalidade. Quando me mudei para o interno aos treze, repetiam para mim que eu tinha que ser uma boa menina para ser aceita, porque agora eu dependia da caridade dos outros.
E isso ficou tão enraizado dentro de mim. Que eu cresci acreditando fielmente que eu tinha que me adaptar a todas as situações para ser querida. E muitas vezes, minhas vontades ficavam em segundo plano.
Eu nunca fui feliz, porque só é feliz aquele que está satisfeito consigo mesmo.
Muitas pessoas buscam a felicidade no mundo externo, mas mal sabem elas que se você não estiver feliz consigo mesmo, feliz nunca será.
E hoje eu estou pronta para ser feliz! Hoje posso fazer minhas escolhas sem nenhum medo de estar desagradando alguém, ou de não ser uma boa menina.
Descobri que sou forte e que posso fazer o que eu quiser. E eu voltei com esse objetivo! De fazer o que quero e ser feliz com minhas próprias escolhas.
A aeromoça se pronuncia dizendo que pousaremos em alguns minutos, e eu verificarei mais uma vez meu cinto. Enfim, em casa.
Estava com saudades!
*****
Quando chego no saguão do aeroporto empurrando meu carrinho de bagagem, logo vejo aqueles cabelos amarelos chamativos. A baixinha está lá me esperando, quando ela me vê, começa a pular no mesmo lugar e eu sorrio.
Só avisei a ela que chegaria hoje. Essa hora da noite não dava para avisar muitas pessoas mesmo. Como vou ficar com ela por enquanto, até achar um apartamento ou resolver minha vida com Paulo, prefiro esperar para comunicar a todos que estou no Brasil.
Deixou o carrinho de bagagem de lado e vou correndo ao seu encontro abraçando com carinho.
-Não acredito que você voltou.
Ela fala sorrindo. Me afasto um pouco para olhar para ela. Nitidamente ela está um pouco mais magra e cortou o cabelo. O que aconteceu por aqui? Pego uma mecha de seu cabelo e ela sorri...
-Resolvi mudar...
-Ficou linda de cabelo curto...
Seus cabelos são cortados no comprimento dos ombros.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Doce Pecado
Cadê os capítulos...
A leitura não abre... Por quê???...
Cadê os capítulos...