Sabrina Becker
Estou retirando a carne do forno quando vejo ele descendo as escadas. Está vestindo uma cueca samba canção e uma camisa de malha branca. Está com os cabelos úmidos do banho e com cara de sono.
Ele chegou ao hospital na hora do treino com Bianca. Então não conversamos sobre nada, só nos cumprimentamos. Subiu para tomar seu banho e disse que tinha trabalho pra fazer e que desceria na hora do jantar.
Só espero ter coragem de ter esta conversa. Precisa ser hoje, para que ele possa pensar com cuidado no que ele vai fazer. Ele não toma decisões sob pressão, isso é uma característica do Paulo. Então eu preciso dar um espaço para ele.
-Ei... Já jantou?- ele me pergunta, se senta no balcão e me olhando.
-Não, deixei pra jantar com o mestre porque precisamos conversar.
Ele me olha sério, e eu desvio o olhar para pegar os pratos e começar a organizar a comida.
-Algo sério?
-Sim mestre, como é nossa última semana de contrato, eu queria te comunicar com a minha decisão.
Não olho para ele, mas sinto seus olhos sobre mim...
-Então você tomou uma decisão?
-Sim mestre!
-Pela sua cara não foi muito favorável a nós, não é mesmo?
Ele se levanta do banco, vai até o bar e enche um copo com duas doses de whisky.
Merda! É melhor eu começar a falar, se não vou perder a coragem.
-Eu quero conversar sobre meus próximos passos.
-Guarde o jantar no forno Sabrina. Vamos conversar primeiro, depois comemos.
Eu concordo e começo a fazer o que ele pediu. Ele vai para o sofá e se senta, me esperando.
Vou até ele e me sento na sua frente. Não preciso ter ele ao meu lado, sentindo seu cheiro para que eu me desconcentra.
-Eu não pretendo assinar um novo contrato agora mestre... Eu preciso de um tempo... -Não olho para ele... Se olhar vou me desmanchar e não vou conseguir falar o que tenho que falar. -A terapia me ajudou a perceber que eu não estou bem... Coisas que aconteceram no meu passado mudaram drasticamente a minha forma de ver a vida. Eu tenho um verdadeiro pânico de me desapegar do que me trás segurança. Eu incluo nisso pessoas e coisas. Quando penso nisso um pânico surreal me domina e eu acabo metendo os pés pelas mãos. -limpo uma lágrima que escorre e ele diz.
-Olha pra mim Sabrina...
-Por favor mestre, deixa eu terminar... -continuo olhando para o chão.-Eu preciso me descobrir... Saber o que eu realmente quero. Os meus sentimentos pelo mestre, despertaram gatilhos profundos em mim. Hoje eu compreendo que esse medo e esse pânico de ficar sozinha, é um trauma que eu preciso trabalhar. E já estou trabalhando, mas para que eu possa compreender melhor tudo, eu preciso me afastar...
-O que está tentando me dizer?
-Que eu preciso decidir as coisas por mim mesmo., Sem pressão. Eu não tenho condições de me dedicar inteiramente ao senhor neste momento, mas eu espero que depois da viagem eu possa fazer isso...
-Que viagem Sabrina?
-Eu vou viajar... Foi uma sugestão da terapeuta. Sozinha... Escolhi visitar a Europa. E com essa viagem eu pretendo aprender a viver sozinha, a escolher por mim, a tomar minhas próprias decisões. Eu passei a minha vida toda deixando os outros, tomarem decisões por mim...
-Você nunca viajou sozinha Sabrina, aliás, você nunca saiu daqui... Como vai fazer isso? Você não faz a mínima ideia de como é fazer isso sozinha.
-Eu aprendo! Não vou te dizer que não estou assustada porque estou... Com muito medo do desconhecido, de que vou me perder ou que eu possa me machucar e não tiver ninguém para me socorrer. Mas eu preciso disso...
Ele se levanta, e senta ao meu lado, segurando as minhas mãos. Eu não olho para ele, se olhar vou perder o resquício de calma que eu tenho.
-Podemos fazer isso juntos...
Eu sorrio entre as lágrimas.
-Eu preciso fazer sozinha mestre. -eu limpo as lágrimas mais uma vez. -Eu te amo, como nunca amei ninguém. -fecho os olhos e soluço. -Mas não posso agora, porque não conseguiria me dedicar a nossa relação.
-E depois da viagem...
-E depois... Bom... -limpo meus olhos, respiro fundo e falo. -Eu não sei o que vou me tornar... Eu não sei se ainda vou querer ser mãe e ter uma família. Se isso continuará sendo meu objetivo, ou se foi algo que foi posto na minha cabeça, quando era uma criança porque era a coisa certa a fazer. Eu não sei se vou descobrir uma empreendedora igual Camila, e querer abrir um negócio... Eu não sei se vou querer estudar, talvez fazer uma faculdade de fisioterapia, como o mestre sugeriu daquela vez... -eu limpo mais uma vez minhas lágrimas. -Eu só vou descobrir isso quando minha viagem para dentro de mim, se encerrar...
-Ou retornar para o Internato ... você se esqueceu dessa opção.
Eu fecho meus olhos e dou mais um soluço. Ele me abraça com carinho e eu deito minha cabeça em seu peito. Sinto meu peito doer mais uma vez pelo Internato. Só em pensar que não voltarei a morar lá e vejo aquelas pessoas todos os dias, eu sinto meu equilíbrio sair de dentro de mim.
Se conforme Sabrina... Se conforme...
-Voltar ao internato não é mais uma opção. -Consigo dizer a ele entre meus soluços.
-Por quê? -Ele fala baixinho, alisando meu cabelo.
Sinto seu coração bater rápido.
-Madame me demitiu hoje quando fui pedir férias para viajar... Eu não tenho mais a opção de voltar para lá...
Ele suspira.
-Sinto muito Sabrina.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Doce Pecado
Cadê os capítulos...
A leitura não abre... Por quê???...
Cadê os capítulos...