Helena deixava o prédio após mais um dia intenso quando viu a figura encostada em seu carro. De longe, o paletó bem cortado e o sorriso ensaiado pareciam os mesmos. Mas por dentro, ela sentia que nada mais era igual.
— Gabriel. — ela disse, com frieza.
— Ainda sabe meu nome. Isso é um bom começo.
— Eu nunca esqueço o nome das pessoas que me apunhalam.
Ele riu, como se tudo fosse uma piada privada.
— Sempre tão dramática…
Ela cruzou os braços.
— O que quer?
— Falar. Sem plateia. Sem discursos. Só eu e você. Como antes.
— Antes de você me trair com a minha irmã? — Helena completou, com veneno na voz.
Gabriel suspirou.
— Olha, eu sei que errei. Mas... você também não era fácil. Sempre fechada, ocupada demais com trabalho, com o mundo. Eu precisava de calor, de atenção…
— E encontrou isso na cama da minha irmã. Que conveniente.
Ele se aproximou, mas Helena não recuou. Ela estava firme.
— Isadora é carinhosa, mas não é você. — ele disse, em voz baixa. — Ela me ama, eu sei. Mas você… você ainda mexe comigo.
Helena arregalou os olhos, surpresa com a audácia.
— Como é?
— Você vai se arrepender de me tratar assim.
Helena deu um passo à frente, olhos fixos nele como lâminas.
— Não, Gabriel. Já me arrependi o suficiente de ter te amado. Agora, só me orgulho de ter sobrevivido a você.
Sem dar chance a resposta, ela entrou no carro e ligou o motor. Gabriel ainda tentou chamá-la, mas ela acelerou e partiu, deixando para trás a poeira e a sombra de um homem que já não significava nada.
Naquela noite, ela ligou para Júlia e contou o que havia acontecido. As duas riram, indignadas e aliviadas.
— Está pronta pra devolver tudo em dobro? — Júlia perguntou.
Helena olhou o próprio reflexo no espelho do elevador e sorriu com os olhos.
— Não, Júlia… eu estou pronta pra devolver com juros e classe.

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