A manhã chegou cedo demais.
Helena abriu os olhos antes mesmo do despertador tocar. Não dormira direito. Revirou-se a noite inteira, revivendo o beijo em cada detalhe. O toque. O calor. A forma como o mundo parou por alguns segundos… e depois voltou a girar com força demais.
Se olhou no espelho. Havia algo diferente ali. Um brilho no olhar que ela nem lembrava mais como era.
Mas também havia medo.
Vestiu-se com cautela, buscando parecer neutra. Maquiagem leve, cabelo preso. Como se pudesse controlar o que sentia apagando os rastros na aparência. Como se pudesse voltar a ser só “a funcionária”.
Na sala do café da manhã, Leonardo já estava lá. Camisa azul clara, mangas dobradas, expressão fechada — como sempre. Mas os olhos… os olhos a procuraram assim que ela entrou. E amoleceram.
— Bom dia. — ela disse, se sentando à frente dele.
— Bom dia.
Silêncio. Ele empurrou uma xícara na direção dela.
— Café?
Ela assentiu, aceitando.
Era estranho. Íntimo e desconfortável ao mesmo tempo.
Depois de alguns segundos, ela falou, sem encará-lo:
— Sobre ontem…
— Eu sei. — ele interrompeu.
— Não foi parte do plano.
— Eu também sei.
Ela finalmente levantou os olhos.
— Então o que fazemos agora?
Leonardo apoiou os cotovelos na mesa, cruzando os dedos diante da boca. Pensativo.
— Voltamos. E seguimos. Profissionalmente.
— Como se nada tivesse acontecido?
— Como se fôssemos adultos o suficiente para lidar com o que aconteceu sem destruir o que construímos.
Helena franziu o cenho.
— Você sempre consegue separar tudo com tanta frieza assim?
Ele demorou um segundo para responder.
— Não. — disse, com sinceridade. — Mas aprendi que às vezes é melhor fingir.
Ela o encarou por mais alguns segundos, como se tentasse decifrá-lo. Mas no fundo… ela sabia. Ele sentia. Só não sabia como mostrar.
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O voo de volta foi silencioso. Os dois lado a lado, mas distantes. O toque do braço dele no dela a deixava elétrica. Mas nenhum dos dois disse nada.
Quando o carro os deixou em frente ao prédio da empresa, Leonardo desceu primeiro e abriu a porta para ela.
— Segunda-feira, às nove. Sala de reuniões. Temos revisão de projetos. — ele disse, como se estivesse lembrando a si mesmo que tudo havia voltado ao normal.
— Estarei lá. — respondeu.
Antes de entrar, ele se virou.
— Helena.
Ela se virou também.
— O que aconteceu… não foi um erro.
Ela sentiu o coração parar por um segundo.
— Mas talvez tenha sido um risco. — ele completou, e foi embora.
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Naquela noite, em casa, Helena contou tudo para Júlia. E pela primeira vez, sentiu que estava vivendo algo que fugia do seu controle — mas pela razão certa.
— Ele te viu, amiga. Não só como mulher. Mas como você é. E isso assusta. — disse Júlia. — O que você vai fazer?
Helena respirou fundo.
— Não sei. Mas não vou fugir.
Ela olhou para o próprio reflexo no espelho da sala.
— Eu estou cansada de fugir.
Na segunda-feira, às 8h55, Helena entrou na empresa com a cabeça erguida e os ombros firmes. Os olhares que se voltaram não a intimidaram — não mais. Sabia que seu nome ainda circulava nos corredores como um sussurro escandaloso.
“A noiva traída que humilhou a irmã na frente de toda a elite da cidade.”
Mas agora… ela não era mais vítima.
Era outra mulher.
Vestia um blazer branco impecável, saia lápis preta e um salto alto que ecoava pelo piso de mármore com a autoridade de quem não devia explicações a ninguém.
Caminhou até o elevador. Quando as portas se abriram, Júlia estava lá dentro.
— Pronta pra enfrentar a alcateia? — a amiga perguntou com um sorrisinho cúmplice.
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