O vídeo do discurso de Helena havia sido publicado por Júlia apenas trinta minutos após o evento. Em menos de duas horas, estava em todos os portais de notícias e em alta no T*****r com a hashtag #JustiçaPorHelena.
“Mulher acusada injustamente desmascara irmã em evento beneficente.”
“Helena Ferraz se levanta contra mentiras da própria família.”
“Isadora Ferraz forja escândalo e foge do evento após ser exposta.”
As manchetes surgiam uma após a outra, enquanto os comentários ferviam.
“Sempre desconfiei daquela Isadora. Muito certinha pra ser verdade.”
“Helena é um exemplo. Quantas aguentariam o que ela aguentou e ainda teriam a coragem de enfrentar tudo assim?”
“Essa mulher merece respeito!”
No apartamento luxuoso que dividia com Gabriel, Isadora caminhava de um lado para o outro, furiosa. Atirou o celular no sofá, os olhos ardendo.
— Ela planejou isso! Me humilhou diante de todos! — gritou, virando-se para Gabriel. — E você ficou parado feito um idiota!
— O que você queria que eu fizesse, Isadora? Ela tinha provas. Tinha documentos, vídeos. A essa altura, até o conselho da ONG está exigindo investigação.
— Isso não vai ficar assim. Eu vou destruir a Helena. Nem que seja a última coisa que eu faça.
Gabriel a encarou com desconfiança.
— Você já destruiu tudo sozinha.
Enquanto isso, Helena amanhecia com o celular abarrotado de mensagens. Entrevistas, convites para participar de painéis sobre mulheres empreendedoras, apoio de organizações que antes a ignoravam.
Mas ela não queria fama. Queria justiça.
Leonardo a encontrou sentada na cozinha, com o notebook aberto, lendo os comentários.
— Impressionante como tudo virou em questão de horas — ele disse, servindo café para os dois.
— Parece um sonho. Mas é só a superfície. O que mais me incomoda é o silêncio da minha mãe… do meu pai. Nada.
— Porque eles sabem que estão errados. E agora não têm mais controle sobre você.
Helena respirou fundo.
— Não quero mais a aprovação deles. Só quero que a verdade continue vindo à tona. Não vou mais permitir que me apaguem.
Leonardo observou a mulher diante dele. Ela estava mudando. Mais forte. Mais firme. E, para sua surpresa, mais encantadora do que jamais imaginou.
— O que vai fazer agora?
Ela fechou o notebook e ergueu o olhar determinado.
— Agora… vou até o fim.
Do outro lado da cidade, Carlos Ferraz discutia ao telefone com seus advogados, tentando conter os danos.
— Não! Eu não vou permitir que minha reputação seja manchada! Dê um jeito, faça um acordo com a imprensa, pague quem for necessário — gritou.
Mas do outro lado da linha, a resposta foi fria:
— Sr. Ferraz… talvez seja hora de o senhor se preparar. Porque isso vai longe.
O som insistente do interfone tirou Helena de seus pensamentos. Era Júlia, animada e ofegante, como se tivesse acabado de correr uma maratona.
— Amiga, você está uma celebridade! — exclamou, entrando com o celular na mão. — Olha isso, mais de dois milhões de visualizações no vídeo! E olha essa mensagem aqui… é de uma jornalista da Globo querendo marcar uma entrevista!
Helena sorriu, mas era um sorriso cansado.
— Eu só queria que tudo isso não tivesse sido necessário. Queria que minha família tivesse olhado pra mim com o mínimo de amor antes de me obrigar a gritar pra ser ouvida.
Júlia se aproximou e segurou a mão da amiga.
— Você não está sozinha. Nem mais invisível.
— Eu só queria o que era meu por direito! Você nunca me assumiu! Sempre me tratou como um segredo! Eu sacrifiquei tudo pra ser reconhecida, e ela sempre foi a sombra que vocês tentavam esconder!
Carlos deu um passo à frente, mas não havia mais autoridade na sua presença.
— Se continuar assim, vai acabar sozinha. Até Gabriel já está se afastando.
— E ela vai acabar feliz? Depois de tudo? Isso eu não vou permitir.
Os olhos de Isadora brilharam de raiva. Pela primeira vez, Carlos sentiu medo da filha que ajudou a construir com mentiras.
Na varanda do apartamento de Leonardo, Helena encarava a noite silenciosa. A cidade, que tantas vezes a ignorou, agora parecia ouvir sua voz ecoar.
Leonardo se aproximou com duas taças de vinho.
— Parece que as cartas estão sendo viradas — comentou ele, oferecendo a taça.
— Ainda tem muita sujeira embaixo do tapete. Mas agora… não vou mais me calar.
— Vai lutar até o fim?
Ela ergueu a taça, olhando nos olhos dele.
— Vou derrubar cada um deles. E não vai ser por vingança. Vai ser por justiça.
Leonardo sorriu de leve.
— Nessa guerra, você tem um aliado.
E naquele instante, pela primeira vez desde o início de tudo, Helena não se sentiu sozinha.
Ela era o furacão que eles mesmos haviam criado.
E o vendaval só estava começando.

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