Em suas Mãos (Barak 2) romance Capítulo 56

Eu sou uma fralde que conseguiu se aperfeiçoar ao longo do tempo em mulher da alta sociedade. Hoje tudo parece diferente, até Rashid está agitado. Ele sempre tem a capacidade de me manter calma e equilibrada, mas hoje não sei se ele conseguirá essa façanha. Não quando vejo um grupo de fotógrafos rindo quando me veem.

—Sheik Barak, que bom que veio. — Uma mulher da idade de Rashid o abraça, ela usa um véu negro cobrindo sua cabeça. Aliás todas mulheres usam, inclusive eu, em respeito à religião do embaixador. Ela lhe dá um beijo. — Kalil ficará feliz em vê-lo aqui.

Rashid sorri. Ela coloca seus olhos negros em mim. Rashid nos apresenta.

—Khadija, essa é Zafira. Ela é esposa do embaixador.

Acho que estou sofrendo de fobia social grave. Não consegui falar. Apenas afirmei com a cabeça.

— É um prazer, minha querida. Fiquem à vontade. Daqui a pouco Kalil vem fala com você. A mesa não está marcada. Pode escolher a mesa que preferir.

—Khadija, o que foi?

—Não sei, hoje estou nervosa.

– Tentarei não sair de perto de você. Posso segurar sua mão e conversar para ajudá-la a sair dessa insegurança.

Ele fez como prometeu. Me acompanhou durante toda a noite, segurou minha mão e ainda conseguiu me tirar para dançar. Então um homem baixo com um bigode se aproxima de nossa mesa, mas antes de fazê-lo, Rashid vai até ele. Eles se beijam.

Então observo Rashid se afastar com esse homem. Um garçom coloca dois menus na mesa. Eu pego um e leio lentamente através dele. Um minuto ou cinco se passam e quando olho para cima Rashid está conversando com o seu amigo, o embaixador.

É triste minha situação. Eu me coloquei numa posição dúbia quando aceitei tudo que ele me ofereceu, mesmo que eu esteja agindo por amor.

Maldito machismo árabe! Ele não segue à tradição, mas no fundo é um preconceituoso!

Eu olho para o meu menu novamente, mas sem ver nada, apenas me escondo atrás dele. Ergo os olhos e vejo Rashid. Uma mulher vai em sua direção. Seu cabelo loiro escapa do lenço negro que ela usa.

Ela o abraça e o beija no rosto. Ela é linda, está usando um vestido preto, caríssimo. Sorri aberto para ele quando ele fala algo em seu ouvido. Ela toca seu braço com intimidade. Eu respiro fundo, tentando não me importar. Mas eu não gosto, não gosto nada disso e me importo. Muito. De modo instintivo imagino que a garota tenha sido uma das amantes dele.

Abalada, procuro com os olhos a toalete. Vejo a placa a indicando do meu lado esquerdo. Eu me levanto e vou em direção a ela. No meio do caminho, vem um repórter. Sei que é um pois ele está com gravador de voz na mão e uma máquina fotográfica presa ao pescoço.

—Olá. Você já foi odalisca do restaurante Sultan. Eu gostaria de saber como você conheceu o Sheik Barak?

Eu passo por ele altiva, sem responder. Ele me persegue.

—Olha, não adianta negar. Por favor, só me fale isso.

—Eu não vou falar nada! Afaste-se. —Eu digo com o nariz empinado. Ele sorri e se afasta.

No banheiro passo um papel embaixo dos meus olhos. Tirando um pouco do lápis que desceu com minhas lágrimas. Eu não podia desconstruir a imagem que Rashid queria de mim, ele já tinha me orientado que eles iam querer saber da minha vida.

Respiro fundo, tentando afastar a angústia de dentro de mim. Eu continuo a amá-lo, mais do que eu pensava ser possível, mas terei que partir. Essa é a última festa que estaremos indo juntos.

Por que me preocupar com tudo isso, então? Não estarei mais em sua vida.

Respirei fundo enquanto as lágrimas descem.

Eu sou forte! Já passei por tanta coisa, irei passar por isso também de cabeça erguida. Criarei meu filho longe daqui.

Quando me sinto melhor, saio do banheiro, antes de entrar no salão, vejo ao longe Rashid. Ele está a minha procura, e parece incomodado sua cabeça virando para todos os lugares até que seus olhos me encontram saindo do corredor, ele respira fundo e parece se tranquilizar.

Eu lhe dou um sorriso quando me sento ao lado dele.

—Estava te esperando para fazer nosso pedido. —Ele diz suavemente, com aquele jeito cativante.

Eu aceno um sim. Ele me entrega o menu eu me escondo atrás dele.

Sinto como se ele adiasse o inevitável. Ele gosta de usufruir da minha companhia e ao mesmo tempo acha que não sou boa o suficiente para ele. Eu não sou o tipo de mulher que ele escolheria para casar. Ele acha que sou do tipo que vai trair, que um dia irá lhe passar a perna. Acho que é isso que ele pensa.

—Já se decidiu? —Ouço ele perguntar.

Eu falo a primeira coisa que vejo na minha frente.

—Arroz branco e tabule com aspargos.

Entrego o menu ao garçom que está ali esperando meu pedido.

—Boa escolha. —Rashid me diz com um sorriso.

Eu lhe dou um sorriso fraco. Vejo a loira me observando ao mesmo tempo que ela se move com a elegância de um cisne.

Tomara que tropece e se esborrache no chão!

— Quer um suco para começar?

Eu encaro seu olhar intenso. Não consigo pensar direito quando ele está olhando para mim como se quisesse me devorar. Por fim, consigo responder.

—Um suco de abacaxi.

Ele se inclina e fala na minha orelha.

—Eu já te disse que você está linda hoje? Você é a mulher mais bonita desse salão.

Seus olhos brilham na meia luz e, embora eu sinto vontade de desviar o olhar, não o faço. Eu não sorrio, abaixo meus olhos, pensativa. Ele deve se sentir um presente de Deus para o sexo feminino. E o pior, que ele é.

—Hei, eu te fiz um elogio.

Eu o encaro, e lhe dou um sorriso, tento levar na esportiva:

—Mais que a loira que você falava agora a pouco?

Ele sorri, um sorriso lento, predador.

—Quem? Aquela fantasminha camarada? Sinceramente? Sim, muito mais. Você não tem ideia como é linda.

Não sei se ele é sincero ou faz isso para me agradar. O “espelho meu” sempre diz que não existe ninguém mais bela do que eu.

Ele toca meu queixo e me faz olhar para ele.

—O que foi?

—Tem algum jornalista olhando agora? Você quer me fazer relaxar me dizendo as palavras certas?

Ele nega com a cabeça e passa um braço por trás das minhas costas. Sua cabeça desce e sua testa encosta na minha.

—Não, Khadija. Estou sendo sincero. Tudo em você é lindo. Seus olhos, suas mãos, seu corpo... —Seus olhos descem para a minha boca. — Seus lábios são incríveis.

Por um momento, eu esqueço tudo ao meu redor. Seu calor, seu cheiro, seus sussurros. Allah! Eu derreto. É o que eu estou fazendo neste momento, derretendo. Ele tem um efeito devastador em mim.

Então me lembro que preciso ser forte. Suspiro.

Preciso ser mesmo?

Rashid me dá um beijo casto na testa e se afasta. Só então reparo que o garçom trouxe nossos pedidos. Rashid pede uma salada de legumes e um pequeno medalhão de carne. Ele geralmente come muito mais que isso. Reparo que ele está bebendo seu suco mais do que comendo.

Quando finalizamos nosso jantar. Ele se levanta.

—Já volto. Não demoro.

Só então reparo que alguém fez sinal para ele e o espera para conversar. Ele vai em direção a esse senhor.

Percebo como Rashid chama a atenção. Não tem uma mulher que fica indiferente a sua presença, elas entortam a cabeça para vê-lo passar. Umas descaradamente e outras disfarçadamente.

Eu tomo um pouco do suco de abacaxi, observando os dois conversarem, mas como eles estão distantes não consigo ouvir.

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