Em suas Mãos (Barak 2) romance Capítulo 60

Rashid

Allah! Ela me ama? Foi o que ela disse. Minha respiração sai ofegante do meu peito. Estou confuso agora, tão confuso. Não esperava as palavras dela. Sua declaração. Nem sua negativa eu esperava.

Meu lado racional estava sendo empurrado pelo meu lado emocional que queria ganhar espaço dentro do meu peito. Aquele Rashid que rejeitava uma relação séria com a odalisca está se apagando e dando lugar a outro homem.

Levanto da cama ainda ofegante. Ainda sem saber o que fazer com esses sentimentos que estão ganhando espaço dentro do meu peito.

Allah! Ela não aceitou minha proposta. Se fosse uma mulher interesseira sem princípios, ela teria aceito. Ela estava esse tempo todo ao meu lado por amor?

Suas palavras mudam tudo! Allah! Incrível que precisou apenas de alguns segundos para eu perceber que tenho colocado as origens de Khadija como muleta para proteger o meu coração.

Respiro fundo, com vontade de ir até seu quarto e pedir que ela fique. Mas não tenho cara para enfrentá-la agora, depois do pedido que eu lhe fiz.

Calma! Agora não! Não haja no calor da emoção.

Minhas palavras não terão valor algum se eu falar com ela agora. Ela precisa ver que tive uma noite para pensar. Amanhã eu me retrato com ela e a assumo de vez.

Khadija

No dia seguinte, depois de uma noite mal dormida. Acordo bem cedo, mais bem cedo mesmo. Vomito tudo que tinha para vomitar no banheiro e dou descarga. Tomo um banho demorado e coloco um vestido negro de enterro, ou melhor de mulher rejeitada.

Faço uma maquiagem leve para tirar o cansaço do meu rosto e vou até a sala. Zilá está limpando a mesa de jantar com algum produto. Eu nem me aproximo dela, só de sentir o cheiro me faz mal. Quando ela me vê carregando minhas malas para o que está fazendo e expressando conflito, vem minha direção.

—O que aconteceu?

Eu dou de ombros.

—Terminamos, Zilá.

O queixo dela cai.

—Terminaram?

—Sim. —Digo normalmente, embora destruída por dentro. —Chame o táxi para mim? Quero sair antes que ele acorde.

—Você irá sair sem se despedir?

Eu ri.

—Zilá, está tudo resolvido. Já nos despedimos ontem! Não há mais nada para falarmos.

Ela se assusta com a irritação da minha voz.

—É inacreditável, vocês pareciam um casal de apaixonados.

Eu respiro fundo, tentando me acalmar.

—Zilá, Rashid não me ama. Só isso. —Ela balança a cabeça. —Zilá, por favor. Chame o táxi para mim!

—Tudo bem. —Ela diz triste, quase chorosa.

Zilá se afasta e faz conforme minhas instruções. Depois olha para mim. Eu vou até ela e a abraço. Deposito um beijo em seu rosto.

—Vou sentir sua falta. Despede da senhora Thompson e das outras por mim.

—Está certo. —Ela diz chorosa.

—Vou esperar lá fora, se Rashid acordar diga que eu já fui embora.

Saio da mansão puxando minhas malas. Zilá me diz:

—Vou pedir para Ramon te ajudar.

Eu fiz que sim, mas continuo meu caminho. Eu não quero me encontrar com Rashid. Na verdade, estou louca para deixar logo a mansão. Ramon surge quando eu já estou numa pequena parte do caminho de paralelepípedos. Ele então pega as minhas duas malas e me ajuda chegar do lado de fora dos portões.

Minutos depois o taxi chega. Enquanto o motorista coloca minhas malas no porta-malas e eu entro no carro. Viro minha cabeça para a mansão. De longe avisto Rashid. Ele está apenas de calção e camiseta. Está parado na varanda da casa olhando em minha direção. Meu coração se aperta dentro do peito sabendo que essa será a última imagem que terei dele. Dói olhar para ele, então me viro para frente.

O taxista entra e pergunta:

—Para onde madame?

Não posso ficar no hotel de Rashid como ele sugeriu. A única pessoa que eu conheço e que posso recorrer nesse primeiro momento é o doutor Smith e é para lá que eu vou.

—Hospital São Marcos.

Enquanto o taxi percorre as ruas, sinto um misto de excitação e medo pela vida que me espera. Um soluço escapa da minha garganta, seguido por outro, e outro, até eu estar sem ar de tanto chorar. Antes de chegar no hospital me acalmo.

O motorista me observa preocupado. Eu lhe dou um sorriso fraco e pago a corrida. Ele retira as malas para mim e eu vou em direção a entrada do hospital. Meu coração se aperta revivendo os dias que eu visitava meu irmão.

Maria, —uma senhora de cinquenta anos que me atendia sempre que eu visitava meu irmão, —arregala os olhos quando me vê.

—Khadija. Meu Deus, como você está linda. As coisas melhoraram muito para você. Eu quase não te reconheci.

Eu forço um sorriso.

—Obrigada. Tudo bem com você?

—Tudo, mas pelo visto, pra você melhor ainda. Ganhou na loteria? Alguma herança? E essas malas?

De repente eu caí na realidade com a natureza da minha recente prosperidade e o quanto isso poderia ser malvisto por pessoas que não entendessem o que me levou a tudo isso.

Por que Rashid me olharia diferente?

Eu desconverso.

—O doutor Smith está?

Ela me dá um meio sorriso, imaginando coisas.

—Sim, acabou de chegar.

—Você pode dizer que preciso falar com ele?

Ela sorri aberto.

—Claro! E essas malas?

—Você ficaria com elas para mim?

—Tudo bem. Você está tão misteriosa.

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