Em suas Mãos (Barak 2) romance Capítulo 61

Rashid

Descalço, em pé na varanda da casa, fico a olhar Khadija partir. Agitado, e incomodado que ela tenha saído sem tomar café comigo. Sei que ontem, de certa forma, foi uma despedida. Reprimo a vontade de correr até ela como um idiota. Mesmo agora, no dia seguinte, mesmo pensando com a cabeça certa, e mais centrado, criou-se em mim o desejo de ficar com Khadija. Eu não só quero ela na minha cama, mas eu a quero na minha vida também.

Só que eu não contava que ela fosse embora tão cedo. Achei que conversaríamos um pouco. Pensei que ela fosse me participar de seus planos, o que faria daqui por diante e então eu a surpreenderia pedindo para ela ficar.

Vou até meu quarto me sentindo ansioso para ligar para o hotel e saber se ela chegou bem. Pego o primeiro terno que encontro e da mesma forma a camisa a gravata. Tomo um banho e me apronto para ir ao trabalho.

Na sala eu lanço um olhar para o lugar vago na mesa. A ausência de Khadija aperta meu coração...

Pego o telefone entendendo que já deu tempo suficiente para ela ter chegado ao hotel.

—Laura? Sou, eu. Rashid.

Logo que me identifico, Laura a recepcionista gagueja:

—Vossa majestade, bom dia. Pois não?

—Gostaria de saber se Khadija Aziz chegou? E que quarto ela está?

Ela limpa a garganta.

—Khadija Aziz?

—Sim.

—Ela não chegou. Mas eu vou confirmar, só um minuto. —Segundos depois... —Não. Ela não está hospedada no hotel.

Eu bato na mesa e Zilá, que está arrumando o café da manhã, pula do outro lado. Eu me controlo.

—Impossível! Verifique novamente. Ela já deve estar por aí. Pede para alguém verificar no restaurante e me liga.

—Sinto vossa majestade.

—Obrigada. —Eu desligo.

Encaro Zilá.

—Khadija se despediu de você?

—Sim, senhor Barak.

—Ela disse para onde ia?

—Não senhor.

Eu trinco os dentes.

—Merda! Merda! Merda!

Zilá engole em seco.

—Por que o senhor está assim? Vocês não se separaram?

Eu a encaro com sangue nos olhos.

—Allah! Ela que o dispensou?

Trinco os dentes.

Allah! A cada palavra de Zilá me deixava pior.

—Zilá, chega! Cuide do seu serviço.

Há muito tempo, decidi que não seria afetado por alguém, ou sequer vislumbrassem minha fraqueza. Mas hoje há um grande nó de inquietação me apertando o peito.

Não quero ligar para o celular dela. E ela, o levou consigo?

Começo a presumir onde Khadija poderia ter ido.

O albergue?

Não! Allah! Eu lhe dei uma quantia suficiente para ela pudesse fazer sua vida sem que precisasse colocar seus pés lá.

Posso sentir o olhar de Zilá em mim enquanto me dirijo ao quarto de Khadija. Transtornado, procuro algum bilhete no quarto.

Quem sabe ela me avisou onde ficaria?

Nada! E para piorar o celular dela está em cima do criado-mudo.

Abro seu closet. Surpreso vejo todos os seus vestidos de festa pendurados, constando que ela só levou os do seu dia a dia. Abro o cofre e vejo todas as suas joias guardadas.

Ela deixou tudo para trás!

Eu sempre consegui lidar com as mais variadas situações. Até com meu passado difícil. Melhor dizendo, eu pensei que sabia. Mas agora estou abalado.

Volto para a sala de jantar e me sento à mesa. Apanho a xícara apertando-a com força desnecessária com medo que ela tremesse na minha mão. Respiro irregularmente, me sentindo angustiado.

O telefone toca. Zilá se dirige a ele. Eu digo alto:

—Eu atendo.

Era Laura.

—E então, Laura?

—Ela não está no restaurante.

Claro que não! Ela passaria antes pela recepção para deixar as malas no quarto. Eu sabia da resposta antes mesmo de ela me dar, mas atendi para desencargo de minha consciência.

Pego minha pasta e resolvo ir para o hotel. Não consigo comer nada.

Quando chego ao meu escritório. Chamo um dos meus seguranças. Kamal. Ele já foi investigador. Peço para ele procura-la no albergue. Depois ir até ao restaurante e ver se ela passou por lá.

À tarde o recebo com ansiedade no meu escritório.

—Ela não apareceu em nenhum desses lugares.

—Revire a cidade, mas a encontre. Vá a cada hotel, ou possíveis lugares que ela tenha hospedado. À noite vá ao Sultan e converse com as pessoas que trabalham lá e verifique se ela as contatou.

—Sim, senhor Barak. —Ele inclina a cabeça e sai.

Enfio de cabeça no trabalho, mesmo assim não consigo afastar minha angustia nem meu mal humor. O dia torna-se noite. Quando Kamal chega.

—E então? Você foi ao restaurante? Perguntou por ela?

—Sim, chefe. Mas ninguém sabe dela.

—E os hotéis e hospedagem da região. Alguma coisa?

—Não. Ela não se hospedou em nenhuma delas.

—Está certo. Pode ir. —Digo seco.

Olho pela janela o mundo como se fosse um espectador, como se nada importasse além de saber onde Khadija se meteu.

Dou um soco na mesa. Khara! Nunca imaginei que ela fosse desaparecer.

Eu imaginei que ela ficaria no meu hotel, que nos veríamos, que ela me pediria ajuda na compra da casa, na aplicação do dinheiro. No enfrentamento da vida.

Nunca imaginei que ela ia sumir!

Fico sentando na minha confortável cadeira de couro vermelho meus olhos voltados para a janela. Parado. Sem nada ver. Pensando nela, revivendo nossa última noite de amor. Uma dor surda persistente de remorso aperta meu coração.

Acabo perdendo a noção do tempo. Fecho os olhos e esfrego as têmporas com a ponta dos dedos. Cansado, finalmente vou para casa.

Em casa, tomo um banho demorado. Como se a água além de aliviar o meu estresse, também aliviasse minha raiva.

Sem sono, puxo as cortinas pesadas de lado e olho para fora através dos gramados da propriedade. A madrugada está fria e úmida. Volto para a cama, mas tudo o que faço é rolar nos lençóis pensando nela, agoniado, desespero martelando dentro de mim.

Onde ela está?

O que ela fará daqui para frente de sua vida?

Desisto de tentar dormir. Coloco um agasalho e ando sem rumo, como um fantasma assombrando a casa.

De madrugada, volto para o quarto e deito na cama. Olho para o teto e fico vendo as sombras se alongando dando lugar ao dia.

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