Rashid
Descalço, em pé na varanda da casa, fico a olhar Khadija partir. Agitado, e incomodado que ela tenha saído sem tomar café comigo. Sei que ontem, de certa forma, foi uma despedida. Reprimo a vontade de correr até ela como um idiota. Mesmo agora, no dia seguinte, mesmo pensando com a cabeça certa, e mais centrado, criou-se em mim o desejo de ficar com Khadija. Eu não só quero ela na minha cama, mas eu a quero na minha vida também.
Só que eu não contava que ela fosse embora tão cedo. Achei que conversaríamos um pouco. Pensei que ela fosse me participar de seus planos, o que faria daqui por diante e então eu a surpreenderia pedindo para ela ficar.
Vou até meu quarto me sentindo ansioso para ligar para o hotel e saber se ela chegou bem. Pego o primeiro terno que encontro e da mesma forma a camisa a gravata. Tomo um banho e me apronto para ir ao trabalho.
Na sala eu lanço um olhar para o lugar vago na mesa. A ausência de Khadija aperta meu coração...
Pego o telefone entendendo que já deu tempo suficiente para ela ter chegado ao hotel.
—Laura? Sou, eu. Rashid.
Logo que me identifico, Laura a recepcionista gagueja:
—Vossa majestade, bom dia. Pois não?
—Gostaria de saber se Khadija Aziz chegou? E que quarto ela está?
Ela limpa a garganta.
—Khadija Aziz?
—Sim.
—Ela não chegou. Mas eu vou confirmar, só um minuto. —Segundos depois... —Não. Ela não está hospedada no hotel.
Eu bato na mesa e Zilá, que está arrumando o café da manhã, pula do outro lado. Eu me controlo.
—Impossível! Verifique novamente. Ela já deve estar por aí. Pede para alguém verificar no restaurante e me liga.
—Sinto vossa majestade.
—Obrigada. —Eu desligo.
Encaro Zilá.
—Khadija se despediu de você?
—Sim, senhor Barak.
—Ela disse para onde ia?
—Não senhor.
Eu trinco os dentes.
—Merda! Merda! Merda!
Zilá engole em seco.
—Por que o senhor está assim? Vocês não se separaram?
Eu a encaro com sangue nos olhos.
—Allah! Ela que o dispensou?
Trinco os dentes.
Allah! A cada palavra de Zilá me deixava pior.
—Zilá, chega! Cuide do seu serviço.
Há muito tempo, decidi que não seria afetado por alguém, ou sequer vislumbrassem minha fraqueza. Mas hoje há um grande nó de inquietação me apertando o peito.
Não quero ligar para o celular dela. E ela, o levou consigo?
Começo a presumir onde Khadija poderia ter ido.
O albergue?
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