Em suas Mãos (Barak 2) romance Capítulo 64

Passo a noite em claro revivendo tudo que vivemos. Acabo dormindo lá pelas quatro horas da manhã. Acordo às dez horas, esfregando os olhos, incomodado com a claridade do quarto. Eu me troco e vou até a sala de jantar. O mordomo quando me vê, me cumprimenta com um bom dia e vai atrás do meu café.

Com o café da manhã servido, o mordomo Jeremy se inclina:

—Eu não sabia que o senhor viria. Então improvisei o café da manhã com que tinha.

Olhei a mesa sem fome. Pão, geleia, manteiga, café, leite e frutas.

—Está ótimo. Não preciso nada mais que isso.

Ele faz uma mesura.

—Fiquei triste com a morte de seu pai. Ele era um grande homem. —Ele diz.

Eu assinto, pensativo.

—Sim, verdade. Um grande homem.

Quando ele sai eu ouso erguer a xícara, pois minha mão treme muito e começo a me questionar como enfrentar meus dias sem Khadija.

Horas depois eu chego na mansão. Logo que entro na sala vejo meu irmão saindo com Hassan no colo, vindo do corredor dos quartos. Jade está com uma mamadeira nas mãos atrás deles.

— Marḥaba! (Bom dia.), pelo visto a noite foi boa. —Zafir diz quando repara que estou com a mesma roupa de ontem e que eu não fiz questão nenhuma de trocar.

Respiro fundo antes de responder com o rosto inexpressivo:

—Marhaba.—Respondo seu cumprimento sem maiores explicações.

Por um momento o estudo, refletindo sobre a felicidade de Zafir ao lado de sua família, e minha alma arde com o desejo de ter isso com Khadija.

Observo Hassan, meu sobrinho, um garoto que herdou todos os traços de nossa família. De repente me dá vontade de segurá-lo no colo. Sentir por um momento o significado de ter um filho. Uma família completa.

—Posso pegá-lo? —É a primeira vez que faço esse pedido.

Zafir assente e me entrega ele.

Pego meu sobrinho no colo, meio desajeitado. Ele parece que sente o quanto estou triste, arrasado por ser tão idiota, pois coloca as suas mãozinhas no meu rosto e as desliza como se quisesse tirar minha carranca de tristeza.

—Você não irá trabalhar hoje? —Zafir pergunta.

—Não. Já avisei que não vou. Estou esgotado. —Digo sem olhar para Zafir. Dou um beijo em Hassan e me viro para entregar o menino para ele, mas é Jade que surge com um sorriso para pegá-lo do meu colo.

Eu o passo para o colo dela, nossos olhos se encontram e percebo que nunca senti por Jade o que senti por Khadija. A garota que eu julgava ser ideal não tinha balançado meu coração como a odalisca.

Dou me conta que não foi apenas pela sua beleza que me senti enlaçado, mas por aquele algo a mais que a envolvia, sua doçura e feminilidade, algo inexplicável, que a torna única.

Com essa percepção sinto um aperto no coração e a saudade abrindo mais o buraco no meu peito e me dá vontade de chorar de frustração ao constatar isso.

Encaro meu irmão que está me observando.

—Bem, vou descansar um pouco. Mais tarde nos falamos.

E vou saindo da sala.

—Eu não estarei aqui mais tarde. —Zafir avisa.

Eu paro e o encaro.

—Não?

—Nós vamos sair com o Layla. Nos acompanha ao passeio?

Tudo o que me lembro quando penso no iate é os momentos que passei com Khadija. Uma tristeza horrível se espalha dentro de mim. Meu coração se aperta ainda mais. Não respondo por uns instantes. Allah isso dói. Tive medo de chorar ali na frente dele.

—Não, obrigado. Estou cansado mesmo. Bom divertimento.

No meu quarto me entrego ao sofrimento. Sinto lágrimas vindo aos olhos, me deixando perplexo com as emoções violentas e descontroladas que me envolvem por ter jogado fora a maior felicidade que poderia ter na minha vida. Agora corro o risco de nunca mais amar uma mulher como a amo. Só de imaginar minha vida longe dela, longe de tudo que tivemos, a dor vem enorme, terrível.

Contive o impulso de destruir tudo na minha frente.

Preciso encontrá-la, me abrir, colocar meus sentimentos para fora!

Estava pensando nisso quando surge a imagem de Roger Smith. O cara “legal”, aquele médico que já tinha participado do MSF (Médicos Sem Fronteiras) e que estava naquela homenagem ao meu pai.

Allah! Sim, vou procurá-lo! Ele deve saber do Khadija.

Minha Khadija...

Com esse objetivo me sinto melhor, saindo daquele estado de paralisia e dor.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Em suas Mãos (Barak 2)