Duas semanas depois...
Khadija
Já se passaram duas semanas desde que eu saí da mansão. Meu amigo Roger e sua namorada, que aparece em sua casa de vez em quando, têm me tirado da solidão. Meu enjoo matinal ainda está me afetando duramente todas as manhãs.
O bom é que eu não tenho me preocupado com nada nesses dias. Nem em fazer as refeições, pois Kate, uma senhora que cuida da casa de Roger me chama todo os dias para fazer as refeições na casa dele.
Helena, sua namorada, no começo não me viu com bons olhos. Mas depois que ele teve uma conversa com ela, me aceitou. Acredito que Roger tenha contado toda a minha situação. Não sei se ele contou em detalhes para ela. Talvez sim, pois às vezes ela me olhava com pesar.
Sim, eu era digna de pena.
Roger se mostrou um amigo maravilhoso. Sempre depois do jantar conversamos um pouco até eu me despedir e me recolher com aquela minha reserva habitual. Não quero abusar, sei que ele trabalhou o dia inteiro. Eu sempre me sinto atrapalhando de alguma maneira. Inclusive estou pensando até em comprar uma casa longe dessa cidade por causa disso.
Nesse final de semana que passou eu almocei com eles. Descobri que Helena vem de um lar feliz, uma família estável e perfeita. Ela lê romances com finais felizes. Acho que é agradável isso, mas tão longe da realidade.
Hoje não consigo me imaginar com uma família, às vezes até penso nisso, ainda que só para concluir que talvez isso não seja para mim.
Quando observo os dois juntos de mãos dadas, concluo que eles se gostam. Roger realmente parece gostar dela. Ele é extremamente carinhoso. Helena tem sorte de ter um homem como ele.
Uma pena não podermos mandar no coração. Muitas vezes quando os observo, eu me pergunto porque não me apaixonei por ele quando tive oportunidade, antes mesmo de ele conhecer Helena?
Por que me apaixonei justo por Rashid? Um homem frio de sentimentos, o senhor “controle da situação”?
Por mais que não queira pensar nisso, não consigo evitar. Sinto um misto de culpa e desejo, e isso me desorienta. Limpo minhas lágrimas lutando contra meu fantasma que vive me assolando, principalmente quando me deito na cama para dormir.
Rashid
Estou em frente ao hospital no meu rosto uma expressão de determinação. Meu coração bate alucinado no peito. Parei de ser razão; agora sou todo sentimento. Preciso de Khadija, meu corpo clama por ela. Minha mente está sempre repleta de pensamentos com ela. Tudo que sufoquei antes agora extravasa de dentro de mim.
Entro no hospital seguido por meus homens. Paro de repente e faço-os esperar do lado de fora. Ando tão irritado que até a presença deles me irrita agora.
Caminho até a recepção, mas nem preciso abrir minha boca e perguntar por Smith, pois ele passa alguns metros de distância mim. Ele não me vê, está distraído. Eu o sigo e o espero sair do hospital. O alcanço no estacionamento, e o seguro.
—As-salam alaykom.
Ele para e me olha. Seu rosto se transforma em uma carranca e eu não gosto disso. Tremendo, eu engulo meu orgulho e digo:
—Estou à procura de Khadija. Preciso falar com ela. É um assunto importante. Por acaso você sabe onde ela está? Ela te procurou?
Ele se vira e começa a andar. Eu sinto o ódio me tomar. E o seguro pelo braço.
—Você poderia ser educado? Eu te fiz uma pergunta. E acredite quando digo que você não irá a lugar algum até me dar uma resposta.
— Acredita mesmo que eu irei dizer onde ela está? —Ele fala com o maxilar contraído de tensão. —Mesmo que eu soubesse, eu não te diria.
Eu o encaro com tanto ódio que, se encostasse nele, o mataria de tanta porrada.
—Como é que é?
—É isso que você ouviu. Esqueça Khadija. Você não a merece.
Sinto a culpa me rasgar por dentro ao lembrar do que fiz, do modo que a tratei e ainda pior quando propus que nos víssemos apenas para supri minha necessidade sexual por ela. Apesar de saber que é verdade, eu o olho com raiva.
— Só ela tem esse poder de decisão. Ela que decide se ela quer rejeitar o que tenho a lhe dizer. Eu preciso falar com ela.
—Ela não quer falar com você. Aliás, ela não quer ver tua cara.
Por um momento, tenho dificuldade de entender o que está acontecendo, enquanto as últimas palavras de Smith são processadas por meu cérebro.
Passei a mão pelos cabelos, nervoso.
—Então você sabe onde ela está? —Eu questiono, ofegante. Uma raiva crescente se forma no meu coração. Eu o olho como um homem das cavernas em resgate a sua fêmea.
—Sim. Esqueça Khadija. Ela não é as putas que vive saindo. — Ele diz, entredentes.
Eu me irrito quando vejo que o controle da situação escapou das minhas mãos. Allah, não me castigue dessa forma!
—Khara!—Rosno. —Eu sei!
Ele ri do meu desgosto.
—Sabe? Esqueça Khadija!
O incômodo me arranha por dentro. Eu fico tenso quando percebo o tamanho da intimidade entre eles.
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