Em suas Mãos (Barak 2) romance Capítulo 65

Duas semanas depois...

Khadija

Já se passaram duas semanas desde que eu saí da mansão. Meu amigo Roger e sua namorada, que aparece em sua casa de vez em quando, têm me tirado da solidão. Meu enjoo matinal ainda está me afetando duramente todas as manhãs.

O bom é que eu não tenho me preocupado com nada nesses dias. Nem em fazer as refeições, pois Kate, uma senhora que cuida da casa de Roger me chama todo os dias para fazer as refeições na casa dele.

Helena, sua namorada, no começo não me viu com bons olhos. Mas depois que ele teve uma conversa com ela, me aceitou. Acredito que Roger tenha contado toda a minha situação. Não sei se ele contou em detalhes para ela. Talvez sim, pois às vezes ela me olhava com pesar.

Sim, eu era digna de pena.

Roger se mostrou um amigo maravilhoso. Sempre depois do jantar conversamos um pouco até eu me despedir e me recolher com aquela minha reserva habitual. Não quero abusar, sei que ele trabalhou o dia inteiro. Eu sempre me sinto atrapalhando de alguma maneira. Inclusive estou pensando até em comprar uma casa longe dessa cidade por causa disso.

Nesse final de semana que passou eu almocei com eles. Descobri que Helena vem de um lar feliz, uma família estável e perfeita. Ela lê romances com finais felizes. Acho que é agradável isso, mas tão longe da realidade.

Hoje não consigo me imaginar com uma família, às vezes até penso nisso, ainda que só para concluir que talvez isso não seja para mim.

Quando observo os dois juntos de mãos dadas, concluo que eles se gostam. Roger realmente parece gostar dela. Ele é extremamente carinhoso. Helena tem sorte de ter um homem como ele.

Uma pena não podermos mandar no coração. Muitas vezes quando os observo, eu me pergunto porque não me apaixonei por ele quando tive oportunidade, antes mesmo de ele conhecer Helena?

Por que me apaixonei justo por Rashid? Um homem frio de sentimentos, o senhor “controle da situação”?

Por mais que não queira pensar nisso, não consigo evitar. Sinto um misto de culpa e desejo, e isso me desorienta. Limpo minhas lágrimas lutando contra meu fantasma que vive me assolando, principalmente quando me deito na cama para dormir.

Rashid

Estou em frente ao hospital no meu rosto uma expressão de determinação. Meu coração bate alucinado no peito. Parei de ser razão; agora sou todo sentimento. Preciso de Khadija, meu corpo clama por ela. Minha mente está sempre repleta de pensamentos com ela. Tudo que sufoquei antes agora extravasa de dentro de mim.

Entro no hospital seguido por meus homens. Paro de repente e faço-os esperar do lado de fora. Ando tão irritado que até a presença deles me irrita agora.

Caminho até a recepção, mas nem preciso abrir minha boca e perguntar por Smith, pois ele passa alguns metros de distância mim. Ele não me vê, está distraído. Eu o sigo e o espero sair do hospital. O alcanço no estacionamento, e o seguro.

—As-salam alaykom.

Ele para e me olha. Seu rosto se transforma em uma carranca e eu não gosto disso. Tremendo, eu engulo meu orgulho e digo:

—Estou à procura de Khadija. Preciso falar com ela. É um assunto importante. Por acaso você sabe onde ela está? Ela te procurou?

Ele se vira e começa a andar. Eu sinto o ódio me tomar. E o seguro pelo braço.

—Você poderia ser educado? Eu te fiz uma pergunta. E acredite quando digo que você não irá a lugar algum até me dar uma resposta.

— Acredita mesmo que eu irei dizer onde ela está? —Ele fala com o maxilar contraído de tensão. —Mesmo que eu soubesse, eu não te diria.

Eu o encaro com tanto ódio que, se encostasse nele, o mataria de tanta porrada.

—Como é que é?

—É isso que você ouviu. Esqueça Khadija. Você não a merece.

Sinto a culpa me rasgar por dentro ao lembrar do que fiz, do modo que a tratei e ainda pior quando propus que nos víssemos apenas para supri minha necessidade sexual por ela. Apesar de saber que é verdade, eu o olho com raiva.

— Só ela tem esse poder de decisão. Ela que decide se ela quer rejeitar o que tenho a lhe dizer. Eu preciso falar com ela.

—Ela não quer falar com você. Aliás, ela não quer ver tua cara.

Por um momento, tenho dificuldade de entender o que está acontecendo, enquanto as últimas palavras de Smith são processadas por meu cérebro.

Passei a mão pelos cabelos, nervoso.

—Então você sabe onde ela está? —Eu questiono, ofegante. Uma raiva crescente se forma no meu coração. Eu o olho como um homem das cavernas em resgate a sua fêmea.

—Sim. Esqueça Khadija. Ela não é as putas que vive saindo. — Ele diz, entredentes.

Eu me irrito quando vejo que o controle da situação escapou das minhas mãos. Allah, não me castigue dessa forma!

—Khara!—Rosno. —Eu sei!

Ele ri do meu desgosto.

—Sabe? Esqueça Khadija!

O incômodo me arranha por dentro. Eu fico tenso quando percebo o tamanho da intimidade entre eles.

—Você tem mantido contato com ela?

— Isso não te diz mais respeito. Ela me contou a forma como você se aproveitou de sua frágil condição. Por isso que eu digo, esqueça Khadija.

O ciúme me atravessa e passa como larva líquida nas minhas veias, meu coração se agita e depois se aperta dentro do meu peito. Dói como os infernos e quase consegue destruir o pouco que me resta da minha sanidade e lucidez.

Seus olhos me avaliam.

—Seu pai era um homem incrível, infelizmente você não herdou dele o caráter.

Eu me sinto quente, morrendo de vontade de acertar a cara dele. Enquanto ficamos nos encarando sem desviar o olhar um do outro eu tento recuperar minha paz de espírito.

Calma! Não perca a calma.

Ele sabe que estou irredutível em encontrá-la e tenho recursos suficientes para isso. Ele está buscando de argumentos para me fazer mudar de ideia.

—Sim, meu pai era uma pessoa incrível, muito melhor que eu. —Digo resignado.

—Ainda bem que reconhece. Bem, preciso ir antes que essa conversa me provoque uma indigestão. Estou no horário do meu almoço.

Eu estou quase ao ponto de fazer uma loucura. Contive-me ao máximo para não segurar esse merda pelo colarinho e força-lo a me dizer onde ela está.

Sim, eu estou mudado. Eu me tornei um cara passional e intenso, o cara frio que um dia tomou o lugar dele sumiu. Por fim consigo respirar e tiro os olhos dele.

Uma coisa me anima. Tudo indica que esse bint kalb (Filho da Puta) está tendo contato com ela. Vou colocar um dos meus homens na cola dele e descobrir onde ela está.

—Allah! Preciso reverter a situação e não me deixar contaminar com ciúmes. —Digo para mim mesmo.

Khadija

—Khadija, eu acabei de encontrar aquele idiota do Barak. Ele foi até o hospital atrás de mim em busca de informações sobre você. Eu acabei ficando nervoso com ele e dei a entender que nos falamos. Você precisa sair daqui, vi muita determinação naqueles olhos dos infernos. Arrume suas malas. Já falei com Helena. Você passará a gravidez na casa dela. Sinto muito por isso.

Eu fico imobilizada. Minha mente entrando num turbilhão diante da realidade esmagadora de Rashid tirar meu filho.

Meu coração se agita com pânico e minha garganta se fecha em angústia.

—Roger, acho melhor eu sair da cidade.

—Não! Você não conhece ninguém. É arriscado. Ele pode te achar. E você não passará sua gravidez longe da gente. Você ficará com Helena e sairá para fazer o pré-natal, direitinho, como nós combinamos.

Eu assinto, cheia de infelicidade, me culpando por ter me entregado para Rashid. Mas não estou perdida, achando que não encontrarei solução. Eu tenho amigos maravilhosos que estão me ajudando nesse momento difícil.

—Obrigada. —Eu digo, emocionada, as lágrimas surgindo em meus olhos.

Roger, com o rosto tristonho e os lábios apertados, me abraça. Eu choro nos braços dele. —Shiii. Está tudo bem. —Ele então me afasta e me olha. — Você é valente. Sairá dessa com a cabeça erguida.

—Sim, você está certo.

—É assim que se fala! Então, arrume tudo. Helena daqui a pouco estará aqui.

—Obrigada, não sei o que faria sem vocês.

—Você daria um jeito, como sempre deu. Mas você tem amigos que te amam.

Eu sorri. Sim, durante esses dias nossos laços de amizade se fortaleceram, eu só tinha a agradecer a Allah por isso.

Uma hora depois eu estou instalada na casa de Helena. Muito linda, grande e confortável. Fruto de seu trabalho como decoradora.

Ela então me apresenta o meu quarto, onde eu ficaria provisoriamente, até meu bebê nascer. Um quarto de hóspedes onde seu pais ficam, ou amigas quando a visitavam. Ele tem uma grande cama de casal e até uma televisão.

Ela, se mostra animada por eu estar ali, me ajuda a guardar minhas coisas no guarda-roupa muito falante. Deixando claro o quanto ela está feliz com a minha companhia.

Realmente não existe amigos melhores que os dois.

Depois que almoçamos juntas ela me diz com um sorriso amável.

—Fique à vontade, faça dessa casa como se fosse sua. Eu agora preciso trabalhar. Infelizmente, pois adoraria ficar com você para passarmos a tarde juntas. Volto lá pelas seis horas da noite. Roger vem aqui depois do trabalho, então, encomendamos uma pizza. O que acha?

Eu abro um sorriso.

—Perfeito. Obrigada!

—Nós gostamos muito de você. Você não está sozinha. Sempre poderá contar conosco.

Emocionada eu vou até ela e lhe dou um abraço apertado.

Pelo resto do dia tenho crises de choro. Tento a todo custo me controlar, indo ao banheiro, lavando meu rosto. Não consigo evitar, a saudade que tenho de Rashid dói meu coração. O futuro sem ele é cinza e a responsabilidade de criar meu filho sozinha é grande. Sou valente sim, mas às vezes sinto como se eu não fosse me dar conta.

Gostaria de poder cursar faculdade de direito, poder estudar novamente. Mas nem isso eu posso. Tenho medo de ser descoberta por Rashid e ele consiga, com sua influência, tirar meu bebê.

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