Cinco meses depois desde que Khadija desapareceu...
O trabalho tem sido meu refúgio nesses últimos meses. Tenho trabalhado como um condenado tentando tirar esse vazio dentro do meu peito.
Agora estou indo para um almoço de negócios importante com meu staff e dois franceses. Meu objetivo? Paris, onde pretendo fazer a construção de um novo hotel... estou negociando o preço do terreno com eles. O valor que eles querem está nas alturas. Entendo que a procura é muito maior que a oferta. Ainda mais num local tão privilegiado como aquele, quase em frente à Torre Eiffel.
Quando chego ao restaurante do meu hotel, sentamos e pedimos bebidas. Tiro meu paletó e fico bem à vontade. A conversa começa a fluir entre nós, mas nada deles baixarem o preço. Então tiro minhas cartas da manga, e faço a seguinte proposta: Eles terão cinco por cento de participação nos lucros do hotel. Mas os caras são jogo duro e querem cinquenta por cento.
Allah!
Eu nego com um forte não de cabeça. Irredutível.
—Lã! (Não!) —Estou tão nervoso que acabo usando meu árabe. —Dez por cento e não se fala mais nisso!
O garçom se aproxima, mas eu o ignoro e fico olhando para eles determinado, esperando a resposta. Ultimamente estou tão passional que se eles se recusarem, serei mal-educado de sair da mesa encerrando as negociações.
—L'affaire est conclue. (Negócio está fechado!)
Eu relaxo e dou um sorriso.
—Hasanan! Ótimo!
Depois de trocarmos apertos de mão. Escolhemos nossos pratos e almoçamos tranquilamente. Terminado o almoço, eu me levanto.
—C'est un plaisir de traiter avec vous. (Foi um prazer negociar com vocês) —Eu me inclino e me despeço.
Agora ficaria tudo por conta do meu pessoal que dariam o contrato previamente feito para eles assinarem, inclusive com os dez por cento que eu previ que eles aceitassem.
Eu deixo a presença deles e pego meu celular para checar as mensagens. Vejo uma mensagem de Kamal. Um dos meus seguranças que está responsável por saber o paradeiro de Khadija. Ele está percorrendo as cidades vizinhas à procura dela.
Meu coração dispara em antecipação.
A mensagem diz:
“Revirei a cidade, mas nada. Estou voltando para Miami. ”
Khara! Khara! Khara! Sinto um grande mal-estar, começo a suar frio juntamente com uma dor terrível no peito, meus olhos vão perdendo o foco e tudo some.
Quando abro meus olhos eu estou deitado na cama de um ambulatório ligado ao soro. Eu me sento. A enfermeira se aproxima imediatamente de mim.
—Que bom que voltou. Como se sente?
—Eu estou bem, agora. O que houve?
A senhorinha me encarou séria.
— Você desmaiou. E te trouxeram para cá. Eu tirei sua pressão. Ela estava alta. Você foi medicado. Por isso está se sentindo bem. Espere que irei chamá-lo.
—Onde estou?
—No hospital São Marcos. Agora deite-se que o médico irá falar com você.
Eu assinto e me deito novamente. Percebo que estou sem gravata e sem a camisa.
Allah! Eu realmente apaguei...
Ramon entra no quarto.
—O senhor está melhor?
— Estou. Eu apaguei mesmo!
Ele acena com um gesto de cabeça.
—Quer que eu chame sua irmã?
—Não! Não quero que chame ninguém. Foi só um mal-estar.
—Todos do hotel ficarão preocupados.
—Ligue agora para a recepção e diga que estou bem. Para espalharem a notícia que só foi um mal-estar. Senão daqui a pouco estão correndo a notícia que eu estou morrendo. E logo os abutres dos jornalistas estarão na entrada do hospital.
—Está certo! —Ele diz. —Eu ligarei agora.
— Eu tenho que esperar o médico ainda. Então, me espere lá fora
—Sim, senhor Barak.
Minutos depois um doutor de cabelos grisalhos entra.
—Boa tarde. —Ele me cumprimenta.
—Boa tarde.
Ele me olha sério, as sobrancelhas erguidas.
—Senhor Barak, o senhor chegou aqui com um caso grave de hipertensão. É um milagre que esteja bem. Você poderia ter tido um AVC ou um enfarto. Isso pode ser hereditário, ou alimentação ou provocado por estresses.
Eu respiro fundo.
—Eu ando meio estressado ultimamente.
—O senhor foi medicado, mas sugiro que passe por alguns exames. Não precisa ser agora. Mas faça um checkup. Estou te passando um remédio que o senhor tomará todos os dias pela manhã. É um controlador de pressão. O senhor não deve esquecer de tomá-los, pois não sabemos se é um caso isolado ou se voltará a acontecer.
—Está certo. Não vou esquecer. Eu posso ir agora?
—Sim, vou te dar alta. Só espere findar o soro com a medicação e poderá ir. Estou deixando a receita.
Minutos depois ele me entregou.
—Obrigado.
Ele me encara sério.
—Faça refeições leves e pouco sal. Evite refrigerantes, adoçantes dietéticos ou comidas dietéticas. Todos esses alimentos têm componentes que ajudam a elevar a pressão.
—Farei isso. Obrigado.
Ao término do soro, eu aperto o botão chamando a enfermeira. Ela surge minutos depois e tira a agulha do meu braço. Louco para ir para casa, eu me levanto.
—Tudo bem? —Ela pergunta quando estou em pé.
Eu dou um sorriso.
—Novo em folha.
—Vou chamar o homem que te trouxe aqui, por precaução. Aqui estão suas coisas. —Ela abre o armário e tira minha camisa, paletó e a gravata.
—Obrigada.
Quando ela sai do quarto, Ramon entra.
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