Em suas Mãos (Barak 2) romance Capítulo 67

Cinco meses depois desde que Khadija desapareceu...

O trabalho tem sido meu refúgio nesses últimos meses. Tenho trabalhado como um condenado tentando tirar esse vazio dentro do meu peito.

Agora estou indo para um almoço de negócios importante com meu staff e dois franceses. Meu objetivo? Paris, onde pretendo fazer a construção de um novo hotel... estou negociando o preço do terreno com eles. O valor que eles querem está nas alturas. Entendo que a procura é muito maior que a oferta. Ainda mais num local tão privilegiado como aquele, quase em frente à Torre Eiffel.

Quando chego ao restaurante do meu hotel, sentamos e pedimos bebidas. Tiro meu paletó e fico bem à vontade. A conversa começa a fluir entre nós, mas nada deles baixarem o preço. Então tiro minhas cartas da manga, e faço a seguinte proposta: Eles terão cinco por cento de participação nos lucros do hotel. Mas os caras são jogo duro e querem cinquenta por cento.

Allah!

Eu nego com um forte não de cabeça. Irredutível.

—Lã! (Não!) —Estou tão nervoso que acabo usando meu árabe. —Dez por cento e não se fala mais nisso!

O garçom se aproxima, mas eu o ignoro e fico olhando para eles determinado, esperando a resposta. Ultimamente estou tão passional que se eles se recusarem, serei mal-educado de sair da mesa encerrando as negociações.

—L'affaire est conclue. (Negócio está fechado!)

Eu relaxo e dou um sorriso.

—Hasanan! Ótimo!

Depois de trocarmos apertos de mão. Escolhemos nossos pratos e almoçamos tranquilamente. Terminado o almoço, eu me levanto.

—C'est un plaisir de traiter avec vous. (Foi um prazer negociar com vocês) —Eu me inclino e me despeço.

Agora ficaria tudo por conta do meu pessoal que dariam o contrato previamente feito para eles assinarem, inclusive com os dez por cento que eu previ que eles aceitassem.

Eu deixo a presença deles e pego meu celular para checar as mensagens. Vejo uma mensagem de Kamal. Um dos meus seguranças que está responsável por saber o paradeiro de Khadija. Ele está percorrendo as cidades vizinhas à procura dela.

Meu coração dispara em antecipação.

A mensagem diz:

“Revirei a cidade, mas nada. Estou voltando para Miami. ”

Khara! Khara! Khara! Sinto um grande mal-estar, começo a suar frio juntamente com uma dor terrível no peito, meus olhos vão perdendo o foco e tudo some.

Quando abro meus olhos eu estou deitado na cama de um ambulatório ligado ao soro. Eu me sento. A enfermeira se aproxima imediatamente de mim.

—Que bom que voltou. Como se sente?

—Eu estou bem, agora. O que houve?

A senhorinha me encarou séria.

— Você desmaiou. E te trouxeram para cá. Eu tirei sua pressão. Ela estava alta. Você foi medicado. Por isso está se sentindo bem. Espere que irei chamá-lo.

—Onde estou?

—No hospital São Marcos. Agora deite-se que o médico irá falar com você.

Eu assinto e me deito novamente. Percebo que estou sem gravata e sem a camisa.

Allah! Eu realmente apaguei...

Ramon entra no quarto.

—O senhor está melhor?

— Estou. Eu apaguei mesmo!

Ele acena com um gesto de cabeça.

—Quer que eu chame sua irmã?

—Não! Não quero que chame ninguém. Foi só um mal-estar.

—Todos do hotel ficarão preocupados.

—Ligue agora para a recepção e diga que estou bem. Para espalharem a notícia que só foi um mal-estar. Senão daqui a pouco estão correndo a notícia que eu estou morrendo. E logo os abutres dos jornalistas estarão na entrada do hospital.

—Está certo! —Ele diz. —Eu ligarei agora.

— Eu tenho que esperar o médico ainda. Então, me espere lá fora

—Sim, senhor Barak.

Minutos depois um doutor de cabelos grisalhos entra.

—Boa tarde. —Ele me cumprimenta.

—Boa tarde.

Ele me olha sério, as sobrancelhas erguidas.

—Senhor Barak, o senhor chegou aqui com um caso grave de hipertensão. É um milagre que esteja bem. Você poderia ter tido um AVC ou um enfarto. Isso pode ser hereditário, ou alimentação ou provocado por estresses.

Eu respiro fundo.

—Eu ando meio estressado ultimamente.

—O senhor foi medicado, mas sugiro que passe por alguns exames. Não precisa ser agora. Mas faça um checkup. Estou te passando um remédio que o senhor tomará todos os dias pela manhã. É um controlador de pressão. O senhor não deve esquecer de tomá-los, pois não sabemos se é um caso isolado ou se voltará a acontecer.

—Está certo. Não vou esquecer. Eu posso ir agora?

—Sim, vou te dar alta. Só espere findar o soro com a medicação e poderá ir. Estou deixando a receita.

Minutos depois ele me entregou.

—Obrigado.

Ele me encara sério.

—Faça refeições leves e pouco sal. Evite refrigerantes, adoçantes dietéticos ou comidas dietéticas. Todos esses alimentos têm componentes que ajudam a elevar a pressão.

—Farei isso. Obrigado.

Ao término do soro, eu aperto o botão chamando a enfermeira. Ela surge minutos depois e tira a agulha do meu braço. Louco para ir para casa, eu me levanto.

—Tudo bem? —Ela pergunta quando estou em pé.

Eu dou um sorriso.

—Novo em folha.

—Vou chamar o homem que te trouxe aqui, por precaução. Aqui estão suas coisas. —Ela abre o armário e tira minha camisa, paletó e a gravata.

—Obrigada.

Quando ela sai do quarto, Ramon entra.

—Podemos ir? —Ele pergunta preocupado.

—Sim, podemos. E meus homens? Eles vieram?

—Sim, quem o senhor acha que te carregou para cá? Eles estão lá fora aguardando o senhor.

—Está certo. —Dou um sorriso sem graça.

Caminhamos pelos corredores do hospital. Não via a hora de sair dali. Eu detesto esse cheiro, chega a me embrulhar o estômago. Graças a Allah meu pai morreu em casa, no conforto e com sua família ao lado dele.

Allah! Nada me preparou para o que veio a seguir...

Quando eu estou perto da recepção, vejo ao longe, uma garota de costas acompanhada com uma mulher saindo do hospital. Khadija? Eu paro de andar. Fico ali, mudo, imóvel, abalado pelas emoções que me assolam sem dó. Revendo como um filme tudo que vivi com ela. A nitidez que se perdeu com o tempo, como seu jeitinho lindo de andar, falar, se movimentar, agora se fazem presentes, me roubando o ar. Junto com ela, lembranças mais vívidas, saudosas, dolorosas.

Ramon me segura pelo braço pensando que eu estou me sentindo mal novamente.

—O senhor está bem?

Não respondo me sentindo confuso quando me dou conta que seu vestido é um pouco largo, como se a garota estivesse grávida. Meu coração dá um pulo no peito.

Estou me enganando?

É Khadija mesmo? Me pergunto, ainda observando a garota.

A graça que ela caminha, os cabelos negros ondulando sobre os ombros me dá um frio na barriga. Sim, é ela.

Então, ela vira seu rosto para a mulher que a acompanha, sorrindo então fala algo para ela.

—Chefe? Quer se sentar? —Ramon fala comigo.

É ela mesmo!

Khadija grávida!

Allah! Ela está carregando um filho meu!

—Ramon, é Khadija. —Eu digo com a voz embargada, ofegante.

Ele faz uma varredura no local com os olhos.

—Onde? —Segundos depois. —Já vi.

Eu gelo e esquento. Acho que terei um enfarto. Começo a passar mal e cambaleio.

—Chefe. — Ele me segura e me ajuda. Eu me sento num banco sem tirar meus olhos dela. Ela passa pelas portas de vidro, e som e de vista.

—Por Allah! Siga-a!

—Enfermeira! —Ele grita, quando me vê transpirando muito.

—Ramon, vá! Não se preocupe comigo. Não a perca de vista. Siga-a!

Ramon fica na dúvida em me deixar. Sei que estou branco como papel. A enfermeira se aproxima de mim. Só então ele sai.

Dois enfermeiros tentaram me erguer.

—Vem conosco.

Eu resisti.

—Não, eu não vou. Eu ficarei bem.

—O senhor acabou de sair do quarto, já deveria estar bem. Deixa o médico te examinar.

Eu respiro fundo e com toda a minha educação eu digo:

—Não.

Meus seguranças surgem, eu dou Graças a Allah!

—Chefe, o senhor está bem?

Eu me levanto.

—Estou. Vamos, me ajude a sair daqui.

Meus dois seguranças avançam e as enfermeiras abrem espaço. Eles me pegam pelo braço e eu me levanto. Logo estou andando normalmente até o estacionamento. Eu passo os olhos por tudo para ver se vejo Ramon ou Khadija.

Eles já se foram...

Entramos todos no carro. Eu o ocupo o banco de trás.

—Para casa?

—Não! Aguarde. Vamos a um outro local. Estou esperando uma ligação de Ramon.

Vinte minutos se arrastam como uma eternidade e finalmente Ramon liga.

—E então? —Digo cheio de ansiedade.

—O senhor está melhor?

—Allah! Estou. Mas vamos ao que interessa! E Khadija?

—Eu estou na Avenida SW27th. A garota que estava com ela estacionou dentro de uma casa de número 43, depois ela saiu e a senhorita Azis entrou.

Allah! Eu conheço o bairro. É um bairro relativamente bom. Tudo me indica que a mulher que a acompanha é a namorada do médico. Eles a acolheram depois da estupidez que fiz.

Solto ar com angústia.

—Ótimo! Fique aí até eu chegar. Não a perca de vista!

Passo o endereço para John, o segurança que está ao volante. Vinte minutos depois estou em frente à casa.

A observo atentamente. A arquitetura moderna, os jardins, não há carro na garagem. O melhor de tudo, sem cachorro e não tem portão.

Tudo está muito quieto...

Respiro fundo, com o coração agitado e me aproximo da porta. Toco a campainha.

Nada! Viro a maçaneta da porta. Ela se abre. Com o coração agitado entro no hall da casa.

Tudo está em silêncio. Entro na sala. Então a vejo. Deitada de lado no sofá, dormindo profundamente. Passo os olhos em cada detalhe delicado de seu rosto, o longo cílios e como eles descansam em suas, a forma como sua boca se abre, quando ela respira. Vejo sua barriga e me emociono. Uma sacudida de dor me corta quase me cegando em sua ferocidade.

Fico completamente arrasado por ela não ter me contado, mesmo sabendo que não tenho direito de me sentir assim, de cobrar nada dela.

Ofegante, me aproximo devagar. Tenho medo de assustá-la. Eu me agacho e passo a mão por seus cabelos tirando as mechas negras de sua testa e rosto.

—Khadija? Habibi...

Ela respira mais fundo e aos poucos abre os olhos.

Seu olhar encontra o meu e eu fico ainda mais agitado, meu coração bate forte, o nervosismo aumenta. Ela então se senta assustada. Age como se tivesse visto um fantasma.

—Rashid!

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Em suas Mãos (Barak 2)